terça-feira, 9 de novembro de 2010

Alunos e professores da rede são premiados na Maratona Rachel de Queiroz

A premiação faz parte do programa Rio, uma cidade de leitores

09/11/2010 » Autor: Juliana Gomes

A secretária Municipal de Educação, Claudia Costin, e os acadêmicos da Academia Brasileira de Letras (ABL) Arnaldo Niskier e Evanildo Bechara premiaram, nesta terça-feira (dia 10), na sede da ABL, os seis alunos da rede que elaboraram as melhores redações da Maratona Rachel de Queiroz. Em homenagem ao centenário de nascimento da escritora, os alunos do 8° e 9° anos e do Programa de Educação de Jovens e Adultos (Peja) apresentaram suas visões sobre a vida e obra da escritora. De acordo com a secretária Claudia Costin, o sucesso da Maratona só é possível por meio dos professores, que estimulam e resgatam o hábito da leitura nos alunos.



– A Maratona anterior, sobre Euclides da Cunha, já tinha atingido um bom nível entre os alunos da rede. A qualidade das redações, superada neste ano, me faz acreditar na educação pública do Rio de Janeiro. É possível que se faça um ensino exigente, para dar um salto na qualidade da Educação, com dança, música, teatro e literatura – afirmou a secretária Claudia Costin, emocionada.



A Maratona Rachel de Queiroz durou quatro meses e contou com 11 palestras de acadêmicos da ABL em escolas da rede municipal e nas Coordenadorias Regionais de Educação (CREs). Os alunos e professores que participaram das palestras receberam o livro “Evocações de Rachel de Queiroz”, organizado pelo acadêmico Arnaldo Niskier. Para o imortal e amigo da autora, a qualidade dos trabalhos superou as redações da Maratona Euclides da Cunha, realizada em 2009.



– O que mais me chamou a atenção, além da criatividade e qualidade da escrita, foi a clara adesão dos alunos às novas regras do Acordo Ortográfico. Isso também é fruto do trabalho heróico dos professores – observou o acadêmico Arnaldo Niskier.



Durante a premiação da Maratona, os alunos da Escola Municipal Cuba, coordenados pela professora Vera Bastos, apresentaram três peças teatrais sobre a obra de Rachel de Queiroz. A apresentação emocionou os participantes do evento ao abordar as principais obras da autora, como “O Quinze”, sobre a seca que assolou o serão nordestino em 1915.



Além da apresentação teatral, a aluna Stefanye Rafael Jardim, do 8º ano da Escola Municipal Barão da Taquara, representou os alunos premiados pela Maratona ao ler a sua redação sobre a vida da escritora brasileira.



– A ideia do meu texto veio do livro “A Menina que Roubava Livros”, do escritor australiano Markus Zusak – revela a aluna. Assim como na obra, o texto de Stefanye é narrado pela morte, que acaba se apaixonando por Rachel de Queiroz. Além da aluna, todos os alunos premiados e seus professores receberam três livros de literatura, um dicionário e uma gramática.



A Maratona Escolar Rachel de Queiroz faz parte do projeto Rio, uma cidade de leitores, cujo objetivo é estimular e resgatar o hábito da leitura prazerosa nos alunos e professores da rede municipal de ensino. Uma das principais iniciativas do programa é a Biblioteca do Professor. Por meio de votação online, a partir de uma lista de livros de literatura nacional e estrangeira, são escolhidos os dois mais votados de cada categoria para serem entregues aos professores e auxiliares de creche.



Confira abaixo a redação da aluna premiada Stefanye Rafael Jardim, da da Escola Municipal Barão da Taquara:

Lembranças



Esperei anos para ter essa oportunidade. Raramente tenho tempo, mas hoje reservei esses pequenos minutos para contar a essência de uma mulher que foi capaz de me fazer perder tanto tempo para acompanhá-la. E não foi em vão.



Rachel sempre foi muito tímida, pois ainda lembro-me do primeiro livro que ela leu “Ubirajara” de seu primo José de Alencar e sua voz dizendo bem baixinho, “Não entendo nada”, com apenas 5 anos de idade, não era obrigada saber.

Lembro da menina Rachel em sua casa em 1915, quando eu e ela olhávamos pela janela. A imagem, já conhecida por muitos menos por Rachel:a seca. Um sol rigorosamente quente. Nessa época trabalhei muito, pois a fome e a falta de esperança tiraram muitas vidas.



Em 1930, agora Rachel com seus 20 anos foi submetida a um rígido tratamento de saúde, estava com suspeita de tuberculose, doença que já me deu muito trabalho. Será que já era a hora? De repente eu a ouvi dizer: eu tenho que escrever.



Ela pegou uma cadeira, colocou uma almofada por trás de suas costas e ali diante de mim começou a escrever. Escrevia por horas que depois viraram dias e meses.



Resolvi aproximar-me e li o que estava escrito no papel que ela acabara de tirar, e quando olhei lembrei de tudo, do passado, de 1915, da menina Rachel com a parte da face molhada pela lágrima que escorria diante do que via. Esta realidade serviu para Rachel escrever a história de seus personagens. Ela era incrível, pensei. Ficou famosa com O Quinze.



Era de uma simplicidade extrema, sempre foi guerreira e sofreu muito, principalmente quando chegou o dia em que tive de levar embora sua filha com apenas 18 meses de vida. Infelizmente tive de fazê-lo.



Continuei acompanhando-a. Era incrível como ela escrevia tanto, onde ela arrumava tanta inspiração para escrever tantos romances e crônicas? Foi a primeira mulher a entrar para a Academia Brasileira de Letras.



Rachel sempre foi especial pra mim, e eu sempre achei que eu não teria coragem e força o suficiente para levá-la. Agora com seus 92 anos, era a hora certa.



Com um largo sorriso me acompanhou. Aproximei-me e disse o quanto a amava. Por incrível que pareça, a morte também pode se apaixonar.



Stefanye Rafael Jardim - 8º ano - Turma 1803
Professora orientadora: Lilian dos Santos de Mello Gonçalves
Direção: Guilherme Frederico Degou
Escola Municipal 07.16.041 Barão da Taquara

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