O Rio de Janeiro foi abalado pela tragédia da Escola Municipal Tasso de Oliveira. O massacre ali ocorrido teve 12 vítimas fatais e 11 feridos. Somente crianças e adolescentes foram alvo do atirador, um ex-aluno daquela mesma unidade educacional. As feridas para a comunidade, a cidade e o Brasil são, certamente, bastante profundas. Aquilo que víamos apenas pela TV, acontecendo nos Estados Unidos, como relatou uma das testemunhas, aconteceu também por aqui.
Sofrimento, angústia, dor, desespero e medo eram a tônica dos noticiários. A televisão trouxe especialistas que ficaram debatendo os acontecimentos e pensando soluções, alternativas, falhas do sistema, motivos pelos quais alguém realizaria uma atrocidade como esta. Enquanto isso na internet, através do YouTube, começaram a surgir imagens do crime que permitiram ao Brasil perceber um pouco da tragédia em detalhes. A fuga desesperada dos alunos, os pais e familiares nos portões a gritar por seus parentes, a multidão querendo entrar para linchar o assassino, os policiais em ação...
Em Brasília, no meio de uma solenidade festiva, a presidente Dilma, consternada com os acontecimentos de Realengo se mostrou igualmente chocada e sensibilizada. Autoridades cariocas, policiais com experiência no combate a traficantes, bombeiros, médicos e enfermeiros que atenderam as vítimas do massacre ocorrido na Escola Tasso de Oliveira, todos se mostraram consternados com o que viram. Os 'brasileirinhos' que foram atacados mexeram com o sentimento de todos e nos alertaram para a fragilidade das escolas quanto a segurança.
A tragédia de Realengo trouxe a tona também a questão das pessoas que estão se mostrando isoladas, distantes, pouco participativas no contexto social. Sem amigos, o assassino vivia de casa para o trabalho e do trabalho para casa. Navegava pela internet e muito raramente se disponibilizava para um jogo de futebol com conhecidos do bairro. Aparentava ser pacífico. Era muito calado. Escolheu a escola para dar o seu recado... Será que este local lhe trazia memórias difíceis, duras? Sofrera algum tipo de violência por lá? Alguma restrição ou embaraço que permanecera como algo a ser resolvido desta forma brutal em um momento futuro?
Não se trata de justificar os atos de violência, os assassinatos cruéis, as crianças amedrontadas e encolhidas nas salas, entre as carteiras. Não há como justificar uma atrocidade como esta. A dor das famílias é do tamanho do mundo. O que procuramos é entender, se é que isso é possível em meio ao calor dos fatos e, ao mesmo tempo, diante de ato tão brutal.
O que é certo é que nas escolas procura-se olhar para todas as crianças. Há a preocupação com aqueles que atrapalham, que tem dificuldades específicas, que são indisciplinados. Os bons (ou maus) alunos quietos, aqueles que em momento algum causam qualquer transtorno ou dificuldade, são encarados como colaboradores prestativos do processo de ensino-aprendizagem, mesmo que por trás dessa atitude calma e controlada não estejam entendendo ou mesmo que na realidade suas cabeças voem por tantos outros universos...
É claro que também são percebidos, alvos da atenção de professores e funcionários, trabalhados para que participem das aulas e atividades, inseridos no processo de ensino e aprendizagem, mas muitas vezes a interação com eles é menor do que deveria ser. A atenção a eles dispensada não é a mesma que outros alunos pedem mais claramente. E por trás de seu silêncio podem repousar problemas de relacionamento, interação social, questões familiares, emocionais, íntimos, psicológicos... É claro que não é uma regra, e na maioria dos casos este silêncio é uma resposta tranquila e saudável, própria da criança ou adolescente, característica daquela pessoa e de sua família.
Mas, para que estas crianças e adolescentes se sintam acolhidos e problemas sejam evitados, é preciso realmente integrá-las as atividades, fazer com que se sintam queridas, tanto nas escolas quanto nas famílias. Estabelecer diálogo, possibilidades de interação, de contato com as pessoas, com o mundo!
Não é possível a nenhum de nós sentir a dor e o sofrimento das famílias das crianças e adolescentes atingidos por este ato bárbaro. O que temos que fazer é prestar nossa solidariedade e, ao mesmo tempo, pensar em alternativas que permitam as escolas ser aquilo que realmente são, ou seja, lugares onde se promove uma cultura de paz, de crescimento, de compreensão, de estímulo ao conhecimento, de interação saudável, de vida!
Estamos de luto, todos nós, brasileiros, pelas crianças e adolescentes vitimadas em Realengo, no Rio de Janeiro!
Por João Luís de Almeida Machado
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