João Luís de Almeida Machado Doutor
em Educação pela PUC-SP; Mestre em Educação, Arte e História da Cultura
pela Universidade Presbiteriana Mackenzie (SP); Professor Universitário
e Pesquisador; Autor do livro "Na Sala de Aula com a Sétima Arte –
Aprendendo com o Cinema" (Editora Intersubjetiva).
A retomada do trabalho nas escolas segue um ritmo
aparentemente comum a quase todas as instituições que conheço. O
administrativo retorna logo depois da virada do ano para lidar com a
papelada; o staff pedagógico vai voltando aos poucos, primeiro
os diretores, depois os coordenadores e orientadores, para a composição
dos planos e projetos para o novo ano que se inicia; os professores
entram na roda apenas a partir dos últimos dez dias do mês de janeiro,
para o planejamento pedagógico e reuniões com a direção.
Aos alunos, por sua vez, cabe o regresso apenas na
semana inicial de fevereiro. Quando entram pelas portas da escola nos
dias iniciais do segundo mês do ano já encontram a estrutura preparada
para as aulas, atividades extra-classe, projetos relativos as
disciplinas, atendimento por parte da secretaria e da
coordenação/direção,...
As aulas, que representam pelo menos 90% do tempo
gasto pelo aluno na escola, devem ser, por esse motivo (entre outros),
objeto de estudo, planejamento qualificado e realização primorosa por
parte dos docentes para que a motivação seja a tônica entre os
estudantes.
Quantos professores realmente se preocupam em pensar
e repensar com seriedade sua realização profissional em sala de aula
de um ano para o outro? A acomodação com as fórmulas já testadas e
utilizadas anteriormente tende a ser a prática mais comum não apenas em
escolas brasileiras mas também em muitos países do mundo todo. O
exercício a ser feito, diga-se de passagem, não deveria ser a reflexão
sobre a aula apenas na passagem de um ano letivo para o próximo e, sim,
aula a aula, semana a semana, mês a mês... Somente assim poderíamos
realmente ter uma dimensão clara da efetividade e da qualidade de nosso
trabalho na educação.
Torne as reuniões de planejamento encontros que sejam realmente
produtivos e inovadores para o trabalho e a prática pedagógica.
Nesse ínterim, vale ressaltar que os resultados
colhidos ao longo do ano dependem muito da consistência da proposta
pedagógica da escola, do envolvimento dos educadores e da persistência
em buscar e atingir os objetivos propostos. Seriedade, embasada por
critérios e diretrizes claras, sem a mudança de regras ao longo da
jornada, contando com o apoio e a participação de todos os professores e
funcionários dão a qualquer plano de trabalho a consistência
necessária para que a realização se torne um sucesso.
Os alunos percebem desde os primeiros dias de aula a
seriedade da proposta de cada professor e, a partir da prática de sala
de aula, transformam a compreensão do imediato e local para o mais
amplo tanto no que se refere ao tempo quanto ao espaço e seus
protagonistas. Isso quer dizer que a visão da escola como um todo se
relaciona aos olhos dos educandos a postura e as realizações e
implementações dos educadores com os quais têm contato nas aulas.
O sucesso na educação é decorrente, portanto, de uma
construção que acontece todos os dias no processo de
ensino-aprendizagem e que exige paciência, determinação, objetivos
criteriosamente definidos, incentivo a participação constante dos
alunos, projetos instigantes que relacionem os temas trabalhados a
realidade e a conhecimentos previamente adquiridos pelos estudantes
(tanto na escola quanto na vida extra-escolar). É preciso igualmente
ter consciência de que qualquer realização, seja ela qual for (nesse
caso na educação), passará necessariamente por experiências boas e
também por outras ruins, por acertos e erros...
Use o seu conhecimento em prol do grupo.
Argumente e participe suas opiniões sempre tendo em
vista o crescimento e a melhoria do trabalho de todos.
E os erros devem ser entendidos como oportunidades.
Nossa completude é um sonho inconseqüente e irresponsável que cabe
somente nas palavras de nossos melhores poetas e músicos. A perfeição
não deve ser o nosso objetivo de vida e sim um horizonte que nos
inspire em nossa trajetória para a obtenção de melhores resultados na
busca por um mundo melhor, mais digno, justo e de paz.
Critique se for necessário. Pondere quando sentir
que suas opiniões podem ajudar a compor um novo cenário nos trabalhos e
projetos em que estiver envolvido. Argumente sempre tendo como matriz
de seu pensamento idéias em que realmente acredite e relativamente às
quais possua informações sólidas. Não utilize os erros dos outros para
demolir suas proposições ou, principalmente, pessoas e grupos. Chega de
competição nos moldes do mais selvagem capitalismo. O barco é o mesmo
para todos e se não nos dispusermos a ajudar uns aos outros e estimular
o crescimento conjunto de nossas instituições estamos fadados ao
perecimento...
Aplauda e reconheça os méritos alheios. Participe
opiniões em projetos vitoriosos para reforçar suas bases. Disponha-se a
trabalhar sempre, em qualquer circunstância, seja ela de ventos
favoráveis ou de tormentas da pior espécie.
