quinta-feira, 7 de abril de 2011

alfabetização

alfabetização: "PRÁTICA ALTERNATIVA NA ALFABETIZAÇÃO DE DEFICIENTES INTELECTUAIS

Sandra Mara Moreira e Silva

Viviane Patrice Bertoncini²



RESUMO

Este artigo propõe apresentar aos professores de educação especial e professores do ensino regular a experiência vivenciada por professoras da educação especial, que apostaram numa nova proposta alfabetizadora para crianças com dificuldade de aprendizagem e para crianças diagnosticadas com deficiência intelectual. O estudo traz as principais características de deficientes intelectuais; os métodos de alfabetização utilizados ao longo da história da Educação Brasileira e relata uma experiência na aplicabilidade do método com alunos da Escola de Educação Especial Ecumênica. Na finalização do trabalho é demonstrado um gráfico com os resultados obtidos, exemplos de atividades do método, bem como a importância dos processos alternativos de alfabetização citada em toda a bibliografia pesquisada.

Palavras-chave: Educação Especial. Deficiência Intelectual. Métodos de Alfabetização. Práticas Alternativas.



1 INTRODUÇÃO

O presente trabalho é o relato de uma experiência vivenciada por professoras especialistas e alunos com deficiência intelectual da Escola de Educação Especial Ecumênica da cidade de Curitiba, estado do Paraná.

A Educação Especial é uma modalidade da Educação que se destina a concretizar filosófica, política e metodologicamente a igualdade de oportunidades às pessoas com necessidades educacionais especiais.

O principal objetivo desta modalidade da Educação é atender de forma eficaz às diferenças individuais dos alunos, através da diversificação de métodos, técnicas, procedimentos, serviços e recursos, de forma a assegurar o desenvolvimento máximo de suas reais condições e de suas potencialidades,

A clientela da educação especial são alunos que apresentam:

- Deficiências mentais, visuais, auditivas e físicas;

- Distúrbio de aprendizagem, emocional severo ou transtornos invasivos;

- Múltipla deficiência;

- Super dotação ou altas habilidades.

A Organização Mundial de Saúde (OMS) estima que 10% da população é portadora de algum tipo de deficiência, ou seja, é portadora de necessidades especiais. Destes, 5% é tem deficiência intelectual; 2% é portadora física; 1,5% é portadora de deficiência auditiva; 1% é portadora de múltiplas deficiências e 0,5% apresenta deficiência visual. Um número bem menor de pessoas apresenta algum tipo de distúrbio emocional, distúrbio de aprendizagem, altas habilidades/superdotação e autismo (CERQUEIRA, 2007, p.24).

Para Kirk (1996), as pessoas com deficiência mental podem ser classificadas em: Educável , Treinável e Graves ou Profundas. Nesse trabalho, estarei enfocando os alunos com deficiências intelectuais Educáveis e Treináveis, ou seja, com grau de comprometimento intelectual leve ou moderado.

As pessoas diagnosticadas com Deficiência Intelectual apresentam baixo nível intelectual e produção de conhecimento limitada, acarretando dificuldades de aprendizagem. O tempo de aprendizagem que os mesmos apresentam também não é algo previsível, sobre isso Schwartzman nos traz o seguinte

O fato de a criança não ter desenvolvido uma habilidade ou demonstrar conduta imatura em determinada idade, comparativamente a outras com idêntica condição genética, não significa impedimento para adquiri-la mais tarde, pois é possível que madure lentamente (SCHWARTZMAN, 1999, p. 246).

Tendo a consciência que cada indivíduo é único, porém todos fazem parte do sistema educacional, é necessário conhecer como se processa a aprendizagem no cérebro.

Na visão de Diament (2006), o processo de aprendizagem tem o Sistema Nervoso Central (SNC), como responsável, através dos sentidos, de perceber, analisar, compreender, armazenar, elaborar e expressar informações; tal processo exige que outras funções como da atenção, auditiva, tátil-cinestésica, as percepções visual, bem como a memorização, a planificação e a psicomotricidade sejam auxiliares e completem o processo. A maneira como ocorre essa aprendizagem é diferente da aprendizagem processada pelo animal, cujo condicionamento predominante é adquirido de forma circunstancial e arbitrária, sem refletir planificação, previsão ou seleção e qual não transmitirá tais aprendizagens, transformadas em comportamentos, para outros de sua espécie (2006, p. 417).

