quarta-feira, 4 de abril de 2012

À procura de crianças superdotadas

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À procura de crianças superdotadas:
RIO - No mundo do futebol, os olheiros são designados pelos grandes times para descobrir novos talentos do esporte. Algo parecido acontece com alunos da rede municipal de ensino do Rio. Eles contam com caça-talentos de crianças superdotadas. Os estudantes selecionados recebem preparação especial para os disputados vestibulinhos das escolas públicas reconhecidas nacionalmente pela excelência no ensino, como os colégios Pedro II, Militar e de Aplicação da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
No Rio, o Instituto Lecca uma das ONGs brasileiras especializadas em ajudar a expansão desses pequenos gênios, conseguiu 17 aprovações de 24 inscritos no processo admissional para o colégio Pedro II. O instituto testa, todos os anos, em torno de três mil crianças de 50 escolas da rede municipal de ensino para selecionar apenas as 24 com maior potencial.
Para a a professora Maria Clara Sodré, doutora em educação especial pela Columbia University, de Nova York e diretora do Instituto Lecca, encontrar uma criança superdotada é tão importante quanto descobrir um poço de petróleo ou uma mina de diamante.
— Nossos resultados são ótimos: 90% dos alunos que prestaram prova para o Colégio Pedro II foram aprovados. O 1º, o 2º e o 3º lugares foram nossos — comemora a professora.
Ela se orgulha de crianças como Mariana Barbosa de Araújo, de 11 anos, primeira colocada, e Beatriz Costa de Souza, de 10, terceira lugar no concurso. Beatriz mora com os pais no Santo Cristo, na Zona Potuária do Rio. A renda da família vem dos salgados feitos por sua mãe e vendidos por seu pai, de porta em porta no bairro onde moram. Inferior a R$ 1.000, a renda não era suficiente para proporcionar atividades de reforço escolar à filha, que se sentia “agoniada” com o que lhe era oferecido na escola pública.
— A minha escola é muito fraquinha. Eu pego as matérias muito rápido. Tenho necessidade de desafios maiores — disse a menina, que sonha em ser arquiteta.
Mariana, por sua vez, divide um apartamento de um quarto no Bairro de Fátima com a tia, a mãe e o irmão. A única renda da família
é o salário que a mãe ganha como inspetora de colégio, que não chega a dois salários mínimos.
— As matérias na escola são passadas muito devagar, e eu sempre aprendo tudo muito rápido. Isso acaba me deixando entediada. Sempre que iam ensinar, eu já sabia — relata Mariana.
Embora sejam superdotadas, Mariana e Beatriz levam uma vida normal, com direito a curso de inglês duas vezes por semana, saem com as amigas e vão ao cinema.
— Engraçado, as pessoas acham que a gente não têm vida. Mas a gente tem vida normal. Fim de semana a gente se diverte. Eu, por exemplo, adoro ficar na internet navegando de bobeira ou jogando — disse Mariana.
O Instituto Lecca, localizado Rua do Carmo 8, no Centro do Rio, atende 48 alunos considerados superdotados em dois turnos, com 24 estudantes em cada um deles. Quem estuda na rede pública pela manhã assiste às aulas no instituto no período da tarde e vice-versa. Por dois anos, as aulas acontecem diariamente e contam com a supervisão de três psicopedagogas e duas professoras. No programa, os alunos têm aulas de matemática, português e redação, além de atividades específicas para o desenvolvimento do pensamento crítico, da criatividade e do pensamento ético.
— Aliamos à rotina de estudos, 40 minutos de jogos, lanches e passeios. O nosso objetivo é dar mais conhecimentos a essas crianças — explica a superintendente.
Graças ao complemento acadêmico, Beatriz seguiu desenvolver seu potencial. Antes, a habilidade de raciocínio rápido e a capacidade de aprendizagem era confundida com desinteresse e distração.
— Aprendo muito rápido. Sou a primeira da turma a acabar os exercícios. Fico entediada e então começo a conversar — desabafa.
Para Maria Clara, a falta de conhecimento e preparo dos professores torna esse tipo de jovem um problema para professores e para a
família, já que ele precisa de desafios constantes para se manter focado.
— Se o superdotado está em uma escola chata, ele tira notas baixas. Tem crianças que ficam bagunceiras, mas é porque a aula não está sendo bastante interessante — explica.
Segundo Maria Clara, a falta de informação e sensibilidade para identificar as habilidades demonstradas pelas crianças e adolescentes
faz com que muitos talentos continuem escondidos por aí. Pior, podem ser prejudicados pela falta de atendimento adequado.
Maria Clara diz que, embora o MEC tenha criado em 2005 os Núcleos de Atividade de Altas Habilidades/Superdotação (Naahs), com presença em 26 estados além do Distrito Federal, o trabalho de identificação desses alunos ainda é insatisfatório.
— No Rio de Janeiro, por exemplo, há quatro funcionários no MEC para identificar os superdotados em todo o estado — relata.
O MEC reconhece o atendimento limitado. No Rio de Janeiro, por exemplo, o Naahs, localizado em Niterói, possui uma única sala de
recursos que oferecem 10 oficinas nos turnos da manhã e da tarde para apenas 44 alunos.
Como identificar uma criança superdotada
As crianças com altas habilidades podem apresentar características e perfis diferentes. Algumas possuem grande aptidão acadêmica. Outras, artística. Veja características que podem ser sinais de que seu filho possui habilidades acima da média.
- Precocidade para ler: além de começarem a ler cedo (muitas vezes de forma espontânea), compreendem nuances da linguagem e possuem vocabulário avançado para a idade;
- Têm facilidade para aprender e capacidade para resolver problemas, demonstrando fluência e flexibilidade de ideias;
- São criativas, curiosas e críticas;
- Possuem boa concentração e boa memória;
- Têm interesse por problemas filosóficos, morais, políticos e sociais;
- São persistentes e perfeccionistas;
- Demonstram sensibilidade e senso de humor;
- São independentes e autônomas;
- Não gostam de rotina;
- Investem tempo e atenção no que gostam;
- Demonstram liderança e iniciativa;
- Detêm habilidade excepcional para talentos específicos como esportes, música, artes, dança ou informática.

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