Há também um desenho bastante conhecido e publicado em livros de história sobre o Brasil ou o Rio de Janeiro, intitulado “Palácio de Santa Cruz”, datado de sábado, 23 de agosto de 1823, cujo original faz parte de um dos acervos da coleção do Museu Britânico.
Palácio Imperial de Santa Cruz, agosto de 1823.
O desenho é de autoria da escritora inglesa Maria Graham, e aparece como uma das ilustrações do livro “Diário de uma viagem ao Brasil”, publicado e republicado por várias editoras. Maria Graham, que fez outros desenhos do Palácio Imperial de Santa Cruz, anotou abaixo da gravura: “Beirais das janelas amarelas. Portas, salvo as da igreja, verdes”.
Há cerca de dois anos, foi publicada uma biografia de Maria Graham por Regina Akel, que descreve o interesse inteligente da biografada em tudo o que via.
Biografia de Maria Graham, por Regina Akel
Akel procurou reconstruir a imagem literária de Maria Graham por meio das suas viagens significativas, do seu trabalho nos diversos países e regiões por onde passou, e também considerando os seus escritos de memórias, diários, revistas e cartas.
Sobre cartas, por exemplo, há no Brasil uma publicação dos Anais da Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro intitulada “Correspondência entre Maria Graham e a Imperatriz Dona Leopoldina.”
Com a morte do seu primeiro marido, capitão Graham, em 1822, a escritora inglesa, que se encontrava no Chile, passa, no ano seguinte, pelo Rio de Janeiro a caminho da Inglaterra, e se torna amiga íntima da imperatriz D. Leopoldina, que a convida para ser preceptora da princesa D. Maria da Glória, futura rainha de Portugal. Sempre interessada em desbravar novos lugares e manter contato com outras pessoas, Maria Graham resolve conhecer os arredores do Rio de Janeiro. “Resolvi cavalgar ao menos até Santa Cruz, cerca de quatorze léguas da cidade. Como a estrada é muito trafegada para se temerem acidentes extraordinários, e eu não sou tímida quanto aos embaraços habituais, resolvi contratar um empregado negro e ir sozinha”, anotou Maria Graham, no seu “Diário de uma viagem ao Brasil”, no dia 20 de agosto de 1823.
Ela não veio para Santa Cruz sozinha, mas em companhia de Dampier, jovem irmão de uma amiga chamada May, que gentilmente se ofereceu para escoltá-la. A descrição de Maria Graham é fascinante, tanto pelas observações que faz sobre aspectos geográficos, demográficos, geológicos, botânicos, culturais e históricos, quanto pelo olhar feminino, quando, por exemplo, passa pelo engenho de D.Mariana, na Mata da Paciência, quase chegando à Fazenda Imperial de Santa Cruz. “Tivemos aqui uma recepção das mais polidas por parte de uma bela mulher, de tom senhoril, que encontramos na direção de seu engenho, o que é de fato interessante” Maria Graham parece ter ficado muito bem impressionada com o funcionamento do engenho de Paciência administrado por uma mulher, de forma competente e produtiva, em pleno século XIX. “Há aqui 200 escravos, em pleno emprego. A máquina a vapor além dos rolos compressores no engenho move diversas serras, de modo que ela tem a vantagem de ter a sua madeira aparelhada quase sem despesa. Enquanto estávamos sentados junto à máquina, D. Mariana quis que as mulheres que estavam fornecendo canas, cantassem, e elas começaram primeiro com algumas de suas selvagens canções africanas, com palavras adotadas no momento, adequadas à ocasião.” Ainda na tardinha do dia 22 de agosto de 1823, Maria Graham seguiu para a Fazenda de Santa Cruz, pernoitando no Palácio Imperial, por recomendação do imperador e da imperatriz. “Sábado 23 de agosto – A manhã estava excessivamente fria, mas clara, e a vista das extensas planícies de Santa Cruz, com os rebanhos de gado, é magnífica. Os pastos estendem-se por muitas léguas de cada lado do pequeno morro em que estão colocados o Palácio e a povoação; são aqui e ali interrompidos por tufos de floresta natural; por um lado o horizonte estende-se até o mar; por todos os outros lados a vista é limitada por montanhas ou morros cobertos de florestas.” “Depois do café cavalgamos pela estrada calçada, que cruza a planície de Santa Cruz, até a aldeia indígena de São Francisco Xavier de Itaguaí, geralmente chamada de Itaguaí, fundada pelos jesuítas, não muito tempo antes da expulsão.”
Em todas as suas viagens, navegações e caminhadas, Maria Graham sempre demonstrou um especial interesse pelas observações ecológicas, tendo ela mesmo contribuído para a publicação da obra botânica denominada “Flora Brasiliensis”, coordenada inicialmente por Martius, e posteriormente por Eixhler e Urban, conforme trabalho de autoria de Ana Luna Peixoto e Tarciso de Sousa Filgueiras, intitulado “Maria Graham: anotações sobre a flora do Brasil”.
Exemplar herborizado coletado por Maria Graham, depositado no Royal Botanical Garden, Kew
Retornando ao centro do Rio de Janeiro, no dia 25 de agosto de 1823, após passar novamente pelo engenho de D. Mariana, em Paciência, Maria Graham volta a elogiar a administração. “É inútil dizer que tudo na maneira de viver da Mata da Paciência não é somente agradável, mas ainda elegante. (...) Fiquei muito triste por deixar esta manhã a Mata da Paciência, já que era tempo de voltar. Mas, como chegou a hora, partimos para os Afonsos.”
As transcrições acima foram retiradas da edição de 1990, do “Diário de uma viagem ao Brasil”, publicado pela editora Itatiaia, de Belo Horizonte, Minas Gerais em co-edição com a Editora da Universidade de São Paulo, USP, para a coleção “Reconquista do Brasil”, mas quem estiver interessado na edição original em inglês, de 1824, de “Journal of a voyage to Brazil, and residence there, during part of the years 1821, 1822, 1823. By Maria Graham.” Poderá ler consultando http://migre.me/4gCjh
Sinvaldo do Nascimento Souza
Professor representante da 10ª CRE no RIOEDUCA "
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