Os seres humanos, ao aprender algo, assimilam e conservam na mente ou memória, o aprendizado adquirido. Se isso ocorreu, pode-se afirmar que houve aprendizagem, não importando se foi total ou superficial. Quanto a aprendizagem e potencialidades do aluno que tem deficiência intelectual, a mesma pode estar muito distante daquela construída pelos alunos normais, sendo que os D.I. leves podem ser alfabetizados, porém seu tempo é mais longo.: Diament (2006) considera que:

determinar se há possibilidade de alfabetização ou não, e em que nível; não havendo essa possibilidade, devem ser determinadas quais as capacidades que a pessoa com DM é capaz de aprender e, claro, procurar profissionalizá¬-la. Porém, nos casos de DM grave e profunda pode não haver nem essa possibilidade (DIAMENT, 2006, p.418)

As pessoas por mais que sejam comprometidas intelectualmente alguma coisa elas adquirem em conhecimento, não precisando ser necessariamente a aprendizagem escolar. Levando em conta o princípio defeito-compensação defendido por Vygotsky (apud VEER; VALSINER, 2001), a pessoa que apresenta algum tipo de deficiência encontra novas rotas de desenvolvimento psíquico, o apoio recebido do meio social em que está inserida e da gravidade do déficit. A criança que apresenta uma limitação em seu desenvolvimento irá buscar, através da reorganização das estruturas psíquicas, compensando esse déficit através de novas alternativas, dos desafios sociais e da estimulação.

Muitas vezes fixamos a idéia de que o aprendizado está relacionado unicamente com os conteúdos acadêmicos. Isso não é verdade, pois quantas pessoas vivem da subprofissão (pedreiros, ajudantes gerais) e que não possuem escolaridade, no entanto possuem a leitura da vida.

A educação especial possui regras diferenciadas das outras modalidades de ensino. Algumas etapas a serem seguidas para assegurar a qualidade de vida do deficiente intelectual. Antes que qualquer coisa, proporcionar condição para que ele aprenda a sobreviver, depois para que aprenda a viver e conviver consigo e com a sociedade ao qual participa, posteriormente vem o ensino acadêmico e suas vertentes.

A preservação da auto-estima é fundamental para que os alunos especiais possam galgar novas metas em suas vidas, minha visão para com essa clientela é de pessoas totalitárias, em busca da independência, autonomia, empoderamento e da felicidade em poder viver a sua maneira. Atingidas essas metas passamos a trabalhar a construção e aquisição da aprendizagem. Na afirmação de Machado (2009) encontramos que o
atendimento especializado deverá ser organizado de forma que promova ao aluno com deficiência mental a possibilidade de sair de uma posição passiva e automatizada diante do conhecimento para o acesso e apropriação ativa do próprio saber (MACHADO, 2009, p. 131)

Optamos então em apostar numa nova metodologia de alfabetização, visto que as que aplicávamos há algum tempo davam pouco resultado e a passos lentos. Sobre essa metodologia estaremos discorrendo na sequência.

O presente estudo tem como finalidade a socialização de um relato de experiência vivenciada por professoras atuantes na escola especial com alunos com deficiência intelectual que entraram em contato com a alfabetização e obtiveram progressos, elevando dessa forma a auto-estima dos mesmos e da família.



2. DEFICIÊNCIA INTELECTUAL



É considerado deficiente intelectual o indivíduo com nível de compreensão e articulação intelectual abaixo da média. Na Convenção de Guatemala, internalizada à Constituição Brasileira pelo Decreto sob o nº 3.956/2001, o artigo 1º define deficiência como: “(...) uma restrição física, mental ou sensorial, de natureza permanente ou transitória, que limita a capacidade de exercer uma ou mais atividades essenciais da vida diária, causada ou agravada pelo ambiente econômico e social”.

