quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

Internet pode ter ajudado os que já leem, dizem especialistas



Juliana Doretto
Especial para o UOL Educação
Em Brasília
O que vem antes? O tempo gasto com a rede mundial de computadores ou o desenvolvimento da leitura? Analistas ouvidos pelo UOL Educação apontam que os dados divulgados pelo Pisa não estabelecem uma relação de causa e efeito entre as tarefas online e a melhor performance do estudante . Uma das hipóteses é que os alunos que já têm habilidades desenvolvidas sejam também os que mais leem online.
Zoraide Faustinoni, pedagoga da ONG Cenpec (Centro de Estudos e Pesquisas em Educação, Cultura e Ação Comunitária), explica que, como o relatório do programa não tece uma relação entre o tipo de material com que o aluno mais trabalha na rede e o seu desempenho na prova, não se sabe se o estudante lê na internet porque já tem boa capacidade de leitura desenvolvida ou se consegue essa habilidade com o texto da rede.

“É preciso pensar em como se forma um leitor. É indiscutível que o jovem do século 21 tem de ter acesso à internet. Quanto mais acesso às fontes onde os textos circulam, melhor. Mas o que os jovens leem online? E-mail e conversas representam um nível de leitura mais elementar, diferente de uma notícia, por exemplo”, diz.

A pedagoga sugere que para que o estudante se interesse por textos mais complexos, desenvolvendo procedimentos de leitura mais eficientes, ele precisa não apenas de acesso ao material mas também do auxílio de “leitores mais experientes”, papel que tem de ser exercido sobretudo pela escola e pelo professor. “Apenas colocar o menino na frente do computador não resolve. Não existe uma relação mágica.”

Veruska Ribeiro Machado, que em seu doutorado em educação pela UnB (Universidade de Brasília) estudou o primeiro ciclo do Pisa (2000, 2003 e 2006), concorda com Zoraide Faustinoni ao se perguntar se “o hábito de ler online contribui para o desenvolvimento de habilidades de leitura ou o leitor proficiente recorre mais à leitura online?”. Ela ressalta que o “letramento digital” demanda o desenvolvimento de novas habilidades, mas não acredita, no entanto, que apenas o tempo que se passa na rede possa influenciar o desempenho dos estudantes. “Há outros fatores que precisam ser analisados nesse contexto”, diz.

Ela observa ainda que, como o teste de leitura do Pisa trabalha com textos que pertencem a diversos gêneros (que nem sempre são trabalhados em sala de aula), a internet pode ter servido também como um treino involuntário para o exame. “Os gêneros escolares não dão conta da diversidade de textos que circula na sociedade. Entretanto, para aqueles estudantes que têm contato com maior diversidade de textos em meio digital, é possível que os textos da prova de leitura do Pisa tenham sido mais familiares, facilitando, assim, a sua compreensão.”

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