Paula Adamo Idoeta
Da BBC Brasil em São Paulo
Disparidades persistentes entre homens e mulheres são “a principal barreira ao desenvolvimento humano” e se fazem notar no Brasil, segundo o Relatório de Desenvolvimento Humano divulgado pela ONU nesta quinta-feira.
O Brasil ficou na 80ª posição entre 138 países no novo Índice de Desigualdade de Gêneros (IDG), medido pela primeira vez pela ONU e lançado junto com o IDH (índice de desenvolvimento humano).
O índice brasileiro é de 0,631, num ranking em que notas mais próximas de zero significam mais igualdade entre gêneros, e notas mais próximas de 1 simbolizam extrema desigualdade.
Essas disparidades são uma barreira porque “não adianta crescer o produto (renda) sem dar oportunidades para as mulheres e se elas são penalizadas em temas de saúde reprodutiva”, disse à BBC Brasil Flavio Comim, economista do Pnud (braço da ONU para o desenvolvimento).
Os Países Baixos são os mais bem colocados no ranking, com nota de 0,174. Entre os holandeses, a taxa média de mortalidade materna foi de seis mortes a cada 100 mil nascimentos, contra taxa de 110 mortes observada no Brasil (média entre 2003 e 2008).
Nesta quinta-feira, o Ministério da Saúde contestou esse último dado utilizado pelo Pnud, qualificiando-o de desatualizado, e afirmou que a mortalidade materna brasileira é de 75 óbitos a cada 100 mil nascimentos.
Índice de Desigualdade de Gênero - ONU
Destaques de ranking de 135 países feito pela ONU (notas mais próximas a zero indicam mais igualdade entre gêneros; notas mais próximas a 1 indicam menos igualdade)
1) Países Baixos: 0,174
2) Dinamarca: 0,209
9) Itália: 0,251
37) Estados Unidos: 0,400
60) Argentina: 0,534
80) Brasil: 0,631
90) Colômbia: 0,658
135) Mali: 0,799
138) Iêmen: 0,853
A taxa de fertilidade na adolescência, outro dado que compõe o IDG, foi de 3,8 na Holanda entre 1990 e 2008, contra 75,6 no Brasil (a taxa reflete o número de nascimentos por mil mulheres de 15 a 19 anos).
‘Discriminação’
Segundo a ONU, “com muita frequência mulheres e jovens (do mundo) sofrem discriminação em (temas de) saúde, educação e emprego, o que acarreta uma série de repercussões prejudiciais na sua liberdade”.
As mais elevadas desigualdades de gênero do mundo são observadas em Camarões, Costa do Marfim, Libéria, República Centro-Africana, Papua-Nova Guiné, Afeganistão, Mali, Níger, República Democrática do Congo e Iêmen, países com um IDG médio de 0,79.
O Catar é apontado como o “mais afastado da igualdade de gêneros” entre os países com índice de desenvolvimento humano muito elevado.
Outro destaque negativo do relatório são os países do Cáucaso e da Ásia Central, onde “alguns líderes locais defendem o regresso a uma sociedade mais ‘tradicional’ e muitos relatórios sugerem um aumento repentino do tradicionalismo, com consequências para a descapacitação das mulheres”.
Nos Estados árabes em geral, a ONU aponta que as mulheres aumentaram sua participação no mercado de trabalho, mas em nível que chega apenas à metade da média global.
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