O coeficiente de inteligência (QI) foi utilizado, durante décadas, como parâmetro de definição para estabelecer se um indivíduo era ou não deficiente mental. Em Kirk & Gallagher (1987) está a afirmação que cada profissional define a deficiência mental de acordo com sua área de especialização, existindo definições médicas, psicológicas e comportamentais.

Analisado sob o prisma da medicina o CID 10 (Código Internacional de Doenças, desenvolvido pela Organização Mundial de Saúde) contem o Retardo Mental (F 70) classificado entre leve, moderado e profundo, dependendo do comprometimento do indivíduo, incluindo “[...] dificuldade do aprendizado e comprometimento do comportamento”, vindo a coincidir com diagnósticos de diversas áreas.

A visão pedagógica considera o deficiente mental o indivíduo que apresente maior ou menor dificuldade em acompanhar o processo regular de aprendizagem e que necessite de condições educativas especiais, como apoios e adaptações curriculares que permitam que sua aprendizagem ocorra no sistema regular de ensino. Mantoan (1994, 1997) interpreta a deficiência mental e deficiência circunstancial, ou déficit mental e déficit circunstancial; sendo a deficiência real os casos de deficiência mental causados por lesão orgânica instalada, ou seja, o indivíduo é deficiente. Como deficiência circunstancial o que interfere são as determinantes sociais, onde a relação do indivíduo com o meio é prejudicada, estando o indivíduo deficiente.

No enfoque piagetiano o déficit orgânico real traz dificuldades na relação entre o sujeito e o meio, interferindo assim, a construção do conhecimento. Os déficits orgânicos atrapalham a ação do deficiente sobre o meio, intervindo no processo adaptativo, que vão resultar em defasagens cognitivas nos estágios do desenvolvimento.

Quanto aos aspectos estruturais e funcionais da vida intelectual dos deficientes mentais, MANTOAN (1995, p.4) diz que para Piaget os indivíduos com déficit real apresentam uma “construção inacabada”, afirmando que

os deficientes mentais configuram uma condição intelectual análoga a uma construção inacabada, mas, até o nível em que conseguem evoluir intelectualmente, essa evolução se apresenta como sendo similar a das pessoas normais mais novas;[...] embora possuam esquemas de assimilação equivalentes aos normais mais jovens, os deficientes mentais mostram-se inferiores às pessoas normais, em face da resolução de situações-problema, ou seja, na colocação em prática de seus instrumentos cognitivos;

.apesar de se definir por paradas definitivas e uma lentidão significativa no progresso intelectual, a inteligência dos deficientes mentais testemunha certa plasticidade ao reagir satisfatoriamente à solicitação adequada do meio.



Para Vygotsky (1997, 2003), os princípios que norteiam o desenvolvimento do deficiente mental são iguais aos que regem o das pessoas normais, bem como os processos educacionais. Para o autor, mesmo a criança que é acomentida por alguma deficiência, não é menos desenvolvida do que a criança normal, mas a maneira como ela se desenvolve é que se manifesta de forma diferente; ou seja, o desenvolvimento é o resultado da síntese entre os fatores orgânicos, socioculturais e emocionais e esta síntese se apresenta de forma própria de diferenciada em sua organização sociopsicológica. Dessa forma, não se pode comparar as ações de uma e de outra pessoa, pois cada uma é única em seu desenvolvimento. Nesse sentido, mesmo as pessoas com deficiência mental são heterogêneas entre si, é preciso respeitar suas singularidades e conhecer suas histórias de vida (OLIVEIRA, 2006, p.32).

Ferreira (2006) considera que crianças deficientes intelectuais apresentam alterações nos processos mentais que vão influenciar a parte da linguagem/aquisição de leitura, nos conceitos lógicos matemáticos, nas atividades de vida diária e em sua socialização. Para o autor, tais intervenções podem se agravar quando essas crianças são colocadas na escola com o objetivo de aprendizagem “que mobilizam basicamente as funções psicológicas elementares com um significado distanciamento da cultura” (FERREIRA, 2006, p. 236). Portanto, a idéia de fazer com que o aluno D.I. tenha a inclusão educacional pode não ser a mais adequada, pois o emocional se manifestará de forma mais intensa do que o cognitivo.

