Conheça dois pontos de vista sobre medicalização da educação:
O Portal Aprendiz publica dois artigos sobre o tema medicalização da educação, com diferentes pontos de vista. O debate foi gerado a partir da publicação da matéria “Estudantes ou pacientes”, em 10 de outubro deste ano.
“Carta a uma mãe” é assinado pela professora titular do Departamento de Pediatria da Faculdade de Ciências Médicas da UNICAMP, Maria Aparecida Affonso Moysés e “Transtornos de aprendizagem precisam de políticas adequadas” é de autoria do Conselho Federal de Fonoaudiologia.
Questionar doenças que só afetem aprendizagem e comportamento não é negar que há pessoas com dificuldades. Comprovar a doença exige um rigor científico ausente em estudos sobre dislexia e TDAH. Inventar testes para provar a doença é outra coisa. Melhorar com pílula não prova que estava doente.
Daí a crítica de muitos pesquisadores. Estranho: em vez do debate científico tentam desqualificar e agredir quem questiona.
Por que seu filho precisa ser doente para aprender? Não é esquisito uma doença que só atinge linguagem escrita ser diagnosticada por linguagem escrita? Aprender de outro modo é doença? Se o tratamento é pedagógico, por que é doença? Desculpe a intimidade: além do acesso a ensino, qual o benefício pra ele?
Sei de sua luta pra ele aprender! Vamos lutar pelo direito de todos, sem laudos.
Como soube que seu filho tem TDAH? 18 perguntas vagas. Parece não estar ouvindo quando se fala diretamente com ele (quem fala o que?); evita, não gosta ou se envolve contra a vontade em tarefas que exigem esforço mental prolongado (o que é isso?); distrai-se com estímulos externos (quais?). Padrões sociais viram neurológicos: Sai do lugar na sala de aula ou em outras situações em que espera que fique sentado.
50% dos disléxicos têm TDAH e tomam a droga que foca; ela provoca arritmia, parada cardíaca, drogadição… Leu a bula?
A maioria só não cabe em padrões que te convenceram serem biológicos. É cruel acabar com questionamentos e devaneios. Talvez seu filho sofra por isso.
Há poucos jovens com sérias dificuldades. Para ajudá-los, é preciso pesquisar causas e soluções, ainda desconhecidas; aprisionar em siglas não resolve o problema. Talvez seu filho sofra por isso.
Você já se perguntou se é refém de diagnósticos equivocados e terapias que não tratam?
Se quiser conversar, conte comigo.
Um abraço, Cida
O Ministério da Educação do Brasil (MEC) considera como Transtornos Funcionais Específicos quadros como a Dislexia, Discalculia e o Déficit de Atenção e Hiperatividade, também reconhecidos em sistemas de referência mundial: Classificação Internacional de Doenças (CID.10) e Manual Diagnóstico e Estatístico (DSM-IV).
As Diretrizes Curriculares para o curso de Fonoaudiologia prevêem a preparação do fonoaudiólogo para participar de equipes de diagnóstico e acompanhamento desses transtornos, sendo papel do CFFa zelar pela ética na atuação profissional.
Há legislação específica para pessoas com tais transtornos em mais de 170 países, com os mais variados sistemas políticos e educacionais. Países como Estados Unidos, Canadá, Inglaterra, China e Finlândia possuem políticas que garantem apoio a estes alunos.
Se estes transtornos fossem tão somente decorrentes da qualidade da educação, ou do meio sociocultural, como poderiam ser reconhecidos por nações tão diferentes?
O CFFa, ao exigir diretrizes educacionais que atendam alunos com transtornos funcionais, reconhece a vulnerabilidade que atinge esse grupo de alto risco para o fracasso e o abandono escolar.
Defende, assim, a promoção e a integração social tendo em vista a tolerância, a igualdade e a justiça social. Neste sentido, recomendamos a leitura da obra “Aprendizagem Infantil: uma abordagem da neurociência, economia e psicologia cognitiva” (Academia Brasileira de Ciências).
Embora seja uma pequena porcentagem, enquanto houver alunos, neste país, impedidos de aprender por não serem atendidos em suas demandas específicas de aprendizagem, estaremos em falta profunda com a construção de uma sociedade digna e inclusiva.
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