A melhor educação do mundo e seus segredos...:
O sistema de ensino da Finlândia, país nórdico europeu que até 30 anos atrás possuía educação equivalente a do Brasil tem obtido sido avaliado como um dos melhores e mais consistentes de todo o mundo. E com base em que critérios foi possível definir que o sistema educacional finlandês pode ser assim considerado?
Partiu-se do mais básico entre todos os elementos de análise disponíveis: os resultados internacionais obtidos pelos alunos daquela nação no PISA (Programa de Avaliação Internacional de estudantes), comparativamente ao de todos os outros participantes (milhares de estudantes representando cerca de 60 nações no total, desenvolvidas ou emergentes, de todos os continentes) para que, pautando-se nos resultados obtidos nas provas de matemática, ciências e leitura – se constatasse a superioridade finlandesa.
Nos últimos anos os finlandeses ficaram sempre entre os 3 primeiros colocados em Ciências e Matemática e Leitura. Só para que possamos comparar, o Brasil ficou classifica-se normalmente entre os últimos 10 colocados do ranking. Estamos equiparados a nações emergentes africanas e da América Central! Vale destacar que a distância no que se refere aos resultados obtidos entre os primeiros colocados e os últimos (situação que caracteriza a Finlândia e o Brasil nessas avaliações) é bastante acentuada, portanto a vitória dos finlandeses nessa corrida educacional se dá com praticamente uma volta na frente dos brasileiros!
E qual foi a fórmula mágica utilizada no sistema educacional finlandês para que seus estudantes obtenham tanto destaque no PISA? O que lhes garantiu a qualidade de ensino tão sonhada por tantos países e educadores?
Provavelmente alguma tecnologia tão distante de nossa realidade que só a teremos por volta de 2020... Quem sabe livros didáticos revolucionários em seu método e abordagem que realizem verdadeira lavagem cerebral nos alunos e os transformem em gênios... Talvez os professores de lá sejam superdotados intelectualmente e não seja compatível uma comparação com os docentes brasileiros...
Se você realmente chegou a pensar em alguma possibilidade fantástica, típica dos filmes de ficção científica ou de fantasia, fique tranqüilo, não há nenhuma revolução tecnológica em curso na Finlândia. Eles não inventaram a pílula do pleno conhecimento e nem, tampouco, começaram a inserir chips com enciclopédias completas na cabeça dos estudantes de lá...
As mudanças implementadas nas escolas locais, realizadas ao longo das últimas três décadas - e que coincidem com o surgimento de uma nova, dinâmica e próspera economia na Finlândia (que ocasionaram, por exemplo, o surgimento e consolidação da Nókia como uma das mais importantes empresas de alta tecnologia do mundo) – são bastante simples e reveladoras de que o pote, no final do arco-íris, é acessível a qualquer nação... Vamos então a elas:
- Em primeiro lugar, o investimento em educação por parte do governo local é bastante alto, girando em aplicações equivalentes a 6,1% do Produto Interno Bruto (PIB). No Brasil já atingimos um montante aproximado de 4% do PIB e estamos avançando em direção a políticas públicas que garantam mais dinheiro para nossas escolas. Nosso problema reside no fato de que mesmo aumentando progressivamente os investimentos em educação, convivemos com uma corrupção endêmica que não permite a chegada dos recursos investidos nas escolas de forma integral...
- Outra particularidade do sistema de ensino finlandês é a valorização dos profissionais da educação. Enquanto naquele país o salário médio dos professores é de quase 32 mil dólares anuais, no Brasil os educadores recebem o equivalente a 12 mil dólares por ano. É necessário salientar, porém, que os rendimentos anuais de um professor brasileiro são 56% mais elevados do que a renda brasileira. Na Finlândia os professores ganham 12% a mais do que a média nacional. Salários e condições de trabalho melhores ajudam, mas não garantem qualidade superior de ensino conforme pesquisas recentes comprovam. Além disso, para garantir maiores rendimentos, os professores devem comprovar a eficiência do seu trabalho através das avaliações nacionais e internacionais, da assiduidade e pontualidade, dos cursos novos de atualização de conhecimentos...
