Educomunicação ainda não é valorizada para combater evasão no ensino médio:
Apesar do avanço, na última década, do uso de linguagens de comunicação na educação, a chamada educomunicação ainda não é valorizada pela maioria das escolas e secretarias de ensino no país. A conclusão é de um debate do III Encontro Brasileiro de Educomunicação, realizado na Universidade de São Paulo (USP), na última semana.
“Na educação formal é mais difícil a educomunicação estar presente. Já a não formal é mais flexível para abarcá-la. Gostaria que escolas e secretarias sentissem que ela é muito importante para combater a evasão. A entrada do aluno na escola é quase universalizada, mas a saída é o problema”, analisou o secretário-executivo da Rede Comunicação, Educação e Participação na Escola e na Comunidade (CEP), Alexandre Sayad.
Mais de quatro mil escolas do Mais Educação – programa do governo federal de educação integral – escolheram o “trabalho de jovem com mídia” na hora de compor seus currículos optativos, no contraturno das aulas. “O número é pequeno para o tamanho da rede toda. Por outro lado, é um terço de todas as escolas que fazem parte desse programa. Ou seja, existe uma demanda por isso”, completa.
Sayad destacou que a falta de censo de pertencimento do jovem com a escola faz ele desistir de estudar. Cerca de 40% abandonam as salas por desinteresse, segundo estudo da Fundação Getúlio Vargas (FGV). “Sem sentirem-se acolhidos, por que ele vai ficar sentado numa cadeira com o mundo todo lá fora?”, questionou Sayad.
De acordo com o secretário da Rede CEP, a educomunicação pode ressignificar a escola, tornando-a mais adequada para o estudante. “Educomunicação diz respeito a apenas uma coisa: escuta. O que importa é a expressão do jovem e a relação dele com o educador.”
O Games for Change foi citado como exemplo de um projeto educomunicativo, já que jovens desenvolvem joguinhos com caráter social, caracterizando um processo pedagógico por meio da comunicação. O Festival Games for Change 2011 acontece de 8 a 11 de dezembro, em São Paulo (SP).
“A presença das tecnologias traz desafios para a comunicação. Esta ganhou hoje centralidade como meio, mas também como fim”, disse o diretor da Escola de Comunicação e Artes da Universidade de São Paulo (USP), Wilton de Souza. “A criança chega na escola já com muitas horas de comunicação. Ela tem um Facebook, por exemplo. Temos que alimentar a educação nessas condições.”
A proposta da educomunicação, além de alfabetizar com linguagens da comunicação, está baseada em valores de cidadania, acredita a professora de Licenciatura em Educomunicação da ECA/USP, Roseli Fígaro. “Quando se fala em expressão do jovem é o mesmo que concretizar valores democráticos”, afirmou.
A jovem participante da Revista Viração – periódico produzido por adolescentes, caracterizado como um projeto de educomunicação –, Taluane Teodoro, conta ser outra pessoa hoje, depois que entrou para a equipe de produção da revista. “Adquiri massa crítica. Posso ver a comunicação de outra forma agora”. Pelo computador, todo o mês, jovens de 22 estados definem pautas, chamadas de capa, títulos de matérias e editorial.
“O que fazemos não é dar voz ao jovem, porque ele já tem isso, mas sim espaço, que é aquilo que está faltando. Eles fazem a gestão da Revista Viração com a gente”, conta a jornalista do periódico, Lilian Romão.
Sayad concorda que faltam canais para expressão. “O que a educomunicação faz é abrir uma escuta. Se não estimularmos esse canal, não há meios de acontecer espontaneamente”, conclui.
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