segunda-feira, 20 de junho de 2011

Abrir as portas da escola para a comunidade ajuda a minimizar o problema da violência

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Abrir as portas da escola para a comunidade ajuda a minimizar o problema da violência: "


Cultura, lazer e entretenimento são os principais temas estudados pela pesquisadora Ana Lúcia Hazin Alencar, da Fundação Joaquim Nabuco (Fundaj), em Recife (PE). Ex-professora da Universidade Católica de Pernambuco, ela é formada em filosofia, com mestrado e doutorado em sociologia.


Ana Lúcia Hazin participou da pesquisa “Programa Escola Aberta: alternativa de lazer e cultura para a comunidade?”, coordenada por Cleide Galiza, também da Fundaj. Para o estudo, realizado no período de 2007 a 2009, foram ouvidos 490 participantes do programa, distribuídos em 32 escolas.


Jornal do ProfessorEm sua opinião, qual é a importância do programa Escola Aberta para as escolas, alunos e para a comunidade?


Ana Lúcia Hazin O programa Escola Aberta (PEA) é direcionado, sobretudo, aos adolescentes e jovens em situação de vulnerabilidade social. Em geral, esses usuários pertencem a famílias de baixa renda e suas casas estão localizadas em bairros que apresentam graves deficiências ou até mesmo inexistência de infraestutura, serviços e lazer. Daí a importância do “Escola Aberta”.


A escola que abre suas portas nos finais de semana disponibiliza um espaço que passa a ser apropriado e ressignificado pelos seus frequentadores. Ao oferecer os diversos tipos de oficinas, a escola está dando continuidade ao processo de formação integral do indivíduo que participa de atividades culturais, esportivas ou de lazer.


Os alunos, por sua vez, ao terem oportunidade de fazer parte de grupos de dança, oficinas de teatro, grafitagem ou de experienciar outras práticas oferecidas pela escola, sentem-se inseridos e valorizados. Alguns deles, inclusive, após algum tempo de participação e aprendizado, passam a colaborar com o programa na condição de oficineiros.


O programa Escola Aberta beneficia também a comunidade, já que as consequências da carência de equipamentos culturais e de lazer são amenizados, pois os jovens passam grande parte do seu fim de semana na escola. Os pais, em especial, sentem que seus filhos estão em um lugar seguro, diferente da rua que é relacionada à insegurança, à violência e ao medo.




JP – Que tipo de atividades devem ser oferecidas pelo programa?


ALH – As atividades oferecidas nas escolas devem responder aos anseios dos jovens e contribuir para seu desenvolvimento oferecendo atividades lúdico-recreativas-formativas. São exemplos os cursos de informática, oficinas de capoeira e artesanato, aulas de atividades circenses, dança popular, moderna e futebol. Não se pode esquecer que um aspecto determinante na escolha das atividades a serem oferecidas é a disponibilidade de espaço na escola e a existência de pessoal (oficineiros e voluntários) que marque presença e atue junto aos usuários do PEA nos finais de semana.



JP – Qual o papel do programa no lazer e na socialização? Sabe-se que os moradores de comunidades carentes não dispõem de recursos para esse fim.


ALH – O PEA cumpre um importante papel nas comunidades ao fomentar o direito dos cidadãos ao lazer e à cultura, estimulando-os a repensarem suas práticas e a utilizarem seu tempo livre de forma criativa. Nesse contexto, as oficinas oferecidas, por sua própria natureza, possibilitam o encontro com o outro, uma vez que agregam pessoas em torno de diferentes atividades desenvolvidas nos espaços escolares nos fins de semana.



JP – Quais os principais benefícios gerados pelo programa?


ALH – Em que pese algumas deficiências técnico-estruturais o programa vem gerando, em graus diferenciados, a sociabilidade lúdica que o lazer permite estabelecer: há em geral um aumento do círculo de amizades e uma melhoria no convívio social com familiares, colegas e professores. Também possibilita o aprendizado de novas atividades, o que pode resultar em oportunidades de inserção no mercado e o despertar de talentos não revelados na escola regular.



JP – A sociedade enfrenta uma série de problemas que se refletem diretamente na escola, como a violência, por exemplo. Abrir as portas da escola para a comunidade pode contribuir para minimizar ou resolver estes problemas? Ou pelo contrário: abrir as portas da escola pode aumentar a vulnerabilidade dessas instituições?


ALH – Na minha concepção, abrir as portas da escola para a comunidade ajuda a minimizar o problema da violência, sobretudo a relacionada aos jovens que têm sido seu alvo principal. Quando se leva em conta as condições de moradia das famílias de baixa renda, observa-se um processo de expulsão progressiva, muitas vezes percebido como “natural”. Os moradores, especialmente o segmento infanto-juvenil, expropriados de espaços em suas próprias residências, assumem a rua como local de convivência social, ainda que inadequado. O “Escola Aberta” passa então a ser um “porto seguro”, lugar propício para se ocupar o tempo e a mente.



JP – A senhora participou de uma pesquisa que avaliou o trabalho do programa Escola Aberta em escolas de Recife. Quais as principais conclusões obtidas?


ALH – A pesquisa a que se refere denomina-se “Programa Escola Aberta: alternativa de lazer e cultura para a comunidade?” e foi desenvolvida por Cleide Galiza (coordenadora) e por mim, ambas pesquisadoras da Fundação Joaquim Nabuco, no Recife. Foram entrevistados 490 participantes do Programa Escola Aberta, distribuídos em 32 escolas visitadas.


A investigação, realizada para verificar as interferências do programa no cotidiano dos beneficiários, apresentou resultados que apontam mudanças no comportamento e um olhar crítico sobre o desenvolvimento do referido programa.


· Ao frequentarem as oficinas, os beneficiários têm a oportunidade de ampliar conhecimentos e conhecer novas profissões ligadas à arte cênica, como teatro e dança, ao áudio visual e à informática;


· Conhecer pessoas, ampliar as relações sociais são situações proporcionadas pela função integrativa do lazer;


· Oportunidade de sair da rua;


· Democratização do acesso à cultura propicia a “cidadania cultural”.



Fonte: Jornal do Professor/MEC

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