O Fantástico acompanhou durante um ano a rotina de jovens com mais de 100 quilos na luta contra a obesidade.
Um grupo de adolescentes de São Paulo, todos com mais de cem quilos, entrou num programa rigoroso pra perder peso. O projeto durou um ano e nós filmamos tudo. Você vai ver agora como foi.
“Você começou com um peso e está terminando com mais peso”, disse o médico a Breno, de 14 anos.
Tristeza pelos quilos a mais e satisfação pelos quilos que se foram! Ao longo de 2010, o Fantástico acompanhou a rotina de um grupo de adolescentes, todos com mais de cem quilos, na difícil tarefa de emagrecer. São eles: Breno, de 14 anos; Juliana, 18 anos e 122 quilos; Maria Eduarda, a Duda, 19 anos e 112 quilos; e Gabriel, 14 anos e 129 quilos.
Os adolescentes receberam ajuda de uma equipe. São profissionais da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) dispostos a trazer essa moçada de volta ao peso ideal.
“Não vou dizer pra você que eu tenho vergonha de ser gordinha, porque eu não tenho, mas me incomoda um pouco para comprar roupa”, comenta Duda.
“Academia nem pensar. Aquele povo magrinho, tudo sarado, malhando, malhando e só você de gordinha, é complicado”, conta Juliana.
“Metade do meu corpo é gordura, e o peso está muito acima do que eu deveria”, constata Breno.
Em fevereiro, os quatro começaram a guerra contra a balança. Um aparelho super moderno fez medidas exatas do corpo deles.
“Breno está com 145 quilos e deveria estar com aproximadamente 70 quilos”, aponta Ana Dâmaso, coordenadora da pesquisa.
O computador revela: Breno tem 73 quilos só de gordura. Ele tem tendência a diabetes, está com colesterol e pressão bem altos e com um grave acúmulo de gordura no fígado, chamado esteatose hepática, que preocupa os médicos. “Se não cuidada, pode desenvolver uma cirrose hepática, doença de pessoas que bebem muito álcool”, alerta a médica Ana Dâmaso.
Hora de se alongar e ir atrás do prejuízo! São três vezes de exercício por semana na universidade. Mas eles também vão ter que se mexer fora de lá. Gabriel joga futebol. Depois de um mês de tratamento, lá se foram seis quilos – é para comemorar! Ele tinha 52% de gordura no corpo e tendência a diabetes.
“Calça jeans é embaçado! Nunca tive uma calça jeans. Eu nunca usei. Quando eu ia comprar uma calça jeans, não tinha do meu tamanho”, conta Gabriel.
Encontrar roupa é um desafio. Maria Eduarda, a Duda, foi para o shopping com uma amiga. “Dependendo da loja eu não entro, porque as próprias vendedoras tratam a gente com preconceito por ser gordinho’”, comenta Duda.
Não basta gostar da roupa. Ela tem que servir. Na hora de provar a calça jeans... “Eu tenho até medo de rasgar, está apertadinho”, diz Duda.
“É muito difícil você ver uma filha usando calça 52. Uma menina com 19 anos. Ela sempre foi magra. Depois que ela fez 15 anos, ela começou a engordar muito. Em dois anos ela engordou 40 quilos”, lembra a mãe de Duda, Maria Aparecida da Costa.
“Tenho que perder 30 quilos exatos”, calcula Duda. Em um mês e meio, ela emagreceu seis quilos. No mês seguinte (maio), chega hora do "vamos ver".
“Esse mês foi um pouco difícil. Senti mais vontade de comer coisas que engordam. Massa, fast food, esse tipo de coisa, mas estou me controlando”, diz Duda ao médico. “Se não acelerar, não vai atingir a meta”,alerta o endocrinologista Lian Tock.
Duda diminuiu o ritmo e só perdeu um quilo nos últimos 30 dias. “Mês que vem vai ser melhor, eu garanto”, promete a jovem.
Agora é a vez de Juliana. Será que ela está seguindo o tratamento à risca? “O que preocupa a gente é que você emagrece e depois engorda”, avalia o endocrinologista.
Neste engorda-emagrece, ela passou de 122 quilos para 117 quilos. Mantém distância dos inimigos da dieta e, em casa, põe a mão na massa. Mas na escola, Juliana ainda sofre com as restrições: “Sanduíche de peito de peru, queijo e salada. Só que na verdade o que eu queria comer mesmo era um croissant”, confessa.
Os intervalos de aula são mesmo tentadores. O irmão quer boicotar a dieta do Breno, mas ele tem apoio de uma amiga especial, Jaqueline Silva de Oliveira.
“Se este é o sonho dele, e com certeza é o sonho dele emagrecer, para ele nunca desistir”, incentiva Janaina. “As pessoas chamavam de ‘bolo fofo’ e ‘baleia’, fazendo brincadeira porque ele era gordinho”.
Gabriel está obstinado. “Agora, somente grelhados ou assados! O que nós temos hoje? Assados”, comenta a mãe do jovem. “Tem que encher a pança de alface”, continua Gabriel.
Mas ele foi pego em flagrante.
“Durante a semana, eles até conseguem permanecer em dieta e no final de semana acabam, como eu gosto de brincar com eles, ‘pisando na jaca’”, explica a nutricionista Aline de Piano.
Breno, o mais gordinho da turma, sofre. A mãe conversa com o menino instantes depois de ele ter dado um soco numa porta de vidro e se machucado todo. “Estou de saco cheio”, protesta Breno.
“Qualquer coisa ele explode, ele briga com o irmão, briga com a irmã”, conta a mãe de Breno, Sandra Dias Correa.
