sábado, 9 de abril de 2011

Prefeitura faz mutirão para prestar assistência às famílias de alunos


 FONTE: OGLOBO

09/04/2011 12h29 - Atualizado em 09/04/2011 12h29


Trabalho com as crianças terá duração inicial prevista de 6 meses.
Ação começou na manhã deste sábado (9).

Tahiane StocheroDo G1 RJ
Mutirão de assistência social para crianças (Foto: Tahiane Stochero/G1)Profissinais se reúnem em posto de saúde para
atender crianças (Foto: Tahiane Stochero/G1)
Mais de 300 agentes comunitários, enfermeiros, médicos e assistentes sociais fazem, neste fim de semana, visitas às famílias dos 1.172 alunos da Escola Municial Tasso da Silveira, em Realengo, na Zona Oeste do Rio, para prestar apoio psicológico. O mutirão começou às 10h deste sábado no Posto de Saúde Olímpia Esteves, em Realengo.
Segundo o secretário de assistência social, Rodrigo Bethlem, muitos agentes que não foram convocados compareceram neste sábado no posto de saúde para participar da força-tarefa.
"Estamos visitando neste fim de semana todas as famílias dos alunos da escola em um esforço para fazer estas crianças superarem este trauma, que é comparável à uma situação de pós-guerra", disse o secretário.
De acordo com o subsecretário de saúde, Daniel Soranz, o trabalho com as crianças terá duração inicial prevista de 6 meses e o acompanhamento neste período buscará identificar possíveis necessidades de tratamento individualizado. Enquanto as aulas na escola não recomeçam, haverá atividades para os alunos no posto de saúde Olímpia Esteves, segundo Soranz.
Ele recomendou que os pais escutem seus filhos que estavam presentes no dia do ataque.
"Eles devem escutar as crianças caso elas queiram falar, mas não provocar nem ficar questionando, para poder ajudar a superar este trauma", diz ele.
Há 6 anos trabalhando como assistente social no Rio, Rose Braz espera que não tenha dificuldades na conversa com as famílias.
"Acho que a receptividade vai ser boa, porque eles já foram avisados que iremos e precisam deste acompanhamento", diz ela.
12ª vítima é cremada neste sábado (9)
A menina Ana Carolina Pacheco da Silva, de 13 anos, vítima do ataque a escola em Realengo, foi cremada no cemitério do Caju, na Zona Portuária do Rio, na manhã deste sábado (9), sob forte emoção da família, que durante toda a madrugada velou o corpo da adolescente. Ela foi a única crianca cremada das 12 mortas no massacre.
Por volta das 8h, a família deu as mãos em volta do caixão e rezou o Pai Nosso. Cerca de 15 parentes, todos vestidos com uma camiseta em homenagem à menina, oraram e cantaram músicas religiosas.
A mãe de Ana Carolina, Ana Luiza, chorava muito a perda da filha. "Me ajuda, meu Deus, me ajuda", dizia ela.
O corpo seguiu para o crematório do cemitério, de carro. A família seguiu de van. Em uma sala reservada, os parentes tiveram 15 minutos para o adeus à menina. Por volta das 9h, eles deixaram o local.
Corpos de 11 crianças foram enterrados na sexta-feira
Durante toda a sexta-feira (8), familiares, parentes e moradores do bairro de Realengo deram adeus a 11 das 12 crianças mortas pelo atirador Wellington Menezes de Oliveira na Escola Municipal Tasso da Silveira, na Zona Oeste do Rio.
Apenas o corpo do atirador de 23 anos ainda está no Instituto Médico Legal (IML). Segundo o IML, após dez dias, o rapaz será enterrado como "corpo não reclamado".
Igor Morais da Silva de 14 anos, foi enterrado por volta de 17h de sexta-feira no Cemitério Jardim da Saudade, em Sulacap. O irmão dele, Eduardo Morais da Silva, de 11 anos, também aluno da escola, estava desconsolado.
“O que eu mais gostava era quando meu irmão jogava bola comigo”, recorda ele.
“Ele saiu vivo, voltou morto. Acordou às 6h para ir à escola, e não voltou mais”, dizia, em voz alta, Dalva de Oliveira, amiga da família e ex-diretora da creche que cuidou de Igor e Eduardo. “Isso não pode acontecer. Não pode!”, bradou ela.
