segunda-feira, 4 de abril de 2011

Dar Tempo ao Tempo - Organização interna e pessoal

Erika de Souza Bueno Consultora-Pedagógica de Língua Portuguesa do Planeta Educação. Professora de Língua Portuguesa e Espanhol pela Universidade Metodista de São Paulo. Articulista sobre assuntos de língua portuguesa e família. Editora do Portal Planeta Educação (www.planetaeducacao.com.br).



Ampulheta com marcador azul de tempo
Quantos transtornos são causados quando não se dá ao tempo um tempo hábil para que as coisas sejam devidamente resolvidas. Quantos dos nossos alunos, filhos, amigos e parentes dão passos certeiros em direção ao incerto.
Quantas vezes negamos a nós o direito de chorar por algo que não deu certo e, no contraponto disso, quantas vezes negamos a nós o direito de cessarmos o choro, erguemos a cabeça e seguirmos em frente.
A cada tempo, uma nova realidade começa a ser moldada. Nada é hoje como foi ontem e nada será amanhã como o presente se tem mostrado, ainda que “um dia faz declaração a outro dia”, como diz determinado trecho bíblico ao nos alertar sobre a nossa responsabilidade de plantar para o amanhã.
O tempo precisa de tempo, de modo que consiga ter fôlego para existir por mais alguns momentos. É assim que acontece com pessoas que levam uma vida sedentária e, de uma hora para outra, precisam sair correndo para não perder o horário de algum compromisso.
A pessoa sedentária pode até correr, mas como não está preparada para tal, fica indisposta com maior facilidade, sente a respiração pesada e acha que vai morrer de tanto cansaço, ainda que a distância por ela corrida tenha sido ínfima.
Do mesmo modo ocorre também com pessoas que não sabem dar tempo ao tempo, não sabem respeitar os limites, as placas de “pare e reduza” que as estradas da vida nos mostram.
Quando “atropelamos o nosso tempo”, não conseguimos continuar e, ainda que por um acaso venhamos conseguir, eliminaremos qualquer chance de qualidade de vida, viveremos reclamando do “cansaço” e do desgaste que são causados quando não damos tempo ao tempo para que as coisas se acomodem.
Essas questões são muito delicadas de serem tratadas e, consequentemente, de serem aceitas por nós e, ainda, de terem espaço dentro de nós para, pelo menos, pensarmos com mais cuidado sobre elas.
São consequências do mundo moderno, o qual tenta impor a nós um fardo maior do que conseguimos carregar. Todos nós, independente de qual fase estivermos passando, precisamos parar um pouco às vezes e, ao fechar algum ciclo, temos, inevitavelmente, que organizarmos a grande carga de sentimento dentro de nós e, tal como numa “faxina”, descartar o que não poderá mais ser usado.
A grande diferença entre fazer uma faxina tradicional é que nela “objetos” que não estão mais aptos para o uso são descartáveis com grande facilidade e economia de tempo, o que difere muito quando temos que “descartar” sentimentos que estávamos acostumados a ter durante algum ciclo.
Esse tipo de “faxina” exige tempo de nós, de modo que consigamos elaborar a perda ou o encerramento de algo que, por quaisquer motivos, precisa ser finalizado.
Não dá para “atropelar” essa ordem, é algo que precisa ser resolvido por nós mesmos e, de modo semelhante, precisamos saber entender o tempo do outro, a necessidade que o outro tem para organizar-se interiormente.
Assim como num dia de faxina doméstica, a “casa” da pessoa que está no tempo de organizar-se fica, num primeiro momento, até mesmo irreconhecível, pois está dando ao tempo chances de organizar sentimentos e administrar frustrações.
Mas esse tempo termina e os resultados são excelentes, pois a casa, a nossa casa interior fica livre de questões mal-resolvidas, pois teve tempo hábil para ser remodelada.

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