Seguindo as idéias vygostkyanas, o desenvolvimento de uma criança é um processo complexo, cujos fatores determinantes e correlacionados são as estruturas elementares , os determinantes biológicos e os processos psicológicos superiores. Através deste processo, a criança desenvolve ações conscientes, as quais levarão a uma atenção voluntária, memorização e relação concreto x abstrato. Este sistema permitirá uma construção e reconstrução dos conceitos baseados nos meios e nos símbolos do contexto da criança até sua fase adulta.

Pautados nessa linha de pensamento, cabe a escola e principalmente ao professor, oferecer recursos para o desenvolvimento cognitivo da criança, proporcionando diferentes estratégias de construção de aprendizagem, a fim de exceder os conceitos básicos e chegar a conceitos mais elaborados ou científicos, resultando na interação social e escolar. Neste ponto, ressalto a importância do adulto promover e mediar atividades culturais e intelectuais que promovam o desenvolvimento dos processos psicológicos superiores através da estimulação essencial.

Para Pletsch (2008) é importante ter como objetivo o fator educacional nas atividades que conduzam a criança ao desenvolvimento da zona de desenvolvimento proximal (ZDP) superando as dificuldades decorrentes de sua deficiência primária. Vygotsky afirma que um dos aspectos mais importantes da escola é o uso da mediação em atividades que impulsionem a ZDP que originará o crescimento interior ocasionado pela relação interpessoal na intrapessoal; na compreensão ou construção dos conhecimentos e na mediação dos professores e colegas. Parafraseando Vygotsky (1997, p.62) “o único bom ensino é o que se adianta ao desenvolvimento”.

O conceito de compensação também é uma vertente aceita como processo de aquisição de aprendizagem da criança D.I.. Segundo Vygotsky (1997) em seus estudos de defectologia, quando um órgão é defeituoso ou lesionado, o sistema nervoso central, juntamente com o fator psíquico compensam o defeito, “todo defeito cria os estímulos para elaborar uma compensação” (p. 14). Para o autor apresentar programas pedagógicos com enfoque na compensação não proporcionará a “cura” da deficiência, mas colaborará para o desenvolvimento das áreas proximais. É possível fazer uma correlação deste pensamento à idéia de plasticidade cerebral que vem sido alvo de estudo da neurologia e da neuropedagogia.

O professor sendo o mediador do processo de aprendizagem da criança D.I. e oferecendo alternativas de desenvolvimento da construção de seu conhecimento, poderá estimular a compensação; através do uso da linguagem e de práticas, oferecer à criança subsídios para que ela seja conduzida à aprendizagem. Para aprofundar os estudos acerca da alfabetização de crianças com deficiência intelectual, segue considerações sobre o método utilizado.


3 O MÉTODO

A prática alternativa aplicada é denominada por sua autora< Cláudia Mara da Silva, como “Desafios do Aprender – Alfabetização”, cuja proposta é voltada para alunos com dificuldades de aprendizagem e alunos com deficiência intelectual. Tendo como base o Método Fônico e o Método Sodré de alfabetização, sendo que o que o diferencia do Método Fônico tradicional é que esta proposta aborda o som das sílabas e não os da letra isoladamente.

A aprendizagem ocorre de forma sistemática, ordenada e progressiva, iniciando com o desenvolvimento da consciência fonológica até chegar a leitura e escrita de palavras, frases e pequenos textos, cronologicamente.

A prática leva o aluno a elaborar tentativas de leituras e escrita com auxilio de um material variado, através de vivências e atividades mediadas pelo professor. O professor deve enfatizar a prática diária da leitura, pois é importante que o aluno primeiro reconheça visualmente as sílabas para posteriormente dar-se a escrita; esta última só se efetiva quando aluno consegue transpor graficamente, de forma independente o que lê. Segundo Cagliari (1994)

No processo de alfabetização, a leitura precede a escrita. Na verdade, a escrita nem precisa ser ensinada se a pessoa souber ler. Para escrever, uma pessoa precisa, apenas, reproduzir graficamente o conhecimento que tem de leitura. Por outro lado, se uma pessoa não souber ler, o ato de escrever será simples cópia, sem significado. (Cagliari, 1994, apud Massini-Cagliari, 1994, p. 26).

