segunda-feira, 17 de outubro de 2011

Saber tradicional e lógica científica beneficiam a pesca, afirma estudo

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Saber tradicional e lógica científica beneficiam a pesca, afirma estudo:

Na Lagoa dos Patos, no Rio Grande do Sul, um desacordo entre a forma de exploração de uma comunidade de pescadores e a maneira de pensar a exploração de alguns pesquisadores das ciências naturais impede que políticas públicas para a região sejam efetivas.


Cotidiano e tradições são relevantes para pesca e políticas regionais.


Localizada na Ilha dos Marinheiros, segundo distrito da cidade de Rio Grande (RS), na Lagoa dos Patos, a comunidade foi base de um estudo etnográfico desenvolvido pelo oceanógrafo Gustavo Moura, durante seu mestrado no Programa de Pós-graduação em Ciência Ambiental (Procam) da Universidade de São Paulo (USP).


Segundo o pesquisador, as comunidades locais denominam “nosso mar” o pedaço da Lagoa dos Patos em que cada grupo vive e desenvolve sua pesca. “Tal desentendimento impede que políticas públicas para a região sejam efetivas e atuem realmente na conservação dos recursos naturais ou na expansão das liberdades de quem vive da pesca na região”, observa.


Para Moura, a ciência – por meio de suas metodologias e cálculos – não consegue dar respostas a todos os fatos, nem precisão absoluta nos dados sobre os fenômenos naturais. Ele defende, entretanto, que a ciência oceanográfica não seja desconsiderada, mas que experiências e valores humanos também sejam levados em conta no estudo de fenômenos naturais e na formulação de políticas públicas.


Fora da Lei


Atualmente, uma das questões mais polêmicas diz respeito à melhor época para pescar determinadas espécies. No caso do camarão-rosa, por exemplo, os pescadores não consideram que a melhor época para pescar seja de 1º de fevereiro a 31 de maio, como determina a lei de defesa do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais (Ibama).


“A natureza vista pelos pescadores tem uma lógica diferente da lógica científica. Uma espécie atinge o tamanho considerado bom pelos pescadores, frequentemente, numa data diversa da prevista em lei em quase todos os anos, antes ou depois de primeiro de fevereiro”, reflete Moura.


A troca de informações diárias entre os próprios pescadores é outra situação que alguns pesquisadores e agentes de fiscalização locais não conseguem compreender. Quando, como e onde pescar são decisões tomadas em espaços informais, como mesas de bares ou festas.


Para Moura, a incorporação das regras tradicionais de uso dos recursos naturais nas políticas públicas geram menores prejuízos ambientais do que se baseadas somente na lógica científica. “Além disso, pode trazer mais liberdade para os pescadores trabalharem, em vez da castração de liberdades como ocorre com a política atual”, complementa.


A dissertação Águas da Coréia: pescadores, espaço e tempo na construção de um território de pesca na Lagoa dos Patos (RS) numa perspectiva etnooceanográfica será publicada na forma de livro pela editora NUPEEA, em 2012, inaugurando no Brasil e no exterior as obras na área de etnooceanografia.


(Com informações da Agência USP)

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