terça-feira, 12 de junho de 2012

Filmes e minisséries ensinam literatura brasileira

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Filmes e minisséries ensinam literatura brasileira:
Mesmo que as adaptações de grandes títulos da literatura brasileira não substituam a leitura dos livros, ver os personagens de clássicos nas telas do cinema ou da TV pode motivar os estudantes a retornar aos textos com outra visão da narrativa. “Muitos alunos que não são habituados a ler acham difícil transformar o que está naquelas páginas em imagens, sons, personagens e ideias”, explica Cláudio Caus, professor de literatura do Cursinho da Poli de São Paulo.
Caus ressalta que não se pode condensar toda a narrativa em algumas horas, mas, para o professor, assistir às adaptações antes de ler os livros é um método válido como ponto de partida, pois facilita a combinação de elementos visuais retirados do filme ou minissérie com outros gerados pela interpretação pessoal do leitor. Confira abaixo algumas dicas de adaptações que podem enriquecer a leitura de clássicos brasileiros.
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Vidas Secas (1963)
O famoso livro de Graciliano Ramos sobre uma família de retirantes nordestinos foi adaptado para o cinema em uma produção cujo valor artístico foi reconhecido internacionalmente: Vidas Secas foi indicado à Palma de Ouro no Festival de Cannes de 1965. Com direção de Nelson Pereira dos Santos, o filme tem marcada influência do neorrealismo italiano e do Cinema Novo. “As técnicas desse movimento, como o improviso e a câmera na mão, rendem recursos rudimentares de imagem que combinam com o ambiente rústico da história”, comenta Cláudio Caus.
De acordo com o professor, o próprio livro é uma obra plástica, que compõe quadros por meio de figuras de linguagem e parece pensado para ser um filme. Devido a isso, várias cenas parecem se adequar muito bem ao cinema, como aquela que expõe o significado da palavra “inferno” ao menino mais velho. “A referência visual do filme demonstra o quanto a descrição de inferno feita pela mãe corresponde ao espaço em que o menino vivia”, explica Caus.
Grande Sertão: Veredas (1985)
Considerado um dos maiores romances brasileiros já escritos, o livro ganhou uma adaptação para a TV em comemoração aos vinte anos da Rede Globo, com direção de Walter Avancini. Cláudio Caus destaca as cenas de ação reproduzidas na minissérie, que conta as peripécias do jagunço Riobaldo pelos sertões de Minas Gerais e da Bahia. O professor acrescenta que a composição visual da produção foi facilitada pelo estilo do autor Guimarães Rosa. “Ele é um escritor bastante detalhista, que providencia um repertório descritivo muito rico ao leitor”, comenta. No elenco, estão nomes como Tony Ramos, Tarcísio Meira e Bruna Lombardi no papel de Diadorim, personagem-chave com quem Riobaldo mantém um relacionamento único.
Memórias Póstumas (2001)
Uma das obras mais célebres de Machado de Assis ganhou uma adaptação para o cinema em 2001, com direção de André Klotzel. O filme segue a mesma estrutura do livro e desenvolve a história em dois tempos, apresentando a vida de Brás Cubas quando jovem (interpretado pelo ator Petronio Gontijo) narrada pelo personagem depois de morto (representado por Reginaldo Faria).
Para Caus, a adaptação cinematográfica sucedeu em capturar a ironia machadiana, que permeia a obra literária de forma sutil e constitui sua essência. “Na atuação do Brás morto, elementos como as expressões faciais e a narração denotam o cinismo com que o personagem enxerga as relações humanas”, analisa o professor.
Capitu (2008)
A mais recente releitura de Dom Casmurro, clássico de Machado de Assis publicado em 1899, foi exibida pela TV Globo com direção de Luis Fernando Carvalho. A minissérie chamou atenção por pontuar o visual anacrônico dos cenários e figurinos com elementos modernos, o que rendeu cenas como a de um suntuoso baile cuja música era providenciada por MP3 e fones de ouvido.
Logo no primeiro capítulo, o espectador se depara com o protagonista Bentinho no metrô, introduzindo a história a outro passageiro. Para o professor Cláudio Caus, a atualização do romance não só resultou em uma adaptação bem-sucedida como mostra que a obra não está parada no tempo. “A modernização da narrativa serve para mostrar que a obra de Machado de Assis é atemporal: por mais que o tempo passe, os valores humanos, as convenções sociais e jogos de interesse permanecem”, afirma.

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