quinta-feira, 14 de abril de 2011

Escolas devem ser cada vez mais públicas

Escolas devem ser cada vez mais públicas: "
O prefeito do Rio, Eduardo Paes, mostrou lucidez e coragem ao se contrapor ao clamor por medidas extremas de segurança nas escolas públicas após o massacre de Realengo, em que 12 alunos morreram e dez sofreram ferimentos (dois deles, internados em estado grave). Diz ele: 'Não queremos transformar nossas unidades em bunkers. Queremos, cada vez mais, as pessoas e a comunidade dentro das escolas'.

Paes vai na mesma linha de especialistas que enxergam além do episódio, trágico, mas isolado. O ataque não serve de parâmetro para a discussão de políticas públicas, sejam de segurança sejam de educação. A coragem está no fato de que é sempre mais fácil para o político dizer o que as pessoas querem ouvir, mesmo que depois decida na direção oposta.

'Nos EUA, onde esse tipo de massacre ocorre com mais frequência, eles não conseguem evitar novos casos nem reduzir a violência nas escolas com medidas como as que estão sendo propostas (detector de metais e seguranças armados na entrada dos prédios)', diz Paula Louzano, doutora em política educacional pela Universidade de Harvard e consultora da Fundação Lemann.

E mais: a preocupação exagerada com segurança tira foco (e dinheiro) do que deve ser prioritário: ensinar os alunos. Segundo ela, a Filadélfia, que optou pelo modelo de tolerância zero na escola, se vê hoje diante de um quadro em que há mais guardas do que profissionais de apoio pedagógico nas unidades de ensino (professores excluídos), sem os resultados esperados. Diante disso, essa cidade americana está revendo prioridades. No Brasil, escolas municipais, estaduais e federais ainda são mais estatais do que públicas.

A maioria dos pais vê o sistema público de ensino como algo 'do governo' e prefere manter distância, da mesma forma que pagaria para não ter de enfrentar a burocracia dos órgãos do Estado. O prefeito tem razão: o caminho é envolver a comunidade, pois a participação dos pais contribui para a qualidade de ensino.

É claro que isso não significa transformá-las em praças abertas: há necessidade de porteiros e vigias, para preservar o patrimônio e proteger todos da criminalidade comum. Mas é difícil imaginar que em um ambiente de presídio seja possível oferecer a educação de que o país precisa.

Texto publicado em minha coluna no Destak (13/4). Na foto, morador de Realendo pintando a casa em que morou Wellington, e que havia sido depredada (luís gomes/folhapress).
"

Nenhum comentário:

Postar um comentário