terça-feira, 13 de março de 2012

CIEP ANTÔNIO CANDEIA - Projeto Interdisciplinar “Formando Cidadãos”

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Projeto Interdisciplinar “Formando Cidadãos”:
O principal objetivo deste relato é mostrar como nós – professores do CIEP Antônio Candeia Filho, que atende principalmente à comunidade de Acari – conseguimos resolver o problema do tempo que deve ser reservado para a recuperação paralela na Educação de Jovens e Adultos e obter resultados surpreendentes. Mas, antes de entrarmos no mérito desta questão, é interessante citarmos algumas curiosidades sobre o CIEP e sua história.
Nosso CIEP – sim, ele é nosso, fazemos parte dele e ele, de nossa trajetória profissional – atende à comunidade de Acari, que tem um dos mais baixos Índices de Desenvolvimento Humano (IDH) do país. Ali, muitas famílias sobrevivem abaixo da linha da pobreza. Porém, pelo fato de o prédio não ter sido construído exatamente dentro da comunidade, e sim em um local um tanto afastado e ermo, na Avenida Brasil, nossa escola foi alvo de inúmeros ataques de vândalos e teve vários de seus recursos furtados.
Esses atos de vandalismo aconteciam regularmente – após um feriado prolongado, por exemplo, era muito comum, diria até quase certo, chegarmos à escola e nos deparar com cenas de depredações e constatar roubos. Felizmente, essas ações aconteciam quando a escola estava vazia, mas, de qualquer forma, prejudicavam muito o desenvolvimento de nosso trabalho. Até que a situação chegou a um nível insustentável e a escola quase foi fechada. Atendendo a um pedido da comunidade escolar, algumas providências foram tomadas e permanecemos prestando serviços àquela comunidade que tanto necessita de nosso trabalho.
A escola ressurgiu das cinzas, como uma verdadeira Phoenix. No entanto, toda aquela situação fez com que alguns alunos da Educação de Jovens e Adultos se afastassem. Nosso desafio era fazer com que eles voltassem a acreditar na escola e entendessem que o estudo é um instrumento de transformação em suas vidas. Não obstante, algo muito nos preocupava: o fato de os alunos apresentarem dificuldades enormes em leitura e escrita.
Como professores de PEJA II, do 2º turno, nosso desafio era preparar os alunos para o Ensino Médio. Mas, de que forma, se muitos mal sabiam ler e escrever? Este era um assunto constante nos Centros de Estudo, já que sem o domínio da leitura e da escrita, o aluno acabava por apresentar baixo desempenho nas demais disciplinas.
A recuperação paralela, com todos os alunos em sala, era algo que, na prática, não funcionava. E foi justamente em um dos Centros de Estudos que eu, professora de Língua Portuguesa, me propus a oferecer oficinas de letramento para os alunos com maior grau de dificuldade. A minha ideia era fazer uma triagem para encaminhamento dos alunos mais necessitados a essa oficina. Mas, e os demais? O que seria feito deles, já que não podíamos liberá-los fora do horário?
Estabelecemos, então, que aqueles que não ficassem na oficina de letramento, mas estivessem fracos em Matemática, por exemplo, frequentariam uma oficina oferecida pela professora desta disciplina. Quanto aos demais, seriam encaminhados a oficinas temáticas ministradas pelos professores de História, Geografia e Ciências. Durante duas semanas, eu e a professora de Matemática fizemos avaliações diagnósticas individuais com todos os alunos, das quatro turmas atendidas.
No meu caso, os alunos liam em voz alta e interpretavam um pequeno texto. Com a professora de Matemática, resolviam cálculos envolvendo as quatro operações. Definidas as oficinas, partimos para o trabalho em si.
Em sua maioria, nossos alunos são adolescentes e muitos presentavam problemas de disciplina ou de aprendizagem em outras escolas e enxergavam o CIEP como uma oportunidade de mudança. Alguns tinham sérios problemas de baixa autoestima e havia meninas grávidas e mães adolescentes. Era preciso reconquistá-los dia a dia.
No início das oficinas, eles ofereciam um pouco de resistência e não se aceitavam ter que trocar de sala na última hora de aula. Mas, com o tempo, criaram o hábito e já não reclamavam mais. Nas oficinas, trabalhei a Língua Portuguesa e a alfabetização de uma forma bem básica, muitas vezes lançando mão do lúdico, e encontrei vários níveis de aprendizagem, o que dificultou muito o meu trabalho. Foram necessárias atividades diversificadas para atender às necessidades dos vários grupos.
A professora de Matemática criou sub-oficinas, em que os alunos eram desafiados a resolver questões por etapas, só avançando após cumprir a anterior. Isso fazia com que se sentissem desafiados e ansiosos para resolver as questões.

O professor Walter (Ciências), ao lado das professoras Sílvia (Matemática), Márcia (Língua Portuguesa) e Nadir (Geografia e História)
A terceira oficina abordou temas polêmicos de interesse comum, como drogas, alcoolismo, DST, consumismo, cultura etc. Os professores trabalharam em conjunto e utilizaram diversos recursos para levar o aluno a produzir: CDs, DVDs e textos. Foi um trabalho árduo, de pesquisa e de planejamento para todos nós. Mas valeu a pena. Conseguimos ver resultados significativos. Alunos apresentaram melhora na leitura e na escrita, outros passaram a gostar de Matemática e da interação promovida nas oficinas de História, Geografia e Ciências.
Além disso, conseguimos nos aproximar mais dos alunos e promover um relacionamento melhor com eles, que passaram a nos ver como amigos e aliados no processo de crescimento deles – não só como alunos, mas como seres humanos. Criamos o blog “Educando Jovens e Adultos”, onde foram registradas diversas atividades desenvolvidas em sala de aula: http://pejantoniocandeia.blogspot.com/.
Em reconhecimento ao trabalho, fomos convidados a participar da semana de capacitação para professores de PEJA da rede municipal do Rio de Janeiro, relatando a experiência na abertura do ano letivo de 2012.
E assim, o CIEP Antônio Candeia Filho, especialmente a Educação de Jovens e Adultos, renasceu, agora com mais força e acreditando que vale a pena lutar por uma educação de qualidade. Estamos cada vez mais conscientes e comprometidos com o nosso trabalho, certos da importância da educação para aquela comunidade.
Márcia Cristina Neves Reis
Professora de Língua Portuguesa de PEJA no CIEP Antônio Candeia Filho, professora de Sala de Leitura no CIEP Zumbi dos Palmares e edocupedista produtora de aulas de Língua Portuguesa para o PEJA na plataforma digital Educopédia.

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