quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

MUITO LEGAL - A inspiração que mora ao lado

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A inspiração que mora ao lado:
“Quem nasce no estado de pobreza extrema e consegue emergir se torna um ponto fora da curva. Costumo dizer que sou um erro de cálculo”, é assim, com um diálogo rápido, emendando histórias umas nas outras, que o jornalista Eduardo Lyra, 25, se define. Nascido numa comunidade de baixa renda em Guarulhos, na Grande São Paulo, Lyra diz ter sido um menino sonhador, criativo e com vontade de construir algo relevante. Fatores, afirma, que o levaram a concluir o curso de jornalismo e a escrever o livro Jovens Falcões, que reúne histórias de pessoas que, assim como ele, conseguiram se tornar “um ponto fora da curva”. Deu tão certo que agora ele visita escolas públicas para inspirar jovens a transformarem suas vidas.
Desde o início deste ano, Lyra, que atualmente vive em Poá, região metropolitana de SP, fundou o Gerando Falcões, projeto no qual visita as escolas públicas do estado para realizar palestras de superação para crianças e adolescentes. “Assim que nasci, meu pai decidiu nos levar para a favela. Quando se nasce na periferia, as chances ficam mais ralas, já que muitas pessoas vivem sem referências, sem qualquer tipo de espírito de transformação. Mas a missão é provar por A mais B que eles podem ser tão grande quanto quiserem”, diz ele, que ontem esteve com ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e constantemente tem se encontrado com pessoas que considera ícones do país, como a ambientalista Marina Silva e o médico Dráuzio Varela.


crédito Rudall30 / Fotolia.comEduardo Lyra Falcões

A rotina de Lyra é puxada. Semanalmente, ele percorre em média três escolas públicas. Somente em 2012, cerca 25 mil jovens já ouviram suas palavras, que tratam de valores de transformação e resgate da autoestima. Nas palestras, ele conta como conseguiu superar as dificuldades e menciona exemplos de personagens de seu livro, que conseguiram ir além dos dados estatísticos. Para 2013, a meta é dobrar o número de estudantes atendidos, além de incluir oficinas de teatro e hip-hop e expandir a atuação do projeto para outras regiões do Brasil como Bahia e Rio de Janeiro. “Um dos principais problemas de quem mora na periferia é que não há autoestima e entusiasmo. Uma menina faz um desenho na sala de aula, mas não recebe um elogio. Um menino marca um gol no campinho do bairro e não sabe que é talentoso e que pode ser um grande jogador de futebol. Ou um jovem que canta de forma magistral e é impedida de sonhar que pode gravar um CD.”
Livro
Antes de ir a escolas estimular os jovens a fugirem do destino óbvio, em 2009 Lyra arriscou o que tinha para contar boas histórias. Ainda na faculdade, vendeu seu notebook e outros itens pessoais para juntar dinheiro para viajar por oito estados para entrevistar os jovens personagens de seu livro, Jovens Falcões. A primeira edição foi independente, mas fez tanto sucesso que, na semana passada, teve sua segunda edição lançada pela editora Novo Século, na qual foram incluídas mais três histórias, contabilizando agora 14 experiências.

Reprodução

“Quero fazer com que outros meninas e meninos possam construir redes de networking. Não basta ter energia e criatividade, é preciso ter mentores que os ajudem nesse processo de mudança.”
Uma das histórias de vida narradas é a de Alessandra França, 26, que, em 2009, depois de ler o livro O banqueiro dos Pobres, de Muhammad Yunus, Prêmio Nobel da Paz de 2006, decidiu criar o Banco Pérola, que concede empréstimos para jovens pobres de Sorocaba. Outro exemplo é o de João Felipe, 25, ex-morador de periferia que atualmente trabalha na ONU e é consultor para assuntos da juventude pela Unicef.
Depois do livro e do projeto com as escolas, Lyra, que recebeu o prêmio de repórter revelação pelo Instituto Itaú e é membro do Global Shapers – desdobramento do Fórum Econômico Mundial que reúne líderes com menos de 30 anos e com potencial para mudar o mundo – agora planeja ir ainda mais longe. Pretende mentorear projetos que busquem criar um lastro de contatos entre mentores e jovens em todo o Brasil. “Quero fazer com que outros meninas e meninos possam construir redes de networking. Afinal, não basta ter energia e criatividade, é preciso ter mentores que os ajudem nesse processo de mudança, diz.”

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