- A especialização e o aprofundamento nos estudos é também marca registrada do sucesso obtido nas escolas finlandesas. Naquele país o mestrado é considerado pré-requisito obrigatório para que um profissional do ensino entre em sala de aula no ensino fundamental. Portanto, os índices nacionais finlandeses revelam que 100% dos professores das turmas de 1º a 9º anos do ensino fundamental têm o mestrado concluído! No Brasil calcula-se que esse índice chegue a 2% do total de professores que atendem a essa mesma faixa etária... Se não bastasse isso, os educadores brasileiros lêem muito pouco e não estão habituados a ir ao cinema, freqüentar teatros, visitar exposições, navegar regularmente por portais especializados e de notícias, ler jornais e revistas...
- Entre a Finlândia e o Brasil há também uma significativa diferença no que se refere à carga horária dos alunos nas escolas. Enquanto lá as crianças e adolescentes têm quase mil horas de aula anuais (para ser mais exato são 995 horas), no Brasil a exigência legal é de 800 horas (ou 200 dias letivos de 4 horas de aula). Essa questão não se refere só a quantidade de horas que um aluno tem ou deixa de ter, mas também se refere a forma como esses encontros são utilizados... Nesse sentido cabe preocupar-se com o planejamento, os materiais utilizados, as técnicas e métodos de trabalho empregados, as tarefas e avaliações, leituras paralelas ao curso... Num país como o nosso, em que na maioria das vezes os planos de ensino são copiados de um ano para o outro, somente se alterando algumas datas, sem a revisão das ações, estratégias, recursos e trabalhos aplicados, cabe maior atenção a forma como as horas de aula estão sendo usadas e, é claro, uma planificação para o aumento gradual das cargas anuais de trabalho escolar.
- Outra preocupação é a quantidade de alunos por sala de aula. Enquanto os finlandeses têm, em média, 16 alunos por turma, no Brasil a média é de 23... Mas sabemos muito bem que em muitas escolas públicas nacionais há salas com 35, 40 ou até mais alunos, situação que torna muito difícil o trabalho do professor...
- Currículos variados e flexíveis também colaboram para que as escolas da Finlândia sejam melhores e mais interessantes para os alunos. Lá é obrigatório aprender duas línguas estrangeiras e há aulas de ecologia, ética, música, artes...
- O que se ensina em todas as escolas públicas segue o mesmo padrão em todo o país. Isso evita discrepâncias e diferenças muito acentuadas nos resultados de diferentes regiões.
- As escolas da Finlândia são constantemente visitadas por coordenadores e supervisores de ensino e, a partir dessas visitas, avaliadas quanto ao seu desempenho. Existem metas a serem atingidas e a obtenção (ou não) dos resultados esperados é atribuição de todos os membros do corpo docente. Os resultados são compartilhados pela direção com os professores e há um rigoroso exame por parte dos docentes quanto aos motivos que levaram a escola a estar em boa ou má colocação no ranking escolar nacional. Os professores se consideram (e são considerados pela população) como responsáveis pela qualidade de ensino do país e não fogem dessa importante atribuição tentando atribuir a outros os motivos do fracasso escolar de seus alunos.
- Há aulas de reforço escolar para os estudantes que tem rendimento inferior as médias esperadas nacionalmente. A preocupação existe no sentido de dar alternativas reais de melhoria e recuperação para que a auto-estima do aluno não seja prejudicada e para que, dessa forma, ele não fique atrasado em relação aos demais.
Pensando nisso tudo, concluo acreditando que realmente é possível também no Brasil, a despeito das diferenças que existam entre os dois países, atingir a tão sonhada educação de qualidade. Tudo começa e termina na sala de aula. O professor é a peça chave do processo. A gestão escolar é o elemento primordial para que tudo aconteça devidamente. O que temos que fazer então é trabalhar e colocar essas idéias em prática. Mãos à obra!
Obs. É claro que a Finlândia é um país que possui uma população muito menor que a do Brasil e, sendo assim, consequentemente, se torna um pouco mais fácil aplicar as ideias e propostas acima apresentadas para todo o contingente de alunos. Ainda assim, o que destaco é o fato das ações serem mais simples e pontuais do que a princípio podemos imaginar, tendo certamente custos agregados, mas menos elevados do que poderíamos supor. Precisamos de vontade política e cobrança por parte da sociedade para que isso realmente se efetive.
Por João Luís de Almeida Machado
Membro da Academia Caçapavense de Letras
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