“Antes eu podia comer um monte de coisa. Por exemplo: frios, por exemplo, eu só posso comer um. Não posso comer pão francês, tem que comer pão integral. Comer só isso? Sei lá, você chega a ficar com saudade”, comenta Breno.
Durante o tratamento, Breno viveu momentos de comilança, preguiça e ansiedade. “Acabei de chamar a menina que eu mais gosto para namorar e até agora eu estou sem a resposta. O que eu faço? Estou muito nervoso”, diz.
Fim de ano e fim de tratamento. A situação de Breno não é nada boa. Ele tinha 146 quilos. Agora pesa 152 quilos. Breno engordou e está com seis quilos a mais.
“Talvez a gente tenha que partir para algum outro método, talvez partir para a cirurgia bariátrica, mas isso a gente ainda vai ter que ver, porque se não preparar sua cabeça, também não vai resolver o problema”, explica Tock.
A notícia da possível cirurgia de redução de estômago é um choque. “É uma sensação de fracasso”, lamenta a mãe de Breno.
“Se tiver a fim de lutar para resolver esse problema, ano que vem ele continua com a gente”, diz o médico.
Chegou a vez de Juliana. Ela enxugou nove quilos. Saiu dos 122 quilos para 113 quilos. “Esse peso que você perdeu não foi suficiente para diminuir a gordura visceral, que é a gordura que vai causar uma série de problemas no fígado, nas artérias, no coração”, alerta o médico.
“Tudo que eu fiz de errado tem uma consequência. A balança não mente”, avalia Juliana.
Mesmo sem atingir a meta, Juliana sente as vantagens do corpo "mais leve". “Eu faço uma trajetória da minha casa até a escola todo dia. Antigamente eu ia numa lerdeza, parava para respirar e ficava cansada. Agora, não”, conta Juliana.
Gabriel comemora o fim do tratamento em traje de gala. A calça número 64 virou passado. Gabriel está 11 quilos mais magro. Tinha 129 quilos e agora tem 118. A gordura no corpo agora está em 45%.
“O que eu digo é assim: você terminou o tratamento hoje, mas você não curou a doença. Nós colocamos você num trilho. Se você sair fora do trilho, você vai engordar outra vez”, orienta o endocrinologista Lian Tock.
Duda chegou a perder dez quilos, mas recuperou dois. Terminou o tratamento com oito quilos a menos, mas deveria ser 30 quilos.
“Eu vi que só alimentação não dá certo, eu tenho que estar fazendo exercício físico para o resto da vida”, conclui Duda.
Ela conheceu Victor, que também participou do projeto da Unifesp e atingiu a meta: perdeu 30 quilos. “Nosso organismo está muito propício para ganhar novamente, então tem que manter o trem na linha”, comenta Vitor.
Dois dias depois da consulta, e mais calmo, Breno confessa: “À noite, principalmente, eu pego arroz gelado, pego feijão gelado, carne gelada, um monte de besteira para poder comer”.
“O que eu poderia fazer? Eu olhei para a geladeira, comecei a olhar o quarto e falei: ‘Vai ficar horrível’, mas eu vou colocar a geladeira no quarto”, diz a mãe de Breno.
“Foi um negocio muito bizarro. Você entra no quarto, vê uma geladeira. Provavelmente é por minha causa, para não assaltar”, comenta Breno.
“Não é só uma obesidade porque ele come errado ou porque ele não faz exercício apropriado. É isso e mais o fator que ele não tem uma máquina metabólica adaptada para o emagrecimento. A máquina dele é resistente ao emagrecimento”, explica a nutricionista Ana Dâmaso.
Breno vai ter uma nova chance, mas os que conseguiram emagrecer vão ter que continuar na linha.
“Vou continuar fazendo exercício e reeducando minha alimentação. Essa é a chave para emagrecer”, diz Juliana.
“Eu tinha dado uma deslizada, mas já voltei, já estou no trilho novamente e agora não saio mais”, garante Duda.
Confira a seguir os principais pecados cometidos pelos jovens e as melhores estratégias para emagrecer com saúde:
Dez pecados associados à obesidade:
- Excesso de comidas hipercalóricas
- Ingestão de álcool
- Sedentarismo
- Ingestão de líquidos durante as refeições
- Horário e local para refeições inadequados
- Qualidade de sono inadequada
- Fatores psicológicos (ansiedade e baixa autoestima)
- Baixo consumo de frutas, verduras e legumes
- Mastigação rápida
- Uso excessivo de computador, vídeo-game e televisão
Dez estratégias para um emagrecimento saudável:
- Reduza o consumo de doces e outros alimentos ricos em açúcar e gorduras saturadas
- Evite bebidas alcoólicas. Além de serem calóricas, seu consumo moderado oferece riscos à saúde
- Seja ativo. Pratique, pelo menos, 30 minutos de exercício físico regularmente
- Beba, no mínimo, dois litros de água por dia. Evite a ingestão de líquido durante as refeições, principalmente de refrigerantes
- Faça de quatro a seis refeições por dia, de preferência sentado à mesa. Não ‘pule’ as refeições
- Faça do seu quarto um ambiente propício para o sono. Procure dormir no mesmo horário e oito horas por noite. Dormir bem auxilia na regulação do apetite
- Não pense em ficar preocupado. Procure realizar atividades que sejam agradáveis
- Aumente e varie o consumo de frutas, legumes e verduras. Coma, no mínimo, cinco porções por dia
- Aprecie sua refeição. Coma devagar para que você tenha uma maior sensação de saciedade
- Utilize seu tempo livre com atividades físicas, aumentando assim seu gasto energético
Nenhum comentário:
Postar um comentário