quinta-feira, 28 de julho de 2011

Escola ou fábrica?

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Escola ou fábrica?: "


A grande tarefa do sujeito que pensa certo não é transferir, depositar, oferecer, doar ao outro, tomado como paciente do seu pensar, a inteligibilidade das coisas, dos fatos, dos conceitos. A tarefa coerente do educador que pensa certo é, exercendo como ser humano a irrecusável prática de inteligir, desafiar o educando com quem se comunica, a quem se comunica, produzir sua compreensão do que vem sendo comunicado. (Paulo Freire, em seu livro A Pedagogia da Autonomia).
O que queremos de uma escola? Que seja simplesmente o lugar onde as crianças, adolescentes e jovens obtenham seus diplomas? Que seja a base para que se preparem para o cada vez mais disputado mercado de trabalho? Que obtenham a neste espaço a disciplina necessária para a vida? Que sejam orientados quanto aos valores sociais e introduzidos de forma adequada ao mundo? Que aprendam os conhecimentos considerados válidos pela comunidade? Que se tornem cidadãos?


Mas que valores são estes? Que mercado é este? Qual é a disciplina que queremos para os estudantes? Quais conhecimentos são realmente válidos? Os diplomas, além de uma certificação, o que significam ou devem significar? Que tipo de cidadão estão formando as escolas?


Todos estes questionamentos transparecem na inteligente charge do italiano Frato (Francesco Tonucci), trazendo a tona alguns dilemas e contradições que se evidenciam nos tempos em que vivemos quando a escola está tão atrelada ao sistema econômico neoliberal e acaba sendo orientada por seus valores, necessidades, urgências...


Entre todas as questões que deveriam nos orientar quanto a escola que buscamos talvez as primeiras tenham que ser as mais singelas e inocentes: A escola é um lugar de felicidade? Os estudantes se sentem bem em estar ali? O que aprendem é significativo para estes alunos?


Pode parecer idealista demais num mundo onde a razão deve prevalecer sempre, mas como estão saindo as crianças da escola? São autônomas, tem opinião própria, demonstram criatividade, querem conhecer mais, desejam explorar o mundo? Estão estimuladas por outros fatores além do dinheiro? Olham para os lados e percebem os outros, desejando ajudar a quem precisa? Tem 'fome' de cultura? São politica e socialmente engajadas por causas como a defesa do meio-ambiente, a luta contra a pobreza, uma melhor educação ou saúde pública?


Os estudantes quando saem da escola devem querer mudar o mundo, revolucionar, fazer e acontecer... Senão o que temos nas escolas são linhas de produção em que o produto final é 'quadradinho', ou seja, similar a todos os demais em todos os quesitos, alguns com opcionais que fazem com que pareçam mais equipados, mas no fundo, sem que tenham presença, personalidade e autonomia.


Fábricas não são ruins se seu propósito é a produção de bens, recursos materiais e produtos que abasteçam a necessidade humana em seu cotidiano. Escolas não são como fábricas. Seu trabalho primordial é auxiliar na formação de crianças, adolescentes, jovens e adultos, para que conheçam o mundo ao seu redor, se posicionem em relação a este entorno, trabalhem de forma digna e consciente em prol de melhorias, atuem de modo fraterno e digno, sejam honestos, éticos e cidadãos que agem em prol da coletividade e não apenas de seus próprios interesses.


Se os questionamentos persistem, como na ilustração de Frato e, antes dele, com Paulo Freire no livro 'Cuidado, Escola!', significa que as dúvidas persistem e que, certamente, em algum lugar do mundo ainda há fábricas no lugar de escolas... Até quando será assim?


Por João Luís de Almeida Machado

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