quarta-feira, 9 de março de 2011

Primeiro dia de aula....Quebrando o gelo...

João Luís de Almeida Machado Doutor em Educação pela PUC-SP; Mestre em Educação, Arte e História da Cultura pela Universidade Presbiteriana Mackenzie (SP); Professor Universitário e Pesquisador; Autor do livro "Na Sala de Aula com a Sétima Arte – Aprendendo com o Cinema" (Editora Intersubjetiva).




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A retomada do trabalho nas escolas segue um ritmo aparentemente comum a quase todas as instituições que conheço. O administrativo retorna logo depois da virada do ano para lidar com a papelada; o staff pedagógico vai voltando aos poucos, primeiro os diretores, depois os coordenadores e orientadores, para a composição dos planos e projetos para o novo ano que se inicia; os professores entram na roda apenas a partir dos últimos dez dias do mês de janeiro, para o planejamento pedagógico e reuniões com a direção.
Aos alunos, por sua vez, cabe o regresso apenas na semana inicial de fevereiro. Quando entram pelas portas da escola nos dias iniciais do segundo mês do ano já encontram a estrutura preparada para as aulas, atividades extra-classe, projetos relativos as disciplinas, atendimento por parte da secretaria e da coordenação/direção,...
As aulas, que representam pelo menos 90% do tempo gasto pelo aluno na escola, devem ser, por esse motivo (entre outros), objeto de estudo, planejamento qualificado e realização primorosa por parte dos docentes para que a motivação seja a tônica entre os estudantes.
Quantos professores realmente se preocupam em pensar e repensar com seriedade sua realização profissional em sala de aula de um ano para o outro? A acomodação com as fórmulas já testadas e utilizadas anteriormente tende a ser a prática mais comum não apenas em escolas brasileiras mas também em muitos países do mundo todo. O exercício a ser feito, diga-se de passagem, não deveria ser a reflexão sobre a aula apenas na passagem de um ano letivo para o próximo e, sim, aula a aula, semana a semana, mês a mês... Somente assim poderíamos realmente ter uma dimensão clara da efetividade e da qualidade de nosso trabalho na educação.
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Torne as reuniões de planejamento encontros que sejam realmente
produtivos e inovadores para o trabalho e a prática pedagógica.
Nesse ínterim, vale ressaltar que os resultados colhidos ao longo do ano dependem muito da consistência da proposta pedagógica da escola, do envolvimento dos educadores e da persistência em buscar e atingir os objetivos propostos. Seriedade, embasada por critérios e diretrizes claras, sem a mudança de regras ao longo da jornada, contando com o apoio e a participação de todos os professores e funcionários dão a qualquer plano de trabalho a consistência necessária para que a realização se torne um sucesso.
Os alunos percebem desde os primeiros dias de aula a seriedade da proposta de cada professor e, a partir da prática de sala de aula, transformam a compreensão do imediato e local para o mais amplo tanto no que se refere ao tempo quanto ao espaço e seus protagonistas. Isso quer dizer que a visão da escola como um todo se relaciona aos olhos dos educandos a postura e as realizações e implementações dos educadores com os quais têm contato nas aulas.
O sucesso na educação é decorrente, portanto, de uma construção que acontece todos os dias no processo de ensino-aprendizagem e que exige paciência, determinação, objetivos criteriosamente definidos, incentivo a participação constante dos alunos, projetos instigantes que relacionem os temas trabalhados a realidade e a conhecimentos previamente adquiridos pelos estudantes (tanto na escola quanto na vida extra-escolar). É preciso igualmente ter consciência de que qualquer realização, seja ela qual for (nesse caso na educação), passará necessariamente por experiências boas e também por outras ruins, por acertos e erros...
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Use o seu conhecimento em prol do grupo.
Argumente e participe suas opiniões sempre tendo em
vista o crescimento e a melhoria do trabalho de todos.
E os erros devem ser entendidos como oportunidades. Nossa completude é um sonho inconseqüente e irresponsável que cabe somente nas palavras de nossos melhores poetas e músicos. A perfeição não deve ser o nosso objetivo de vida e sim um horizonte que nos inspire em nossa trajetória para a obtenção de melhores resultados na busca por um mundo melhor, mais digno, justo e de paz.
Critique se for necessário. Pondere quando sentir que suas opiniões podem ajudar a compor um novo cenário nos trabalhos e projetos em que estiver envolvido. Argumente sempre tendo como matriz de seu pensamento idéias em que realmente acredite e relativamente às quais possua informações sólidas. Não utilize os erros dos outros para demolir suas proposições ou, principalmente, pessoas e grupos. Chega de competição nos moldes do mais selvagem capitalismo. O barco é o mesmo para todos e se não nos dispusermos a ajudar uns aos outros e estimular o crescimento conjunto de nossas instituições estamos fadados ao perecimento...
