quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

O cotidiano faz do aluno escritor

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O cotidiano faz do aluno escritor:

“Para que conheçam nossa história, para que nosso trabalho seja reconhecido e para passar algo a eles”. (A.P., aluna da 1902)


Sou Professor I de Língua Portuguesa, educopedista no projeto Educopédia, e participo de uma revolução na qualidade da educação pública da cidade do Rio de Janeiro. Pretendo apresentar, neste relato, a experiência de aplicação de uma sequência didática, realizada durante o último semestre deste ano letivo com os alunos de 9º Ano da Escola do Amanhã Fernando Barata Ribeiro.


O objetivo do ensino da língua materna é desenvolver a competência comunicativa dos estudantes (PCN, 1998). Nessa competência, dois importantes objetos de ensino têm sido abordados, por vezes, de modo improdutivo na escola: a variação linguística e a produção textual.


Sendo assim, a pertinência de minha sequência didática está em dotar de valor fundamental esses dois pontos nodais, visando a reconhecer no estudante um “estrategista da linguagem” (KOCH, 2006). Instado no processo de autoria e de letramento, foi-lhe assegurado o direito de ser sujeito de linguagem, de organizar seu dizer conforme seus propósitos comunicativos, para, de modo intencional e expressivo, construir crônicas, produzindo efeitos de sentidos diversos e despertando o interesse dos leitores.


A sequência partiu da ideia de que o falante culto é aquele que melhor adequa sua linguagem às diversas situações (PRETI, 2004), e perfez o seguinte caminho:


a) Estudo do gênero crônica: os alunos leram crônicas de diversos autores e de variados tons (poéticos, críticos, reflexivos, humorísticos), para compreender aspectos composicionais, temáticos e estilísticos do gênero, seus domínios, seus suportes e suas linguagens;


b) Realização de uma primeira produção: os alunos produziram crônicas livremente, para que fosse realizada uma diagnose das convenções da escrita e de seus perfis sociolinguísticos, de modo que estas categorias auxiliassem as intervenções vindouras do professor;


c) Leitura das crônicas selecionadas pelo professor: os alunos leram criticamente crônicas de autores consagrados, fazendo macroanálises dos textos, com focos nos aspectos sociais (idade, profissão escolaridade), situacionais (formalidade e informalidade) e geográficos (origens rurais e urbanas de localidades brasileiras), juntamente com microanálises, que consideraram aspectos linguísticos (fonéticos, morfossintáticos e léxico-semânticos), empregados pelos autores como intento estético para construir a verossimilhança dos enredos e dos personagens e narradores;


d) Produção final das crônicas: os alunos produziram crônicas, buscando aliar estratégias de variação linguística aos universos de personagens e narradores criados em seus enredos, de modo verossímil, seguindo processos de planejamento, produção e revisão dos textos, mediados pelo professor.


Conscientizar-se do trânsito entre as diversas variedades, padrão e não padrão, da língua e se apoderar do modo como elas são tecidas nas crônicas, certamente despertou em meus alunos um novo olhar sobre o uso linguístico, menos preconceituoso e mais humano.


A aplicação da sequência gerou excelentes frutos: um livro artesanal, que reúne as produções, e um blog, que pode ser acessado em barata9ano2011.criarumblog.com. Essas realizações dotaram os textos dos estudantes de sentido social, já que, como disse uma das minhas alunas, “ninguém escreve pra não ser lido”.


Anderson de Souto (PI – Língua Portuguesa)


 

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