domingo, 25 de dezembro de 2011

ESTUDO CRIA MAPA DAS ÁREAS MAIS PROPENSAS À DENGUE

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ESTUDO CRIA MAPA DAS ÁREAS MAIS PROPENSAS À DENGUE:
Globalização e urbanização desordenada favorecem a circulação do vírus

A dissertação de mestrado intitulada Dengue no Brasil: abordagem geográfica na escala nacional mostra que a expansão da dengue em nível nacional a partir da década de 1980 é um efeito indireto do processo de globalização, que facilita a circulação do vírus responsável pela doença. Realizado por Rafael de Castro Catão, sob orientação do professor Raul Borges Guimarães, da Faculdade de Ciências e Tecnologia (FCT), Câmpus de Presidente Prudente, o estudo apresenta um mapa detalhado da doença em todo o país.

O grande desafio da pesquisa realizada por Catão foi o de compreender o contexto geográfico da doença na escala nacional, permitindo uma visão de conjunto, o que representava enorme lacuna no conhecimento desse tema - Raul Guimarães


Para analisar sua difusão, o pesquisador utilizou dados notificados por cada estado no período de 1981 a 2008. Em seguida, foram pontuadas as localidades onde houve casos de dengue. O impacto das cidades e da comunicação rodoviária na circulação do vírus pode ser melhor compreendido com o mapa síntese (ao lado) e com outros mapas menores que apontam a trajetória da dengue pelo interior do país a partir dos grandes centros regionais. Após a dispersão geográfica, comenta o estudioso, as epidemias são produzidas em escala nacional. 

A disseminação dos quatro sorotipos do vírus da dengue é feita quando uma fêmea do mosquito Aedes aegypti, que se alimenta de sangue, pica uma pessoa infectada e, pela saliva, transporta o microorganismo para outra. Sem medidas de combate, esse ciclo se multiplica no espaço geográfico na proporção da mobilidade urbana e entre regiões por meios rodoviário, aéreo e fluvial. 

Na análise do geógrafo, a circulação do vírus é favorecida também pela combinação de fatores sociais e ambientais. Entre os sociais ele cita o aumento do número de cidades e o crescimento das metrópoles, nem sempre em padrões adequados de urbanização. Aliado a isso, esses novos espaços concentram habitantes e moradias, boa parte delas inadequadas. “Casas sem abastecimento regular de água e coleta de lixo aumenta o número de focos” comenta. 

Símbolo negativo do desenvolvimento, a produção de lixo sem destinação final adequada tem participação no aumento das epidemias. “Embalagens do tipo PET (Politereftalato de etileno), pneus e sucatas descartados de forma incorreta transformam-se em potenciais criadouros do mosquito”, diz o estudioso. Por outro lado, em regiões onde o abastecimento de água é insuficiente, como no semiárido nordestino, os locais de armazenamento também constituem criadouro das larvas.


Clima e altitude

De acordo com o estudo, existe ainda a influência do clima nas epidemias. “O mosquito se ambienta bem melhor em cidades costeiras ou localizadas abaixo de mil metros de altitude com a umidade relativa do ar de moderada a alta”, destaca Catão. 

Não por acaso a Região Metropolitana do Rio de Janeiro é apontada como a grande metrópole do dengue. No período analisado, os dezesseis municípios da área metropolitana fluminense correspondem a 17,5% do total das notificações, com aproximadamente 520 mil casos acumulados. “Além da concentração dos episódios, a cidade registrou a entrada de novos sorotipos em locais onde já havia infestações e foi considerada importante na difusão do dengue pelo Brasil”, diz. 

Casos especiais

A dinâmica de difusão do vírus apontada pela pesquisa tem exceções. Na região Sul, por exemplo, observa-se pouca notificação de casos em função da temperatura média anual mais baixa. No entanto, o estado do Paraná, por situar-se em uma zona de transição, registra ainda algumas áreas de ocorrência mais intensa da doença, formando um arco entre Foz do Iguaçu e Maringá. 

Outra ressalva é a cidade de Goiânia (GO), cuja centralidade é reforçada pelas rotas de ligação entre estados e regiões em seu entorno. No estado do Mato Grosso do Sul, as fronteiras têm papel fundamental para a circulação do vírus e para a prevalência da doença generalizada em todo o estado. “No início da década de 1980 vários municípios paranaenses e sul-mato-grossenses foram infestados por Aedes aegypti provenientes do Paraguai”, explica Catão. 

Geografia da saúde é área nova no país

Segundo o professor Raul Borges Guimarães, orientador da pesquisa, desde a década de 1990 são desenvolvidos vários estudos geográficos sobre o dengue no Brasil. No entanto, quase a totalidade desses trabalhos tem como foco de análise a realidade regional. “O grande desafio da pesquisa realizada por Catão foi o de compreender o contexto geográfico da doença na escala nacional, permitindo uma visão de conjunto, o que representava enorme lacuna no conhecimento desse tema”, destaca Guimarães.

Os resultados da pesquisa foram apresentados no V Simpósio Nacional de Geografia da Saúde, realizado esta semana (de 12 a 14/12). O professor explica que, embora a geografia da saúde seja uma área de pesquisa consolidada no contexto internacional, o seu desenvolvimento no Brasil começou há apenas dez anos, tendo a dengue como destaque

Disponível em: <http://www.unesp.br/noticia.php?artigo=7862>. Acesso em: 24 dez. 2011

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