terça-feira, 18 de dezembro de 2012

LEGAL !!! - Alunos de curso de saúde comunitária contam como ajudam a mudar comunidades

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Alunos de curso de saúde comunitária contam como ajudam a mudar comunidades:

Dos 65 participantes do curso, 61 são mulheres Foto: Gutemberg Brito
Após oito semanas de intensas discussões sobre temas como habitação, nutrição, água, lixo, dengue, parasitose, HIV e doenças sexualmente transmissíveis, os alunos do curso Saúde Comunitária: uma Construção de Todos já estão transformando sua rotina e a de seus amigos e familiares. A iniciativa é coordenada pelo pesquisador Antonio Henrique de Almeida de Moraes Neto, do Instituto Oswaldo Cruz, da Fundação Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz), vinculada ao Ministério da Saúde, e a cerimônia de formatura dos 125 estudantes que participaram desta terceira edição foi realizada nos dias 14 e 15 dezembro. O curso foi promovido em dois campi da Fiocruz: em Manguinhos, na Zona Norte da cidade do Rio de Janeiro, e em Jacarepaguá (Fiocruz Mata Atlântica), na Zona Oeste. Agentes de saúde comunitários a moradores de áreas de risco destas regiões foram contemplados.
De acordo com Antonio Henrique, a iniciativa foi elaborada levando em conta os principais problemas enfrentados pelos alunos em suas regiões. “O conhecimento é construído em parceria com os estudantes, ou seja, por meio de diálogos e formação de conceitos”, explicou o pesquisador. Participaram da cerimônia de conclusão do curso em Manguinhos a vice-diretora de Ensino, Informação e Comunicação do IOC, Helene Barbosa; Leonardo Brasil Bueno e Mayalu Mattos, da Assessoria de Cooperação Social da Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca (Ensp/Fiocruz) e Moraes Neto. Já na formatura dos alunos do campus de Jacarepaguá, compareceram Leonardo Mello e Andréia Vanine, do Programa de Desenvolvimento do Campus Fiocruz da Mata Atlântica (PDCFMA/Fiocruz), além de Moraes Neto.
Os cursos tiveram início em outubro e também contaram com atividades de inclusão digital, como módulos de informática. Na turma de Manguinhos, as aulas foram realizadas de segunda à sexta-feira e, dos 65 participantes, 61 eram mulheres. “Como os homens estão mais inseridos no mercado de trabalho e nós damos preferência aos candidatos que não estão trabalhando, o número de mulheres é expressivo. Com o fim do curso, cabe a elas serem as promotoras locais de saúde”, afirmou o especialista.
Conhecimento transformado em ação – Muitos alunos já estão dando os primeiros passos, como é o caso da dona de casa Maria Luiza Teodoro da Silva, moradora da comunidade de Santa Edwiges, em Brás de Pina, Zona Norte do Rio. Ela contou que antes do curso, o lixo era motivo de brigas dentro e fora de casa. Como há catadores de material reciclável na região, sua vizinha costumava jogar resíduos e objetos pela janela, que caíam fora do ponto de coleta e próximo ao quintal de Maria, atraindo ratos e entupindo o esgoto da rua. “Meu marido limpa a entrada de nossa casa toda manhã e sempre reclamava em voz alta. Mas eu lhe pedia para não criar caso, para deixar para lá”, confessou a dona de casa de 58 anos. As aulas acabaram lhe dando coragem para agir de forma prática frente ao problema: com uma amiga, Maria fez uma placa pedindo que não jogassem mais lixo naquele local. “Fui conversar com minha vizinha, que já tinha chegado ao ponto de jogar areia de obra pela janela. Desde então ela melhorou muito e as pessoas passaram a sujar menos a rua”, comemorou.
Já a filha de Maria Luiza, Raquel Silva Gomes, de 16 anos, sonha ser médica e fica especialmente atenta às aulas sobre doenças. Na escola, ela já alertou seus colegas sobre o costume de manter as janelas da sala fechadas durante as aulas. “Um dia eu falei que alguém podia acabar pegando uma doença séria, como tuberculose, e todo mundo ficou assustado. Concordaram em abrir, mas como são adolescentes e cada um quer as coisas à sua maneira, eu tenho que sempre estar lembrando”, explicou. Mas não é só o seu redor que a jovem propõe transformar. Desde que assistiu à aula sobre doenças parasitárias, Raquel tenta parar de roer as unhas. “Eu não sabia que era uma forma de transmissão e nem que vermes podiam causar tantos estragos a uma pessoa”, apontou. “É difícil porque é uma mania que eu tenho, mas estou me esforçando”, disse.
Liderança e estratégia na resolução dos problemas – Simone Quintella, 47 anos, já é veterana no curso. Funcionária da Fiocruz, Simone também participou da edição de 2011 e acaba de assumir a diretoria da Associação de Moradores da Comunidade do Amorim, próxima ao campus. Assim como Maria Luiza, ela identifica o lixo como principal problema em sua região e já planeja um mutirão de conscientização. Como a coleta é realizada apenas dois dias na semana, os resíduos ficam expostos por muito tempo na rua, acarretando em mau cheiro, proliferação de insetos e destruição das sacolas por cães. O intuito é difundir entre os moradores o costume de levar os resíduos ao ponto de coleta apenas nos dias específicos. “A mosca que pousa naquele lixo entra na nossa casa, pousa na nossa comida e nos transmite doenças. Deixar o saco fechado num cantinho da cozinha ou do quintal não custa muito e pode ajudar”, explicou. A possibilidade de esquentar água para o banho através da captação da energia solar por meio de placas fotovoltaicas encantou Simone, que vê na energia renovável uma forma de poupar o bolso do morador e o meio ambiente. “Seria ótimo se pudéssemos implantar essa tecnologia lá e já estou em contato com o professor para saber como podemos fazer isso”, disse.

Um novo começo – Para Elisângela Martins, 31 anos, moradora da Vila do João, o curso rompeu com mitos e ressuscitou sonhos. Ela agora sabe que comer doces demais não provoca e nem acusa verminoses, e que no combate aos piolhos, o que faz a diferença é o pente fino. “Eu abandonei o curso técnico de enfermagem quando meu filho nasceu, há sete anos, mas aqui eu tomei uma decisão: vou voltar a estudar”, confessou a dona-de-casa, que hoje tem cinco filhos. Ela pretende se especializar em geriatria, área com a qual já teve contato quando trabalhava como acompanhante de idosos. “Já busquei informações na Escola Politécnica da Fiocruz e pretendo até mesmo fazer um doutorado um dia. Está difícil arranjar pessoas qualificadas para cuidar dos idosos, eles voltam a ser crianças, a família não tem paciência e os profissionais são despreparados”, analisou. Os alunos que obtiveram frequência mínima de 75% receberam um certificado na formatura. “É muito gratificante ver que a instituição está de fato preocupada com o entorno, a ponto de trazer a comunidade para dentro da Fiocruz para falar de saúde. Estão todos de parabéns”, conclui Simone.
Fonte: Fiocruz

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