A professora-autora do método (SILVA, 2010, p.1) enfatiza pontos importantes do desenvolvimento da proposta, os quais devem ser obedecidos para que o resultado seja positivo:

• Seguir os passos indicados na proposta para que a apropriação da leitura e da escrita aconteça de forma simples e objetiva.
• O material de apoio é muito importante para o manuseio do aluno e serve também para a atuação do professor, enriquecendo sua prática.
• Todo material tem como base a proposta de alfabetização silábica diferenciada, portanto deve ser manuseado diariamente, pelos alunos e seu professor.
• A seleção e a organização das atividades propostas seguem os princípios da alfabetização silábica, isto é, enfatiza a sílaba e não o nome da letra.
• As atividades que o material propõe são desafiadoras, porém simples e objetivas de fácil entendimento.
• A avaliação deve ser diagnóstica e processual, acontecendo com a prática dos jogos, dos exercícios e do preenchimento das atividades da apostila.


Os materiais utilizados para alfabetização a partir desse método são diversos, todos com objetivo de levar à memorização das sílabas do alfabeto e a posterior junção das mesmas, originando as palavras.

A professora apresenta aos alunos um painel amarelo contendo placas quadradas brancas, com as sílabas digitadas em “caixa alta” pretas, do alfabeto formadas pelas consoantes e a vogal “A”: A, BA, CA, DA, FA, GA, JA, LA, MA, NA, PA, QUA, RA, SA, TA VA, XA e ZA. As sílabas HA, KA E WA não são trabalhadas nesse momento.



Figura 1 – QUADRO Desafios do Aprender – Alfabetização – 1º Passo



Fonte: Apostila – DESAFIOS DO APRENDER- ALFABETIZAÇÃO

Autora: Cláudia Mara da Silva



Primeiramente a professora apresenta as sílabas às crianças; posteriormente pede para que os alunos ouçam (ao mesmo tempo aponta para a sílaba a ser soletrada a fim de chamar a atenção para a visão ao mesmo tempo da audição da sílaba) e depois que repitam a sílaba falada/mostrada. Esse passo é feito várias vezes, podendo ser alternado indo do final ao início da “tabela”: ZA, XA, VA, TA, SA, RA (....) Na seqüência acrescenta gravuras ao painel, cujas sílabas iniciais sejam as mesmas da escrita.



Figura 2 – QUADRO Desafios do Aprender – Alfabetização – 2º Passo

Fonte: Apostila – DESAFIOS DO APRENDER- ALFABETIZAÇÃO

Autora : Cláudia Mara da Silva



Após acrescentar as figuras, a professora deverá dizer:

- “A” de ABELHA/ “BA” DE BANANA/ “CA” DE CASA....

Da mesma maneira que a “leitura” anterior, os alunos deverão primeiro escutar a professora e depois falar/ler. Esse passo também é feito várias vezes para fixação som/imagem. Depois de o grupo realizar a “leitura”, deve-se passar para a leitura individual, sendo que a professora deve sempre incentivar o aluno a repetir e ao mesmo tempo olhar para a palavra. Seguindo a oralidade, vem a escrita que deve ser feita no caderno pautado com exercícios que retomem ao que foi trabalhado oralmente. Apesar da leitura ser de todas as silabas do painel, a escrita deve obedecer a seqüência, tomando o cuidado de trabalhar apenas a escrita de uma sílaba por dia para garantir a fixação e não confundir o aluno. Outro cuidado nesse ponto do trabalho é buscar palavras/figuras com a vogal “A”: casa, pata, gata, sapa, salada, jaca, faca e assim por diante. O próximo passo é aplicar um jogo que contenha as palavras/sílabas trabalhadas, como o dominó silábico, o bingo, o “saco surpresa”, etc. A partir desse passo, a professora deve utilizar-se da sua criatividade e atendendo as necessidades dos alunos.

