Ainda sobre educação e cidadania: "
Depois da publicação no jornal Destak da primeira das colunas sobre os 15 mitos da Educação publicados pela revista Nova Escola (veja abaixo) fui questionado por várias pessoas sobre o que indica que a ênfase à cidadania muitas vezes (não sempre) acaba levando ao abandono do ensino dos conteúdos. Vamos, então, a alguns esclarecimentos adicionais:
1) A linha do texto é a mesma da revista, apenas ampliei o debate.
2) Durante o tempo em que atuei no Todos Pela Educação, participei de muitos debates com a participação de educadores e ouvi de muito deles que o fundamental mesmo é preparar para a cidadania, os coneúdo vem em segundo lugar. Daí, por exemplo, a rejeição aos sistemas de avaliação, como o Prova Brasil, que, naturalmente, avalia os conhecimentos, as competências e habilidades.
3) Pesquisa CNT/Sensus mostra como a maioria dos professores pensa a esse respeito, ou pelo menos como pensavam em agosto de 2008, época do levantamento (veja acima).
4) Na leitura atenta do documento de referência da Conferência Nacional de Educação Básica, de 2008, fica evidente como se fala mais de conceitos vagos de cidadania do que do ensino de língua portuguesa e matemática, entre outros. Estre trecho é um exemplo:
'A gestão democrática como princípio da educação nacional, portanto, articula-se à luta pela qualidade da educação e se constitui nas diversas maneiras com que a comunidade local e escolar se organiza coletivamente para levar a termo um projeto político-pedagógico de qualidade e efetivar processos de participação, ao mesmo tempo em que objetiva contribuir para a formação de cidadãos críticos e compromissados com a transformação social'.
veja mais: http://conferencia.mec.gov.br/documentos/docreferencia.pdf)
5) Vale ainda ler o texto abaixo, de um trabalho de conclusão de curso de um estudante de pedagogia. Não há espaço para os conteúdo da dita 'educação para cidadania'?
Será possível encontrar objectivos para a educação para a cidadania? Parecem ser claros estes objectivos. Em primeiro lugar, visam a realização total e integral da pessoa. Visam a felicidade da pessoa que, para o ser, dá cumprimento à sua essência ontológica, valorizando os elementos constitutivos, concretamente a inteligência, a vontade, a consciência e a liberdade. A pessoa tem dons, capacidades naturais, valores e o estímulo ao seu rendimento é um dos papéis, o principal, da educação. Em segundo lugar, pretendem a inserção da pessoa na convivência e no diálogo, onde a igualdade seja valor teórico e prático fundamental, vivido e assumido sem complexos de nenhuma espécie. Educar para uma relação sadia, madura e positiva é um contributo essencial da educação. Importante, neste campo, a preparação para o acolhimento das diferenças, sejam naturais, ideológicas, raciais ou religiosas, vendo-as como enriquecimento pessoal e colectivo. Em terceiro lugar, exigem, como caminho para a relação na convivência, o respeito, a tolerância e, mais ainda, a amizade. Aceitar o outro como ele é, compreendê-lo nos seus defeitos, valorizar e aplaudir as suas qualidades são caminhos para a aproximação de todos, criando as bases de uma civilização do amor, de uma sociedade fraterna e pacifica, condições necessárias para o desenvolvimento na harmonia e na justiça. Em quarto lugar, reclamam a participação da pessoa na construção social como exigência, como possibilidade e como responsabilidade. Ser membro da 'cidade' a tempo inteiro exige uma participação responsável em tudo o que diz respeito à mesma cidade, tornando-se esta participação um direito e um dever. O bem estar colectivo, a felicidade das pessoas e a paz social (começando a experimentar tudo isto na escola) dizem respeito a todos e exige a colaboração e empenhamento de todos. Em quinto lugar, são objectivos da educação para a cidadania a solidariedade, a partilha, a atenção a todos e, especialmente, aos que têm mais dificuldades, seja em que campo for.
5) Por fim, quero repetir o último parágrafo da coluna, pois não sou um conteúdista radical:
'Também é mito que 'cabe à escola apenas ensinar conteúdos'. Essa é uma visão antiga e limitada. A escola tem seu papel na assimilação das regras de convívio social, por exemplo. É possível fazer isso sem abandonar os conteúdos essenciais. Basta competência e vontade.'"
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