Aplauda e reconheça os méritos alheios. Participe opiniões em projetos vitoriosos para reforçar suas bases. Disponha-se a trabalhar sempre, em qualquer circunstância, seja ela de ventos favoráveis ou de tormentas da pior espécie.
Numa escola ou num hospital, numa grande indústria ou num banco, em um estabelecimento comercial ou numa fazenda, pouco importa o ramo de atuação profissional em que se trabalhe, deve-se levar em conta que o primeiro dia é sempre de fundamental importância para que imagens se consolidem entre os envolvidos e permitam uma melhor (ou pior) performance de cada indivíduo e do grupo como um todo.
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O capitão e os marinheiros somente sobrevivem ao mar quando
atuam de forma harmônica, estabelecendo um ambiente de intercâmbio,
troca, compreensão e auxílio. Numa sala de aula não é diferente...
Como a escola tem como base e firmamento a sala de aula, logo se estabelece que é nesse espaço que se ganha ou que se perde o jogo. E nesse sentido vale destacar que o capitão do barco é o professor e os marujos são os estudantes. Todos sabem e reconhecem que o conhecimento mais amplo sobre a embarcação e também sobre as técnicas náuticas pertence ao experiente capitão (professor). Todos também reconhecem que o navio só conseguirá navegar e atingir os portos nos quais deseja chegar a partir da ação dos marinheiros (alunos).
Se o contato inicial desse capitão com sua tripulação não for bom o que se poderá esperar para as viagens futuras da referida embarcação? Deve ficar claro para todos que não há estabilidade plena nos oceanos pelos quais todos irão navegar. Um dia pode ser de tormenta e o outro pode ser de total calmaria...
Nesse sentido é preciso sempre quebrar o gelo entre professores e alunos na aula inicial deixando claros alguns limites e estabelecendo canais de comunicação constantes entre o capitão e os marinheiros. Conheço professores que afirmam categoricamente que na primeira aula devem-se mostrar os dentes e dizer com clareza quem manda nesse espaço coletivo chamado sala de aula; a outros que pretendem ser muito “chegados” dos estudantes... Discordo totalmente dessas iniciativas. Nem tanto ao sol, nem tanto a lua...
Creio que aos estudantes devem ser apresentadas idéias importantes quanto ao curso, às avaliações, a disciplina, os projetos, a pessoa do educador, a instituição e também relativas ao conteúdo. Deve-se falar e escutar. Abrir espaço para apresentações, dúvidas, troca de idéias, sugestões e apreciações dos estudantes quanto ao curso, à escola e mesmo quanto às propostas do professor.
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Estabeleça o diálogo com os colegas e os estudantes. Fale e escute.
Aprenda a anotar as sugestões interessantes para poder implementá-las
posteriormente. Cresça em conjunto com seus pares no trabalho.
E não é só escutar. Ao professor cabe anotar as boas idéias e se mostrar disposto a pensar e eventualmente aplicar algumas dessas contribuições obtidas no contato com seus estudantes. Isso dá credibilidade ao curso e ao docente, estabelece uma comunicação que aproxima todos os presentes e ainda permite implementar o curso a partir da visão de quem está num outro importante papel, o de educandos.
E para melhorar ainda mais esse contato inicial e evitar os já habituais e exauridos modelos de apresentação formal dos estudantes e do próprio docente, que tal variar a fórmula e procurar incrementar a mesma adicionando elementos culturais, esportivos, geográficos, históricos, literários, artísticos ou científicos a esse exercício básico de toda a primeira aula do ano? Como? Que tal usar a imaginação...
Por exemplo, uma possibilidade seria trabalhar com trechos de músicas conhecidas (uns vinte ou trinta, de acordo com a quantidade de alunos de cada sala) que seriam disponibilizados para todos os estudantes. A cada um deles poderia ser pedido que escolhesse um daqueles trechos para falar de si mesmo. Alunos que selecionassem o mesmo trecho se reuniriam num mesmo grupo e trocariam informações sobre eles mesmos com os colegas e depois seriam apresentados por outras pessoas do grupo...
Outra alternativa seria a utilização de fotografias de personalidades da ciência, das artes ou dos esportes. Caberia aos alunos se agruparem de acordo com um sorteio ou pela preferência individual tendo uma dessas personalidades como base para uma conversa. Nesse bate-papo eles deveriam enumerar as qualidades do sujeito e, a partir de uma lista concebida pelo grupo, deveriam falar sobre si mesmos para o restante da turma.
Ainda a título de sugestão caberia por exemplo selecionar livros conhecidos do público-alvo de alunos e colocá-los em contato com os mesmos para que todos aqueles que já tivessem lido um determinado título pudessem se reunir para falar sobre a obra, o autor, a trama, os personagens e, com base no que conversaram sobre o livro, viessem a falar sobre as pessoas do grupo traçando paralelos com a trama do livro, os personagens, o autor,...
Há inúmeras outras alternativas que poderiam ser criadas. Todas demandam tempo de planejamento e criatividade. Libertem-se de suas amarras e mãos a obra para a concepção de uma alternativa que viabilize um começo de ano e de trabalho promissor para suas aulas e sua escola. Bom retorno a sala de aula!

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