FONTE: O GLOBO
GENEBRA - O abuso
de álcool mata 2,5 milhões de pessoas por ano, mais do que a Aids, a
tuberculose ou a violência, informou nesta sexta-feira relatório da
Organização Mundial da Saúde (OMS), que urgiu os governos a tomar
medidas para conter seu avanço. Segundo a OMS, a elevação da renda está
fazendo crescer o consumo de álcool em países da Ásia e África, enquanto
várias nações desenvolvidas e emergentes, como o Brasil, veem aumentar
os casos de bebedeiras excessivas, o chamado "binge drinking".
Apesar disso, alerta a organização, as políticas de controle do
consumo continuam a ser consideradas de baixa prioridade pelos governos,
mesmo diante do fato de cerca de 4% das mortes no mundo estarem
relacionadas ao álcool, seja como fator em acidentes de trânsito ou
tendo como consequência o desenvolvimento de câncer, doenças
cardiovasculares e cirrose. Isso sem contar os prejuízos econômicos
causados pelo absenteísmo e o custo para tratamento dos doentes.
De acordo com o relatório, a cerveja é a bebida preferida no
Brasil (54% do total de álcool puro consumido), seguida pelos destilados
(40%) e os vinhos (5%), com o 1% restante vindo de outros produtos que
têm como base arroz (saquê) e frutas (cidras etc). Em média, o
brasileiro com mais de 15 anos bebe 9,2 litros de álcool puro por ano e o
consumo da substância está ligado à morte de 7,29% dos homens e 1,41%
das mulheres acima desta idade.
No mundo todo, os homens também são as principais vítimas do
álcool, que responde por 6,2% das mortes, contra 1,1% entre as mulheres,
destaca a OMS. Só na Rússia e países vizinhos um em cada cinco homens
morre de causas relacionadas ao álcool. E os jovens são outro grupo sob
forte risco, sendo o álcool responsável por uma em cada dez mortes de
pessoas entre 15 e 29 anos, num total de 320 mil anuais. "O abuso do
álcool é especialmente fatal para os grupos mais jovens e principal
fator de risco de morte entre os homens com 15 a 59 anos de idade", diz a
publicação.
- O álcool é um assassino e não faz nada bem do ponto de vista da
saúde pública - comentou Melvin Freeman, funcionário do Ministério da
Saúde da África do Sul e um dos colaboradores para a confecção do
relatório.
Segundo a OMS, as taxas de consumo de álcool variam muito, sendo
mais altas nos países desenvolvidos e menores no norte da África, na
África subsaariana e no sudeste da Ásia, onde as grandes populações
muçulmanas se abstêm de seu uso. Na França e outros países europeus com
alto consumo, no entanto, os episódios de bebedeiras excessivas são mais
raros, sugerindo um padrão mais regular e moderado em seu consumo, já
relacionado com menores riscos de doenças cardiovasculares e de
derrames. "Mas o efeito benéfico de proteção do coração desaparece em
ocasiões de abuso", avisa a organização.
De acordo com o relatório, as bebedeiras excessivas, que
frequentemente levam a um comportamento de risco, agora são prevalentes
em países como o Brasil, Casaquistão, México, Rússia, África do Sul e
Ucrânia. No Brasil, 32,4% dos homens e 10,1% das mulheres relataram
terem feito isso pelo menos uma vez por semana em 2003. "No mundo todo,
cerca de 11% dos bebedores têm um episódio semanal de abuso, com os
homens prevalecendo sobre as mulheres numa proporção de quatro para
uma", acrescenta a organização.
Para a OMS, a elevação dos impostos sobre as bebidas alcoólicas é
a melhor maneira de conter o abuso, principalmente entre os jovens.
Outras medidas efetivas seriam o estrito cumprimento de regulamentos
relativos à idade mínima para o consumo e à mistura de álcool e direção,
somados a limitações para a publicidade e patrocínio de eventos pelos
fabricantes.
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