Calar é permitir, denunciar é combater:
“Não se trata de um tema para punir o homem, mas para envolvê-lo, porque a questão afeta homens e mulheres e pode destruir a família”.
Luis Felipe Miranda
No começo do ano, especificamente no Dia da Mulher, escrevi que tenho orgulho porque entre os posts mais buscados no @avidaquer estão textos sobre Lei Maria da Penha e outros direitos da mulher pelos quais toda sociedade deve lutar sempre. Comentava que, como conquistamos espaço e direitos neste século XXI, meu desejo era de que demonstremos no cotidiano que as lições da luta registrada em 08/03/1911 de valorizar a vida, criar oportunidades para todos e que unir forças para construir um futuro mais justo e digno perdurem em nossos corações e mentes. E que, neste caminho, não deixemos de lado o amor e a capacidade humana (e aqui fica minha crítica a quem enaltace como femininos os sentimentos de amor de que o ser humano é capaz) de amar, acolher e entender o próximo.
Mas nem todas as mulheres vivem esta realidade. Dados divulgados em julho, levantados na pesquisa Instituto Avon / Ipsos intitulada Percepções sobre a Violência Doméstica contra a Mulher no Brasil dão conta de que seis em cada 10 brasileiros conhecem alguma mulher que foi vítima de violência doméstica. O estudo, que ouviu 1 800 brasileiros de todo o país, é o segundo de âmbito nacional realizado pelo Instituto Avon – o primeiro foi em 2009, em parceria com o Ibope – e o mais valioso pela qualidade do seu levantamento. Pasmem!, mas foi a primeira pesquisa – que pode ser lida aqui – 100% reservada, na qual as pessoas tinham liberdade de responder de forma privada.
Estive no evento de lançamento da pesquisa e ouvi tanto a socióloga Fátima Jordão, conselheira do Instituto Patrícia Galvão, quanto a presidente mundial da Avon, Andrea Jung, que traziam os dados e, felizmente, uma sugestão de luta contra esta triste realidade silenciosa de muitas famílias. Jung lançava naquele dia uma campanha que pretendia auxiliar as vítimas de violência, colocando seu “exército” de vendedoras como um canal confiável para desabafar. Sem tirar o valor de serviços como o número 180, uma alternativa de orientação da Secretaria de Políticas para as Mulheres (SPM), a Avon reforça o valor de contar com uma pessoa amiga para desabafar e ajudar.
Concordo plenamente. É com solidariedade humana direta, daquela que demonstramos no cotidiano com nossa comunidade mais próxima (que hoje é a vizinhança e ao mesmo tempo o “quintal virtual”) que podemos ajudar de fato as famílias que sofrem com a violência doméstica. A sociologa Lia Diskin, que representava no evento a Associação Palas Athena, dizia que
“Leis e instrumentos de repressão não farão a mudança cultural tão necessária para que a mulher que sofre violência doméstica seja respeitada. Só a compreensão da sociedade, de que esse é um drama caleidoscópico, de muitas facetas, fará isso”.
Na ocasião eu também pude conhecer (embora não conversar, por conta do assédio imenso de fãs) pessoalmente o ícone desta luta no Brasil: a cearense Maria da Penha Maia Fernandes. É grande a evolução desde que começamos a falar da Lei Maria da Penha (de 07/08/2006), hoje 94% dos brasileiros já conhecem a lei, mas ainda há trabalho pela frente, pois apenas 13% sabem o seu conteúdo e as pessoas ainda não introjetaram a lei. E como a tarefa continua? Diversificar as formas de divulgação da lei é uma das metas de todos os envolvidos com o enfrentamento dessa questão que, como lembrou a ministra Iriny Lopes (outra presença importante do evento) e que perdura por milênios:
“Temos uma legislação moderna, exclusiva para a mulher, que desnaturaliza a violência doméstica e isso faz uma enorme diferença. Porque dentro do tratamento universalizado da lei comum, a mulher não conseguiu obter respeito”.
Neste Dia Internacional de Luta Contra a Violência à Mulher eu relembro o tema, mas chamando todos para o que podemos fazer e está realmente ao nosso alcance: conhecer os pontos mais importantes da lei e compartilhar com quem está próximo.
Que tal começarmos hoje?
A @meiroca lançou uma blogagem coletiva para apoiar a data. Para saber mais, clique aqui.
P.S. Posts sobre violência doméstica aqui no blog nos últimos anos:
- Palmada não resolve e não há castigo corporal tolerável
- E o sociólogo não me convenceu do valor da lei da palmada #rodaviva
- Um tapinha não dói
- Lei Maria da Penha
- Delegacia de Mulheres (relato da minha experiência fazendo uma denúncia lá)
- Agressão verbal é uma forma de violência psicológica
- Violência familiar – A paz começa dentro de casa
- Infância rima com Paz – Blogagem coletiva sobre violência infantil
- A militância por um mundo mais justo para todos
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