terça-feira, 10 de janeiro de 2012

UFF cria primeiro bacharelado em segurança pública do Brasil

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UFF cria primeiro bacharelado em segurança pública do Brasil:

RIO - Daqui a quatro anos, uma turma de formandos da Universidade Federal Fluminense (UFF) receberá um diploma inédito no Brasil: bacharel em Segurança Pública. O curso foi criado no fim do ano passado, e suas 60 vagas estão disponíveis para os estudantes que fizeram o Enem no Sistema de Seleção Unificada (Sisu), do Ministério da Educação, cujas inscrições começaram ontem.Mas, antes mesmo do início das aulas, a nova graduação divide opiniões. O curso foi criado com o objetivo de formar quadros para atuar no planejamento, formulação e execução de políticas de segurança pública, atualmente a cargo de policiais civis, militares e federais.

Para o idealizador do bacharelado, o professor Roberto Kant de Lima, nem os currículos das academias de polícia nem das faculdades de Direito conseguem oferecer a formação necessária. Na sua opinião, essas instituições preparam os profissionais para atuar não na "perspectiva da sociedade, mas do aparelho de repressão do Estado".

— Nas faculdades de direito, não se discute segurança pública, mas, sim, como aplicar as leis existentes. As academias militares, por exemplo, ensinam a ser militar, e não a ser policial. A lógica é sempre a da repressão — afirma ele. — Pretendemos intervir nesse mercado. A ideia é criar uma alternativa para os órgãos e institutos de segurança, públicos e privados, para que possam contratar pessoas com uma formação que não seja pensada na associação entre segurança pública e polícia.

O curso está vinculado à Faculdade de Direito da UFF e será ministrado em parceria com o Instituto de Estudos Comparados em Administração Institucional de Conflitos (Ineac). Em instituições privadas, existem cursos superiores de tecnologia na área, com duração de dois a três anos, mas esse é o primeiro bacharelado.

Alunos terão aula de mediação de conflitos

Os futuros estudantes do curso terão aulas de administração e mediação de conflitos, teoria do direito, sociologia e antropologia, além de dois estágios obrigatórios. Para Kant de Lima, essas experiências práticas serão importantes para apresentar os novos profissionais ao mercado.

O coronel da polícia militar Robson Rodrigues, ex-comandante das UPPs e mestre em antropologia, elogia a proposta. E acredita que egressos do curso podem, no futuro, entrar para a corporação.

— Entender que a segurança pública é de natureza civil é muito importante, pois ela não fica mais fechada dentro de quartéis e delegacias. Avança no nosso processo de consolidação democrática. É uma boa notícia não só para as polícias e secretarias, mas para a sociedade como um todo. A própria PM tenderá a aproveitar quadros de graduações diversificadas, e essa pode entrar no rol das exigidas — disse Rodrigues.

O professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e diretor do Núcleo de Estudos em Cidadania, Conflito e Violência Urbana da instituição (Necvu), Michel Misse, acredita que o curso é uma experiência pioneira que pode ajudar na criação de outros pelo país:

— Será um curso de alto nível e deve suprir uma lacuna importante nesta área. Creio que, a partir dessa iniciativa pioneira, vamos assistir a uma proliferação de outros cursos com esse mesmo perfil por todo o Brasil. 

Já a antropóloga Alba Zaluar, coordenadora do Núcleo de Pesquisas das Violências (Nupevi), na Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj), questiona a efetividade da proposta.

— Se o curso fosse obrigatório para se tornar um policial, seria muito importante. Agora, se for para criar mais um tipo de pesquisador, acho redundante. A criminalidade é um tema interdisciplinar, que abarca diversas áreas do conhecimento. Me parece que vai apenas criar uma nova profissão — critica.

Histórico de polêmica na universidade

Antes de ser criado, o curso provocou discussão na UFF. Em 2008, o Instituto de Ciências Humanas e Filosofia não aprovou a sua criação. Na época, professores e estudantes alegaram que o objetivo era colocar "a polícia dentro do campus". Já na Faculdade de Direito, a receptividade foi bem melhor.

O idealizador da graduação, Roberto Kant de Lima ressalta que o trabalho vem desde 2000, a partir de um curso de especialização oferecido em convênio com a Secretaria estadual de Segurança até 2006. Na época, o curso era obrigatório para promoção de policiais do Rio, mas foram encontradas dificuldades.

— Os alunos da especialização vinham com suas culturas profissionais muito enraizadas. E o principal trabalho era desconstruir a visão já existente deles sobre segurança pública para, depois, reconstruí-la sobre novas bases. Por isso, vimos que era importante trabalhar com alunos recém-saídos do ensino médio — defende.

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