Dúvidas dos leitores: "
1ª) Ele tinha PAGO ou PAGADO a conta?
Aqui, você decide. Este assunto sempre provoca muita discussão. É a guerra dos particípios.
O particípio, que já foi chamado de particípio passado, geralmente termina em – ADO ou –IDO: falado, comunicado, empregado, vendido, perdido, partido, saído.
Alguns verbos irregulares apresentam formas diferentes: escrito, feito, posto, visto, aberto, descoberto.
O problema são alguns verbos que apresentam as duas formas: a regular (pagado, pegado, gastado e ganhado) e a irregular (pago, pego, gasto, ganho).
Há quem defenda o uso exclusivo da forma regular. Negam a existência da irregular. Para esses, deveríamos usar sempre: “ele tinha pagado a conta”, “ela havia pegado os documentos”, “o dinheiro já havia sido gastado”, “os pontos foram ganhados”…
Outros pensam o oposto. Dizem que as formas regulares entraram em desuso e que só deveríamos usar as formas irregulares: “ele tinha pago a conta”, “ela havia pego os documentos”, “o dinheiro já havia sido gasto”, “os pontos foram ganhos”.
Há uma terceira opinião. É a dos moderados, que aceitam as duas formas.
Se você quer saber a minha opinião, lá vai.
Estou com os moderados. Não vejo por que rejeitar as formas clássicas (pagado, pegado, gastado e ganhado) ou negar o novo, que principalmente no Brasil é uma realidade (pago, pego, gasto e ganho).
Quanto ao uso das duas formas, defendo a regra tradicional para os particípios abundantes:
1a) A forma regular só podemos nos tempos compostos (=com os verbos auxiliares TER e HAVER):
“Ele tinha pagado a conta.”
“Ela havia pegado os documentos.”
“Ele havia gastado o dinheiro.”
“Ele tinha ganhado os pontos.”
2a) A forma irregular pode ser usada com qualquer verbo auxiliar (SER, ESTAR, TER e HAVER):
“A conta foi paga”; “Ele tinha pago a conta”;
“Os documentos foram pegos”; “Ele havia pego os documentos”;
“O dinheiro já havia sido gasto”; “Ele havia gasto o dinheiro”;
“Os pontos estavam ganhos”; “Ele tinha ganho os pontos”.
Para terminar, outra observação. As formas “trago” e “chego”, como particípios, são inaceitáveis. Devemos usar apenas as formas clássicas: “Ele tinha TRAZIDO os documentos” e “ela já havia CHEGADO”.
Essa história de “ele tinha trago” ou de “ela havia chego” só se for piada.
2ª) INTERVIDO ou INTERVINDO?
“O juiz já havia INTERVIDO ou INTERVINDO no caso”?
Neste caso não há polêmica. O certo é INTERVINDO.
O verbo INTERVIR é derivado do verbo VIR. Deve, portanto, seguir o verbo primitivo:
Eu venho – eu intervenho
Ele vem – ele intervém
Eles vêm – eles intervêm
Nós vimos – nós intervimos (=presente do indicativo)
Nós viemos – nós interviemos (=pretérito perfeito do indicativo)
Ele veio – ele interveio
Eles vieram – eles intervieram
Eu vim – eu intervim
Se eu viesse – se eu interviesse
Quando eu vier – quando eu intervier.
Quanto ao verbo VIR, há uma curiosidade: é o único verbo cujo particípio é igual ao gerúndio:
“Eu estou VINDO de casa.” (gerúndio),
“Eu tinha VINDO de casa.” (particípio).
Portanto, se o particípio do verbo VIR é VINDO, os verbos derivados devem segui-lo: INTERVINDO, PROVINDO, ADVINDO…
A forma intervido simplesmente não existe.
3ª) COMPLETA ou COMPLETADA?
Muita gente acha estranho quando o Galvão Bueno diz: “quarenta voltas COMPLETADAS”.
Ele está certíssimo.
As duas formas existem, mas merecem uma observação quanto ao seu uso:
1o) COMPLETO é adjetivo. Deve ser usado quando qualifica um substantivo (=ao lado do substantivo ou após um verbo de ligação):
“Ele já deu duas voltas COMPLETAS.”
“A lista dos convocados já está COMPLETA.”
2a) COMPLETADO é o particípio do verbo completar. Devemos usar nos tempos compostos e na voz passiva:
“Ele tinha COMPLETADO quarenta voltas.”
“Quarenta voltas já foram COMPLETADAS.”
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