Quando os alunos já tiverem dominado a leitura e a escrita das palavras formadas com sílabas simples com a vogal A, o próximo passo é trabalhar as sílabas da vogal “O” unidas às consoantes: O, BO, CO, DO, FO, GO, JO, LO, MO, NO, PO, QUO, RO, SO, TO, VO, XO, ZO. É importante repetir todos os passos que foram feitos na primeira fase do método, ou seja: trabalhar palavras/figuras formadas somente com a vogal “O” como: BOLO, CÔCO, SOCO, VOVÔ, ZORRO; no entanto como os alunos já compreenderam/memorizaram a formação das silabas com a vogal “A”, pode-se misturá-las a este segundo momento: BOLA, BOCA, CARRO, FOCA, GOMA, ROCA, MACACO; ao misturar silabas com “A” e com “O” o vocabulário de leitura e de escrita do aluno será ampliado, bem como se dará a noção de que as palavras são formadas por diferentes silabas que são compostas por várias consoantes e vogais.

No terceiro passo, trabalham-se as consoantes unidas com a vogal “U”: U, BU, CU, DU, FU, GU, JU. LU, UM, NU, PU, RU, SU, TU, VU, XU, ZU; obedecendo a sequência dada no 1º e no 2º passo: primeiro trabalham-se as sílabas, depois palavras, frases, pequeno texto, não deixando de enfatizar sempre oral x visual, aliado a jogos prazerosos com as palavras que estão sendo trabalhadas.

Para o 4º e 5º passos, respectivamente, ficam para serem trabalhadas as vogais “E” e “I”, devido as variações que as mesmas têm na Língua Portuguesa, onde a leitura do “CE” é “SE” e não “QUE” , o mesmo com o CI, com o GE,e com o GI. Uma vez que os métodos tradicionais não deram conta de alfabetizar tais crianças com dificuldades de aprendizagem, esta sequência silábica das vogais (A, O, U, E, I) foi estabelecida pelo fato de se respeitar a maturidade cognitiva dos alunos (SILVA, 2009).



4. RESULTADO OBTIDO NA APLICAÇÃO DO MÉTODO



Iniciei a aplicação do método em fevereiro de 2010, em duas salas compostas por 7 alunos cada uma, todos com diagnóstico de deficiência intelectual de leve a moderada. Já havia trabalhado em anos anteriores com tais alunos, sendo que os métodos utilizados foram os do construtivismo, os fonéticos e sintéticos; sem ter grandes ganhos. O máximo que os alunos conseguiam realmente aprender era a escrita do seu nome, do nome da escola e outras palavras simples do seu dia-a-dia, porém eu observava que aquela leitura e escrita eram feitas por memorização da sequência das letras, sem haver compreensão alguma do que estava sendo lido ou escrito.

Era comum a aluna ler e escrever seu nome: “BÁRBARA”, no entanto quando aparecia a palavra “BALA”, a aluna não conseguia ler e muito menos escrever. O máximo que acontecia era a aluna “ler” BÁRBARA no lugar de BALA, visto que ambas as palavras apresentam as letras iniciais “BA”. Isso era comum com todos os alunos, de acordo com o seu nome.

Com a aplicação deste Método, a partir do momento em que o aluno compreende/memoriza o A, BA, CA, DA, FA, GA, JÁ, LA, MA, NA, PA, QUA, RA, SA, TA, VA, XA e ZA; ele passa a ler BALA, FADA, FACA, SAPA, BANANA, MACACA, SALADA e a escrita ditada ocorre por sílabas e não por sequência de letras, ou seja não ocorre o tradicional B + A = BA, esse B+A, some (visto que em momento algum o professor fala letras soltas) e o aluno já lê “BA”, assim como falamos e lemos.

