quarta-feira, 6 de abril de 2011

Derrubando mitos da educação - 2

Derrubando mitos da educação - 2: "Muita gente até hoje ainda fala com saudosismo da escola pública das décadas de 1950 e 1960. Naquela época, argumentam, todos queriam estudar na rede pública, que tinha qualidade reconhecida e era concorrida. Essa escola pública, no entanto, tinha um defeito grave: praticamente não havia pobres em seus bancos. Alunos de classe média, até modesta, sim; mas os pobres mesmo ficavam de fora. Em meados da década de 1950, mais de 50% da população infantil do país não tinha acesso à escolarização.

Como não se cansa de repetir o economista Samuel Pessôa, do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre) da Fundação Getulio Vargas, uma educação que exclui a maior parte das crianças do país não pode ser considerada boa. Não adianta oferecer qualidade nota 8 para uma parcela da clientela e nota 0 para a maioria; a média vai ser muito ruim. Com razão, Pessôa chama essa sociedade de 'absolutamente esquizofrênica'. Foi a partir da Constituição de 1988 que o país começou a avançar rumo à universalização da educação pública. Somente na década de 1990 conseguiu a marca de 90% de atendimento à população de 7 a 14 anos no ensino fundamental (atualmente, esse índice é de 97,6%).

A qualidade percebida pela população caiu. E quando, finalmente, o país resolveu encarar o desafio de avaliar a escola pública por critérios objetivos, a partir de meados da década de 1990, os números mostraram que a situação era ainda pior do que se pensava. Daí que a universalização levou a um mito que perdura até hoje (e é objeto de reportagem da revista Nova Escola de março): 'Criança pobre não aprende'.

É verdade que crianças cujos pais não tiveram acesso à escolarização enfrentam, em geral, mais dificuldades de aprendizagem, mas cabe aos gestores e professores encontrar formas de superar esse obstáculo e assegurar o direito de todos a um ensino de qualidade. Exemplos de que isso é possível estão por toda parte (o estudo 'Aprova Brasil: O Direito de Aprender', do Unicef, é uma boa fonte). 'Precisamos de práticas pedagógicas que permitam ensinar todos. Não se trata de fazer mais do mesmo, mas oferecer um ensino diferente', recomenda Francisco Soares, professor da UFMG, à Nova Escola. Ou seja, mais uma vez, é uma questão de competência e vontade.
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