Numa escola ou num hospital, numa grande indústria
ou num banco, em um estabelecimento comercial ou numa fazenda, pouco
importa o ramo de atuação profissional em que se trabalhe, deve-se
levar em conta que o primeiro dia é sempre de fundamental importância
para que imagens se consolidem entre os envolvidos e permitam uma
melhor (ou pior) performance de cada indivíduo e do grupo como um todo.
O capitão e os marinheiros somente sobrevivem ao mar quando
atuam de forma harmônica, estabelecendo um ambiente de intercâmbio,
troca, compreensão e auxílio. Numa sala de aula não é diferente...
Como a escola tem como base e firmamento a sala de
aula, logo se estabelece que é nesse espaço que se ganha ou que se
perde o jogo. E nesse sentido vale destacar que o capitão do barco é o
professor e os marujos são os estudantes. Todos sabem e reconhecem que o
conhecimento mais amplo sobre a embarcação e também sobre as técnicas
náuticas pertence ao experiente capitão (professor). Todos também
reconhecem que o navio só conseguirá navegar e atingir os portos nos
quais deseja chegar a partir da ação dos marinheiros (alunos).
Se o contato inicial desse capitão com sua
tripulação não for bom o que se poderá esperar para as viagens futuras
da referida embarcação? Deve ficar claro para todos que não há
estabilidade plena nos oceanos pelos quais todos irão navegar. Um dia
pode ser de tormenta e o outro pode ser de total calmaria...
Nesse sentido é preciso sempre quebrar o gelo entre
professores e alunos na aula inicial deixando claros alguns limites e
estabelecendo canais de comunicação constantes entre o capitão e os
marinheiros. Conheço professores que afirmam categoricamente que na
primeira aula devem-se mostrar os dentes e dizer com clareza quem manda
nesse espaço coletivo chamado sala de aula; a outros que pretendem ser
muito “chegados” dos estudantes... Discordo totalmente dessas
iniciativas. Nem tanto ao sol, nem tanto a lua...
Creio que aos estudantes devem ser apresentadas
idéias importantes quanto ao curso, às avaliações, a disciplina, os
projetos, a pessoa do educador, a instituição e também relativas ao
conteúdo. Deve-se falar e escutar. Abrir espaço para apresentações,
dúvidas, troca de idéias, sugestões e apreciações dos estudantes quanto
ao curso, à escola e mesmo quanto às propostas do professor.
Estabeleça o diálogo com os colegas e os estudantes. Fale e escute.
Aprenda a anotar as sugestões interessantes para poder implementá-las
posteriormente. Cresça em conjunto com seus pares no trabalho.
E não é só escutar. Ao professor cabe anotar as boas
idéias e se mostrar disposto a pensar e eventualmente aplicar algumas
dessas contribuições obtidas no contato com seus estudantes. Isso dá
credibilidade ao curso e ao docente, estabelece uma comunicação que
aproxima todos os presentes e ainda permite implementar o curso a
partir da visão de quem está num outro importante papel, o de
educandos.
E para melhorar ainda mais esse contato inicial e
evitar os já habituais e exauridos modelos de apresentação formal dos
estudantes e do próprio docente, que tal variar a fórmula e procurar
incrementar a mesma adicionando elementos culturais, esportivos,
geográficos, históricos, literários, artísticos ou científicos a esse
exercício básico de toda a primeira aula do ano? Como? Que tal usar a
imaginação...
Por exemplo, uma possibilidade seria trabalhar com
trechos de músicas conhecidas (uns vinte ou trinta, de acordo com a
quantidade de alunos de cada sala) que seriam disponibilizados para
todos os estudantes. A cada um deles poderia ser pedido que escolhesse
um daqueles trechos para falar de si mesmo. Alunos que selecionassem o
mesmo trecho se reuniriam num mesmo grupo e trocariam informações sobre
eles mesmos com os colegas e depois seriam apresentados por outras
pessoas do grupo...
Outra alternativa seria a utilização de fotografias
de personalidades da ciência, das artes ou dos esportes. Caberia aos
alunos se agruparem de acordo com um sorteio ou pela preferência
individual tendo uma dessas personalidades como base para uma conversa.
Nesse bate-papo eles deveriam enumerar as qualidades do sujeito e, a
partir de uma lista concebida pelo grupo, deveriam falar sobre si mesmos
para o restante da turma.
Ainda a título de sugestão caberia por exemplo
selecionar livros conhecidos do público-alvo de alunos e colocá-los em
contato com os mesmos para que todos aqueles que já tivessem lido um
determinado título pudessem se reunir para falar sobre a obra, o autor,
a trama, os personagens e, com base no que conversaram sobre o livro,
viessem a falar sobre as pessoas do grupo traçando paralelos com a
trama do livro, os personagens, o autor,...
Há inúmeras outras alternativas que poderiam ser
criadas. Todas demandam tempo de planejamento e criatividade.
Libertem-se de suas amarras e mãos a obra para a concepção de uma
alternativa que viabilize um começo de ano e de trabalho promissor para
suas aulas e sua escola. Bom retorno a sala de aula!
Nenhum comentário:
Postar um comentário