EUA: Regras ditam relação entre professores e alunos na internet:
Diante de escândalos e denúncias envolvendo professores que fazem mau uso das mídias sociais, os distritos escolares americanos estão impondo novas diretrizes rigorosas que proíbem conversas particulares entre professores e seus alunos em telefones celulares e plataformas online como o Facebook e o Twitter.
As políticas foram criadas para que os educadores possam lidar com uma ampla gama de novos problemas. Alguns professores criaram maus exemplos postando comentários ou fotografias chocantes envolvendo sexo ou álcool em sites de mídia social. Alguns tiveram contatos impróprios com alunos. Em casos extremos, professores foram presos por abuso sexual e acusações de agressão depois de ter relações com alunos que, segundo oficiais, começaram a comunicação eletrônica.
Mas as diretrizes mais rigorosas estão sendo recebidas com uma certa resistência por alguns professores, devido à importância crescente da tecnologia como ferramenta de ensino e das mídias sociais para interagir com os alunos. No Missouri, o sindicato dos professores citou a liberdade de expressão e convenceu um juiz que uma nova lei estadual que impunha a proibição na comunicação eletrônica entre professores e alunos era inconstitucional. Legisladores não chegaram a aprovar a lei, mas instruíram os conselhos escolares a desenvolverem suas próprias políticas para as mídias sociais a partir do dia 1° de março.
Os administradores escolares reconhecem que a grande maioria dos professores usam as mídias sociais de forma adequada. Mas eles também dizem que estão encontrando cada vez mais razões para limitar o contato entre professores e alunos. Conselhos escolares na Califórnia, Flórida, Georgia, Illinois, Maryland, Michigan, Missouri, Nova Jersey, Ohio, Pensilvânia, Texas e Virgínia atualizaram ou estão para rever as suas políticas para a comunicação digital neste outono.
“Minha preocupação é que a tecnologia torna muito fácil para os professores passarem dos limites quando se trata de relações com os alunos”, disse Charol Shakeshaft, presidente do Departamento de Liderança Educacional na Universidade Commonwealth na Virgínia, que estuda a má conduta sexual por parte dos professores já faz 15 anos .”Eu sou a favor de utilizarmos esta tecnologia. Alguns distritos escolares tentaram proibi-la inteiramente. Eu sou contra isso. Mas eu acho que deve haver um meio termo que permite aos professores tirar proveito da tecnologia eletrônica e ao mesmo tempo manter as crianças seguras.”
Lewis Holloway, o superintendente das escolas de Statesboro, Geórgia, impôs uma nova política que proíbe este tipo de comunicação eletrônica privada depois de saber que o Facebook e mensagens de texto ajudaram a alimentar uma relação entre uma professora de inglês da oitava série e seu aluno de 14 anos de idade. A professora foi presa neste verão sob a acusação de abuso sexual e estupro – ela permanece presa, aguardando julgamento.
“Pode não parecer nada de início e se tornar mais intenso rapidamente”, disse Holloway, diretor de escola há 38 anos. “Nossos alunos são vulneráveis através destes novos meios, e nós temos que encontrar novas maneiras de protegê-los.”
Holloway disse que ficou sabendo de outros casos de abusos sexuais quando fez uma consulta sobre as políticas de mídias socias com escolas de todo o país. Embora não exista uma base de dados nacional sobre a má conduta sexual por parte de professores, apenas neste ano dezenas de casos apareceram nos jornais de todo o país.
Em Illinois, um ex-professor de 56 anos foi considerado culpado em setembro por abuso sexual e agressão envolvendo uma estudante de 17 anos de idade, com quem trocou mais de 700 mensagens de texto. em Sacramento, o diretor musical da banda da escola se declarou culpado de má conduta sexual decorrente da sua relação com uma estudante de 16 anos de idade – sua página no Facebook tinha mais de 1.200 mensagens privadas trocadas com ela. Na Pensilvânia, o diretor do departamento de educação física se declarou culpado em novembro das acusações de tentativa de corrupção de um menor, ele foi preso depois de oferecer a um ex-estudante do sexo masculino presentes em troca de sexo.
Administradores escolares também estão preocupados com professores que revelam muita informação sobre suas vidas particulares na rede. Como parte de uma política adotada no mês passado em Muskegon, Michigan, funcionários de escolas públicas foram avisados que poderiam enfrentar ações disciplinares caso coloquem fotos de si mesmos usando álcool ou drogas em sites de mídia social.
“Nós queremos adotar uma política que incentive a interação entre nossos alunos, pais e professores”, disse Jon Felske, superintendente das escolas públicas de Muskegon. “Essa é a maneira com a qual as crianças de hoje aprendem e interagem. Mas queremos que separem o trabalho de suas vidas particulares”.
A Cidade de Nova York, o maior distrito escolar dos Estados Unidos, tem trabalhado em uma política para uso de mídias sociais há meses e espera tomar um posicionamento até a primavera. Nesse meio tempo, controvérsias sobre os sites de relacionamento aparecem regularmente, como uma que aconteceu no início deste mês com uma diretora de uma escola no Bronx, cuja página do Facebook continha uma foto ousada que foi colada nos corredores de sua escola.
Richard J. Condon, comissário especial de investigações para as escolas da cidade de Nova York, disse que houve um aumento considerável no número de queixas de comunicações impróprias envolvendo o Facebook nos últimos anos – 85 queixas de outubro de 2010 a setembro de 2011, comparadas com apenas oito de setembro de 2008 a outubro de 2009.
O que preocupa alguns educadores é que políticas excessivamente restritivas possam remover uma maneira eficaz de envolver os alunos que utilizam regularmente essas plataformas para se comunicar.
“Acho que a razão pela qual eu utilizo as redes sociais é a mesma razão pela qual todo mundo as utilizam: elas funcionam”, disse Jennifer Pust, chefe do departamento de inglês da Escola de Ensino Médio de Santa Monica, onde uma política que não incentiva a relação entre os professores e alunos afeta tanto os relacionamentos on-line quanto off-line. “Estou contente que não seja mais tão restritivo. Eu entendo que precisamos manter as crianças seguras. Acho que seria mais saudável se ensinássemos os estudantes a utilizar essas ferramentas e a navegar neste mundo online ao invés de bloqueá-lo e fingir que ele não existe.”
Nicholas Provenzano, 32, é professor de inglês há 10 anos na escola de Ensino Médio Grosse Point, em Michigan. Ele reconheceu que “todos nós que utilizamos as redes sociais de uma maneira positiva com as crianças temos que dar 15 passos para trás sempre que há um incidente.” Mas ele disse que os benefícios são muitos e que ele se comunica regularmente com seus alunos em um fórum aberto, principalmente através do Twitter, respondendo às suas perguntas sobre lições de casa.
Ele também disse que as redes sociais permitem que colabore em projetos em outras partes do país. O Facebook oferece orientação para os professores e recomenda que se comuniquem em uma página pública. Alguns professores, no entanto, favorecem uma barreira bem definida. Em Dayton, Ohio, onde a diretoria da escola impôs uma política para a mídia social neste outono, limitando professores a troca pública de ensino na rede, o líder do sindicato dos professores acolheu as regras. “Eu vejo isso como uma proteção para os professores”, disse David A. Romick, presidente da Associação de Educação de Dayton. “Um relacionamento que começa com a troca de mensagens ou até mesmo uma amizade não profissional, já está condenado antes mesmo de começar.”
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