quinta-feira, 24 de novembro de 2011

Alunos e Professores: As quatro estações

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Alunos e Professores: As quatro estações:


Digo com freqüência aos alunos com os quais trabalho que nossas aulas são grandes oportunidades. Amplio o raciocínio explicando que não teremos outra chance de nos encontrarmos para abordar tais temáticas e, principalmente, para nos relacionarmos. Quando falo em relações humanas com os estudantes desejo explicitar a idéia de que os debates realizados nas escolas não apenas exploram temas relativos as disciplinas lecionadas por cada professor. Em cada encontro as possibilidades extrapolam os conteúdos e ampliam-se de forma a abordar nas conversas e explanações a própria essência do que significa ser humano.


Digo a eles que vivemos, nas escolas, as estações do ano. E explico que, como o verão, o inverno, a primavera e o outono, há princípio, meio e fim nesses ciclos. Ao me posicionar dessa forma quero lhes dizer que, apesar de muitos não pensarem nisso, esses encontros um dia cessarão e não nos encontraremos mais, ao menos nessa condição de mestres e aprendizes.


Deixo claro também que a educação ocorre sempre nos dois sentidos, ou seja, que os estudantes aprendem com os educadores assim como nós, professores, estamos sempre incorporando novos conhecimentos a partir de nossos encontros com os alunos. Não é uma rua sem saída, nem tampouco deve ser um monólogo o trabalho em sala de aula.


Isso não quer dizer que todos os professores pensam dessa maneira. Acredito que há muita gente na educação que compartilha esses princípios, senão na forma como foram apresentados, ao menos crendo que estamos ligados, pelo menos durante algum tempo, por um cordão umbilical aos estudantes, lhes fornecendo “alimentos” que permitam crescimento sadio, integral e pleno de seus corpos e mentes.


Quando me refiro às estações ao me dirigir aos estudantes explicitando a minha compreensão de nossos encontros em aula, entendo que há momentos em que vivemos situações de maior envolvimento como no quente verão, etapas de maior recolhimento que seriam os invernos, encontros de rara beleza caracterizados como a estação das flores, a primavera, e períodos de reflexão e maturação de tudo o que foi aprendido, que poderiam ser comparados com o outono.


Nem sempre sinto que sou compreendido pelos alunos quanto ao que estou lhes dizendo no tocante as quatro estações que vivenciamos em nossas aulas, principalmente quando os encontros ainda estão acontecendo. Há, evidentemente, estudantes que entendem a riqueza dessas reuniões periódicas desde o princípio de nossa relação na escola e que, em função disso, querem aproveitar cada minuto e momento de nossas aulas.


O mais interessante é que eles prolongam essa relação para além da sala de aula. Nos procuram nos intervalos, nos cumprimentam e conversam conosco fora do ambiente escolar, demonstram todo o apreço e carinho que sentem por nós até mesmo depois de terminados os nossos cursos. Aliás, essa é uma das lições que lhes procuro passar durante as estações que vivemos conjuntamente, ou seja, termina um ciclo, encerra-se o compromisso letivo, mas o principal legado disso tudo, o respeito e a amizade, a consideração e o apreço, esses são para sempre...


A grande maioria dos alunos só entende o valor dos encontros e dos ensinamentos depois de algum tempo, muitos deles apenas quando nossas primaveras e verões já se encerraram. A situação em questão é bem parecida com a própria relação que se estabelece entre pais e filhos, especialmente durante a adolescência e a fase inicial da vida adulta, quando o que dizem os progenitores parece “careta”, sem sentido ou desprovido de valor.


Passam-se alguns anos, os filhos amadurecem, a distância dos pais alimenta uma saudade indescritível de momentos felizes vividos na infância e os ensinamentos dados pela família começam a fazer sentido e a se concretizar na prática de vida das novas relações criadas por esses jovens.


Com os professores os ensinamentos também só passam a fazer sentido, em muitos casos, somente depois de algum tempo. Isso ocorre quando os estudantes se dão conta, na fila do banco, no exercício de sua profissão, ao ler um jornal, ao fazer uma especialização profissional ou ao lidar com os próprios filhos, que tal professor lhe ensinou ou aconselhou a pensar ou agir de uma maneira específica e que, naquele instante, tudo passou a fazer sentido, a ter lógica, a se encaixar como as peças de um maravilhoso quebra-cabeças.


Educar é, fundamentalmente, um ato de amor e de doação. Isso não quer dizer que somos, enquanto educadores, apenas bons samaritanos querendo realizar uma importante e imprescindível missão. Somos também profissionais e, ao nos posicionarmos dessa forma, assumimos perante a sociedade os nossos compromissos assim como deixamos claro que estamos preparados para o exercício competente dessa atribuição fundamental.


Não podemos, no entanto, deixar de destacar que há poesia em nossa realização profissional. Que ao ensinar estamos cuidando de jardins e permitindo que belas flores e plantas possam crescer com força, em seu total esplendor, deixando que todos sintam seus maravilhosos odores e que, a beleza desse canteiro florido e verde possa sensibilizar e fazer melhor o mundo em que vivemos.




Por João Luís de Almeida Machado

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