Erika de Souza Bueno Consultora-Pedagógica
de Língua Portuguesa do Planeta Educação. Professora de Língua
Portuguesa e Espanhol pela Universidade Metodista de São Paulo.
Articulista sobre assuntos de língua portuguesa e família. Editora do
Portal Planeta Educação (www.planetaeducacao.com.br).
Quantos transtornos são causados quando não se dá ao
tempo um tempo hábil para que as coisas sejam devidamente resolvidas.
Quantos dos nossos alunos, filhos, amigos e parentes dão passos
certeiros em direção ao incerto.
Quantas vezes negamos a nós o direito de chorar por
algo que não deu certo e, no contraponto disso, quantas vezes negamos a
nós o direito de cessarmos o choro, erguemos a cabeça e seguirmos em
frente.
A cada tempo, uma nova realidade começa a ser
moldada. Nada é hoje como foi ontem e nada será amanhã como o presente
se tem mostrado, ainda que “um dia faz declaração a outro dia”, como
diz determinado trecho bíblico ao nos alertar sobre a nossa
responsabilidade de plantar para o amanhã.
O tempo precisa de tempo, de modo que consiga ter
fôlego para existir por mais alguns momentos. É assim que acontece com
pessoas que levam uma vida sedentária e, de uma hora para outra,
precisam sair correndo para não perder o horário de algum compromisso.
A pessoa sedentária pode até correr, mas como não
está preparada para tal, fica indisposta com maior facilidade, sente a
respiração pesada e acha que vai morrer de tanto cansaço, ainda que a
distância por ela corrida tenha sido ínfima.
Do mesmo modo ocorre também com pessoas que não
sabem dar tempo ao tempo, não sabem respeitar os limites, as placas de
“pare e reduza” que as estradas da vida nos mostram.
Quando “atropelamos o nosso tempo”, não conseguimos
continuar e, ainda que por um acaso venhamos conseguir, eliminaremos
qualquer chance de qualidade de vida, viveremos reclamando do “cansaço”
e do desgaste que são causados quando não damos tempo ao tempo para
que as coisas se acomodem.
Essas questões são muito delicadas de serem tratadas
e, consequentemente, de serem aceitas por nós e, ainda, de terem
espaço dentro de nós para, pelo menos, pensarmos com mais cuidado sobre
elas.
São consequências do mundo moderno, o qual tenta
impor a nós um fardo maior do que conseguimos carregar. Todos nós,
independente de qual fase estivermos passando, precisamos parar um
pouco às vezes e, ao fechar algum ciclo, temos, inevitavelmente, que
organizarmos a grande carga de sentimento dentro de nós e, tal como
numa “faxina”, descartar o que não poderá mais ser usado.
A grande diferença entre fazer uma faxina
tradicional é que nela “objetos” que não estão mais aptos para o uso
são descartáveis com grande facilidade e economia de tempo, o que
difere muito quando temos que “descartar” sentimentos que estávamos
acostumados a ter durante algum ciclo.
Esse tipo de “faxina” exige tempo de nós, de modo
que consigamos elaborar a perda ou o encerramento de algo que, por
quaisquer motivos, precisa ser finalizado.
Não dá para “atropelar” essa ordem, é algo que
precisa ser resolvido por nós mesmos e, de modo semelhante, precisamos
saber entender o tempo do outro, a necessidade que o outro tem para
organizar-se interiormente.
Assim como num dia de faxina doméstica, a “casa” da
pessoa que está no tempo de organizar-se fica, num primeiro momento,
até mesmo irreconhecível, pois está dando ao tempo chances de organizar
sentimentos e administrar frustrações.
Mas esse tempo termina e os resultados são
excelentes, pois a casa, a nossa casa interior fica livre de questões
mal-resolvidas, pois teve tempo hábil para ser remodelada.
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