Todas as cerimônias foram marcadas por muita emoção. A costureira Ana Rosa do Nascimento, de 54 anos, não escondeu a tristeza durante o enterro da sobrinha, Milena dos Santos Nascimento, no Cemitério do Murundu. O corpo da jovem, de 14 anos, foi enterrado sob aplausos de familiares e amigos do bairro. Para a tia da adolescente, a família ficou 'destruída' com a tragédia.
Rosa tia de Milena  (Foto: Igor Christ/G1)Rosa, tia de Milena, disse que a família ficou
destruída (Foto: Igor Christ/G1)
"A emoção e a dor são grandes. É uma mistura de dor e revolta. Está faltando um pedaço de nós. Só estou aqui porque estou tomando remédios para me acalmar", disse ela.
Segundo Ana, a sobrinha tinha o sonho de participar de desfiles de moda e cursar uma faculdade.
"A Milena era muito estudiosa, um doce de menina. Ela sempre dizia que queria fazer faculdade e sonhava ser modelo também. Mas veio um maluco e acabou com o sonho dela. A crueldade está demais nesse país", lamentou.
As duas irmãs de Milena, Helena (12) e Tainá (15), sobreviveram ao ataque à escola. Para a tia, elas vão precisar de ajuda psicológica para superar o trauma.
Acompanhado do irmão e do primo, o policial militar Ricardo Goulart foi ao cemitério do Murundu para o velório e enterro de Bianca Rocha Tavares, de 13 anos. A filha do policial, Miriã, de 10 anos, também estava na escola no momento do ataque. Ele conta que chegou rapidamente à escola após ser alertado por um vizinho.
Preocupado com a segurança, Ricardo decidiu matricular a filha em uma escola particular.
Ricardo tio de Bianca (Foto: Igor Christ/G1)Ricardo, à esq., e o primo dele foram ao enterro
de Bianca (Foto: Igor Christ/G1)
A doméstica Márcia Valéria, de 47 anos, levou as suas três filhas ao cemitério. As crianças eram amigas de bairro de Laryssa Silva Martins, 13 anos, também enterrada no local. Preocupada, ela pediu mais segurança no bairro.
"Será que os colégios vão ter seguranças? Como levaremos nossos filhos para a escola agora? Tudo isso é muito triste, não sei nem o que falar", encerrou.
No cemitério Jardim da Saudade, em Sulacap, a avó de Larissa dos Santos Atanásio passou mal e precisou ser socorrida. Os parentes se despediram da menina com cânticos.
Multidão participa de funeral da estudante Larissa Silva Martins, uma das vítimas do massacre. (Foto: Ricardo Moraes/Reuters)Multidão participa de funeral da estudante Larissa
Silva Martins, uma das vítimas do massacre
(Foto: Ricardo Moraes/Reuters)
Cristiane da Silva Machado, tia da menina Luiza Paula da Silveira Machado, chorava muito. 
“Você sabe o quanto meu irmão lutou para criar essa filha”, dizia ela enquanto era abraçada por uma parente. “Era a princesinha dele. Meu Pai, por que isso? Eu preciso criar forças para suportar”, disse ela, chorando muito.

Parentes de Rafael Pereira da Silva levaram duas faixas para o velório do menino. Uma delas dizia: “Aí, governante: até quando vamos ficar sem segurança nas escolas e nas ruas. O Brasil vai copiar sempre as coisas ruins desse país? Hoje foi essa escola. Qual será a próxima?”
Os parentes de Mariana Rocha de Souza, de 12 anos, fizeram uma oração em frente à escola, após o enterro da menina no Cemitério do Murundu.
Também foram enterrados nesta sexta-feira, os corpos de Karine Lorraine Chagas de Oliveira, de 14 anos, Géssica Guedes Pereira e Samira Pires Ribeiro, de 13 anos.
Feridos
Dez alunos baleados na Escola municipal Tasso da Silveira seguem internados em seis hospitais do Rio. Três deles estão em estado grave. Renata Lima Rocha, de 14 anos, recebeu alta do Hospital Albert Schweitzer na tarde desta sexta-feira. Ela foi foi baleada no abdômem.

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