“Escola deve ensinar alunos a enfrentar riscos”, diz pesquisador:
Priscilla Borges, iG Brasília
Professor da Universidade de Harvard, Fernando Reimers teme que a escola atual prepare jovens para passado e não futuro“Educar para quê?” A pergunta – apesar de básica, muitas vezes esquecida – deveria ser feita para nortear as decisões sobre o que deve ser ensinado em sala de aula. Essa é a opinião de Fernando Reimers, diretor do Programa de Política Educacional Internacional da Universidade de Harvard e professor da Educação Internacional da Fundação Ford.
“Para a vida”, responde de forma enfática o mesmo especialista em políticas educacionais que participou nesta quarta-feira, dia 14, de debate no Congresso Internacional “Educação: uma agenda urgente”, promovido pela organização Todos pela Educação, em Brasília. Isso significa “perceber que o contexto dos estudantes muda ao longo do tempo e rápido e que as metas mais importantes em educação são de longo prazo e difíceis de medir”, segundo ele.
O professor critica a falta de exposição dos estudantes a problemas reais e de estímulo para que eles usem a imaginação para criar alternativas para eles. O especialista, que participou de debate para discutir expectativas de aprendizagem, afirma que o ensino ainda prioriza o desenvolvimento de habilidades individuais em detrimento do trabalho em equipe, a capacidade de compreensão e não de expressão e transformação.
“Corremos o risco de preparar jovens para uma sociedade do passado e não de futuro. O mais importante que a escola pode ensinar às pessoas é enfrentar riscos. Nós só preparamos os alunos para o sucesso. Precisamos prepará-los para aprender com o fracasso e com os erros”, defende. Reimers acredita que a criatividade e a imaginação precisam estar no centro do processo de aprendizagem para que os jovens consigam lidar com as mudanças da sociedade.
Adepto da filosofia de menos teoria e mais prática, o pesquisador de Harvard falou a uma platéia de mais de 100 educadores brasileiros sobre a necessidade de diminuir a “contemplação” nas aulas. “A educação, em geral, contempla muito a realidade, fala e teoriza sobre ela, mas tem pouca ênfase pragmática. A capacidade de utilizar o conhecimento para criar e transformar a sociedade, como defendia Anísio Teixeira há quase 70 anos, deve ser uma premissa da escola”, diz.
De acordo com o professor, os estudantes precisam ser formados não só para aprender conteúdos, mas também desenvolver habilidades “cívicas e cidadãs”. “Eles precisam ser agentes de mudança da sociedade em que vivem, nacional e global. Para isso, uma educação baseada em projetos pode ser uma boa saída. Há muitas experiências sendo desenvolvidas por aí e é preciso criar um sistema para compartilhá-las”, pondera.
Avanços no Brasil
Estudioso da situação educacional brasileira, Reimers acredita que o País evoluiu nos últimos 15 anos. Ele atribui as mudanças à percepção de que a educação é um problema de toda a sociedade, às tentativas de avaliar resultados educacionais e a profissionalização da educação. Na opinião do professor, é preciso, agora, dar mais atenção à formação dos professores e desenvolver um currículo escolar de qualidade.
A definição dessas expectativas sobre o que deve ser ensinado nas salas de aulas do País, segundo Reimers, não deve ser feita a partir dos indicadores de qualidade apenas. “O Brasil fez um esforço para desenvolver instrumentos de avaliação de qualidade e construir uma cultura de transparência, mas é bom lembrar que há coisas mais fáceis de avaliar em sistemas do que outras. Esse tipo de prova nacional costuma olhar um baixo nível de habilidades cognitivas em algumas áreas e não todas. É preciso conhecer as limitações dos sistemas”, afirma.
Ele defende metas mais “ambiciosas” para a educação, em que as competências cognitivas sejam desenvolvidas nas crianças e adolescentes junto com habilidades científicas, tecnológicas e sociais. “Falta também uma concepção de que os alunos podem saber mais do que os professores em certos temas. É preciso criarmos uma rede onde os alunos possam ensinar a si mesmos e ensinar ao professor. Isso é parte da realidade contemporânea”, diz.
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