Foram analisados 14 alunos com idade cronológica de 10 e 11 anos, sendo que a idade cognitiva, avaliada pelas psicólogas que os atendem, variam de 5 a 7 anos (condição cognitiva que permite o processo de alfabetização em crianças “normais”), divididos em dois grupos de 7 alunos, sendo um grupo no período da manhã e outro no período da tarde, ambos na Escola de Educação Especial Ecumênica.

Os procedimentos aplicados foram rigorosamente os citados no subtítulo anterior.

A situação de alfabetização anterior à aplicação do Método era a seguinte:

ALUNOS DA MANHÃ ALUNOS DA TARDE

Conheciam todas as letras do Alfabeto

07

07

Liam palavras simples

00

02

Escreviam palavras simples trabalhadas

00

02

Escreviam palavras simples ditadas

00

02

Liam frases simples 00 00

Escreviam frases simples 00 00



A duração da aplicação do Método foi de 4 meses, sendo que a leitura do quadro silábico exposto em sala era feita diariamente; a aplicação multissensorial ( ler, falar e escrever) era feita em 3 dias da semana, com duração aproximada de 2 horas diárias. O resultado obtido após esses 4 meses foi o seguinte:



ALUNOS DA MANHÃ ALUNOS DA TARDE

Conheciam todas as letras do Alfabeto

07



100%

07



100%



Leem palavras simples

06

85,7%

06

85,7%

Escrevem palavras simples trabalhadas

06

85,7%

06

85,7%

Escrevem palavras simples ditadas

04

57,4%

06

85,7%



Le frases simples

04

57,4%

06

85,7%



Escrevem frases simples

03

42,85%

06

85,7%





CONSIDERAÇÕES FINAIS



Através desse estudo pudemos obter maior embasamento teórico acerca do professo de alfabetização, principalmente com os deficientes intelectuais. Seguindo a nova concepção elaborada por Maria Montessori (1965), o deficiente intelectual não é um ser acabado, mesmo com suas limitações ele é capaz de desenvolver seu cognitivo e ampliar sua aprendizagem, basta que as pessoas envolvidas com seu processo de desenvolvimento o estimule e não desistam; se uma técnica não foi eficaz, deve-se procurar novas formas de dizer o que já foi dito.

O método “Desafios do Aprender – Alfabetização” mostrou-se inovador, atrativo e motivador para os alunos e professores envolvidos, trazendo novas oportunidades no trabalho com a alfabetização dos deficientes intelectuais e alunos com dificuldades de aprendizagem. O resultado obtido em quatro meses de aplicação, foi o suficiente para acreditarmos em sua eficácia.

Pretendemos continuar a aplicá-lo por mais alguns anos com os mesmos alunos, de forma a atingir 100% dos alunos da sala e aprimorar a aprendizagem daqueles que estão no meio do caminho.











REFERÊNCIA

BRASIL, Lei nº9.394, de 20 de dezembro de 1996. Estabelece as Leis de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil, Brasília, DF, 1996.

CAGLIARI, L. C. Alfabetização & Lingüística. São Paulo: Scipione, 1989.



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FERREIRA, W. B. Inclusão x exclusão no Brasil: reflexões sobre a formação docente dez anos após Salamanca. In: Inclusão e Educação: doze olhares sobre a educação inclusiva. David Rodrigues (org.). São Paulo, 2006. p. 212-236.



MACHADO, R. Educação Especial na Escola Inclusiva – São Paulo: Cortez Editora, 2009.



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OLIVEIRA, G. A Transmissão dos Sinais Emocionais Pelas Crianças. In: Sisto, F. ; Martinelli, S. Afetividade e Dificuldades de Aprendizagem: uma abordagem

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PLETSCH, M. D. Repensando a inclusão escolar de pessoas com deficiência mental: diretrizes políticas, currículo e práticas pedagógicas. Projeto de qualificação de doutorado. Rio de Janeiro: Universidade do Estado do Rio de Janeiro, 2008.



SCHWARTZAN, J. S. Síndrome de Down. São Paulo: Mackenzie, 1999.

SILVA, C.M. - DESAFIOS DO APRENDER – ALFABETIZAÇÃO. Apostila elaborada pela autora – Curitiba: 2009

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