Maus-tratos contra crianças. Como identificar?:
Segundo os dados da Sociedade Internacional de Prevenção ao Abuso e Negligência na infância, 12% dos cerca de 55 milhões de crianças brasileiras menores de 14 anos são vítimas de alguma forma de violência todos os anos.
Hoje cedo estava assistindo o programa matinal Mais Você, da Rede Globo e, me afligi – novamente – com as denúncias e repercussão de casos envolvendo violência infantil. A “bomba” do dia foi a denúncia de um caso de espancamento e abuso sexual, seguido de morte, na cidade de Curitiba (sim, na minha querida Curitiba). Ao ver a fachada do Hospital Pediátrico Pequeno Príncipe, referência no Estado do Paraná, fiquei revendo rostos e histórias de crianças bem assistidas ali e ao mesmo tempo, relembrando de histórias de pura perplexidade com as quais tive a chance de me envolver profissionalmente nos tempos de Defensoria Pública… O “bom” da história, se é que podemos achar bom a constatação de mais uma mãe criminosa por trás das grades, foi saber da “sensibilidade e comprometimento com a profissão” de uma médica do HPP que identificou e denunciou à polícia a mãe agressora. Triste. Lastimável e condenável, mais do que tudo. Por que adotar e acolher um novo filho para conduzi-lo à morte? Pra mim não há lógica.
Este caso, assim como outros tantos que, infelizmente, já testemunhamos, nos faz pensar em como estender a mão a esses menores agredidos, ainda em vida. Quero dizer: como cidadão, como mãe, como ajudar o filho alheio, se necessário? E uma das ferramentas veio justamente no desenrolar do programa Mais Você. A médica pediatra Tânia Shimoda, do Instituto de Pediatria do Hospital das Clínicas de São Paulo, ofereceu dicas sobre como observar estes “quadros de agressão” junto aos menores. Vejam:
- Observar lesões circulares, sugerindo queimaduras por cigarros;
- Observar lesões de queimaduras com o formato do objeto, como ferro de passar roupa;
- Buscar manchas arroxeadas (hematomas) em graus diferentes de coloração, algumas roxas, outras amareladas, esverdeadas, sugerindo que os machucados tenham sido feitos em ocasiões diferentes;
- Buscar vermelhidões e escoriações na pele, mucosas e no couro cabeludo;
- Nas regiões genitais, observar fissuras ou vermelhidão das mucosas;
- Em crianças pequenas que ainda não se firmam em pé e/ou não andam, suspeitar de relatos como “ficou em pé no berço e caiu”.
É muito desagradável e constrangedor até, para alguns responsáveis, pensar neste tipo de agressão e em suas sequelas para a vida emocional e o desenvolvimento das crianças, no entanto, é fundamental que os pais saibam que, a grande maioria dos casos de abuso e violência física infantil (incluindo a coação e a alienação parental) acontece por ação de parentes e pessoas íntimas da família, na própria moradia ou afins.
Estabelecer uma conversa franca com as crianças, dando-lhes, mediante discernimento e necessidade, informações suficientes para saber como se protegerem e criando um canal aberto para que venham falar, perguntar e relatar qualquer gesto estranho de outra criança, adolescente ou adulto para com ela é fundamental nos dias de hoje. E não, não quero aterrorizar ninguém, mas é inteligente da nossa parte – pais e educadores – nos mantermos atentos à situação, buscando inclusive proteger o filho alheio. Sim, este também é o nosso papel.
As imagens são do filme da década de 90, Um Tira no Jardim de Infância, estrelado por Arnold Shwarzenegger. Pra quem não lembra, o policial se disfarçava de professor para salvar um aluno e prender perigoso bandido. Mas a trama super bem feita trazia outros dramas infantis e familiares, como o caso de violência infantil. Lembram do professor dando uma lição no pai desse menino de cabelos pretos? Ele chegava a cada dia com novos machucados e a mãe dizia que a criança caía, se machucava sozinha. Mas bastou um professor corajoso e indignado - policial ou não - para colocar o pai agressor e a mãe submissa em seus devidos lugares. Nunca esqueci a a cena...
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Segundo o Hospital Pequeno Príncipe, somente em 2011 foram realizados 376 atendimentos de crianças com sinais de maus tratos. Segundo o Ministério da Saúde, foram registrados mais de 12 mil casos de violência fisica contra menores de dez anos em todo o Brasil. O aumento é de 14% em relação aos dados de 2010.
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