FONTE: RADIS
Alunos participam de palestras e debates sobre a rotina escolar, diversidade e violência
“O papel da
escola começa em admitir que é um local passível de bullying, informar professores e alunos e deixar claro
que o estabelecimento não admitirá a prática”, diz o cartaz afixado no mural do
Centro Interescolar Estadual Miécimo da Silva, localizado no bairro de Campo
Grande, Zona Oeste do Rio de Janeiro. A receita é simples e, nessa escola, parece funcionar.
"Tratamos todos com respeito, logo não admitimos desrespeito com ninguém"
Rosana Leite de Farias, diretora do Centro Interescolar Estadual Miécimo da Silva
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O Miécimo, como é
conhecido, é uma escola pública, com 1.592 alunos cursando ensino médio, médio
integrado (isto é, que oferece também o curso técnico) e pós-médio (curso
técnico voltado àqueles que concluíram o ensino médio) — profissionalização em
Administração, Edificações e Informática. Quem percorre os corredores que
circundam o pátio central vê paredes limpas e salas bem conservadas, e observa
um aparente clima de cordialidade entre alunos, professores e funcionários.
Os casos de violência
são raros no Miécimo: “Os alunos acabam se adaptando ao jeito da escola”, busca
explicar a diretora Rosana Leite de Farias, que assumiu a função há dois anos,
depois de passar seis como adjunta. “Nossa escola não tem violência”, afirma,
ressalvando que ocasionalmente precisa lidar com “questões pontuais” —
principalmente bullying contra alunos e
professores. “Tratamos todos com respeito, logo não admitimos desrespeito com
ninguém”.
A escola opta pela
prevenção. Os alunos participam de palestras e debates, voltados a temas como
diversidade e violência. Os representantes de turma são reunidos em seminários
para discutir questões relacionadas à escola e, em seguida, compartilham o que
discutiram com os colegas. Atuar “imediatamente”, nas poucas vezes em que se
detecta algum tipo de discriminação, também surte efeito. O aluno agressor é
chamado para uma conversa. Se a medida não for suficiente, os pais são envolvidos
e vêm à escola para ficar cientes da situação e fazer sua parte na busca de uma
mudança de comportamento do aluno. Os casos que persistem são comunicados ao
Conselho Tutelar — o que só ocorreu duas vezes, em oito anos. “Foram casos de
alunos que debochavam de professores e colegas”, conta Rosana. Em última
instância, o aluno pode ser convidado a sair da escola, o que até hoje não
aconteceu.
seminários
"Minha nova turma me recebeu bem, como se nada tivesse acontecido"
Pedro Zacharias, do 1º ano de Administração do ensino médio integrado
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Quando fui reprovado,
achei que seria zoado por estar repetindo o ano, mas minha nova turma me recebeu
bem, como se nada tivesse acontecido”, conta Pedro Taranta Zacharias, aluno do
1º ano de Administração, no ensino médio integrado. Fernanda Ayres,
representante de sua turma do 4º ano de Administração, diz que nunca viu caso
de bullying ou outra forma de agressão na escola. “Muitos
colegas têm apelidos, mas não são ofensivos”, diz. E como diferenciar
brincadeira de agressão? Ela responde: “Quando a pessoa se chateia, já não é
mais brincadeira”.
"Quando a pessoa se chateia, já não é mais só brincadeira"
Fernanda Ayres, representante da turma do 4º ano do curso
técnico de Administração do Miécimo da Silva
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Fernanda participou dos
seminários voltados à prevenção de violência. Em 2009, o tema foi bullying.
No ano passado, a diversidade esteve em pauta. Coube à professora de
Sociologia e Filosofia Jessica Zacarias falar sobre diversidade
cultural. “Conversamos sobre o estranhamento natural que
sentimos em relação a
pessoas de outras culturas, tentando trazer a questão para
o cotidiano e passar
a mensagem de não discriminação”, relata. Jessica não
esconde as dificuldades
da profissão, mas diz se sentir mais plena do que
angustiada. “Sempre destaco
os aspectos positivos dessa carreira: ver os alunos
crescendo para além de seus
limites, alguns estimulados a se tornar professores”.
"Sempre destaco os aspectos positivos dessa carreira: ver os alunos crescendo para além de seus limites"
Jéssica Zacarias, professora de Sociologia e Filosofia
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Nas aulas de inglês,
todo ano, os alunos são chamados a apresentar trabalhos sobre bullying — iniciativa do professor da disciplina, que, ao
longo da vida profissional, fora alvo de discriminação. Jefferson Alves e Ana
Carolina Sansão, do 4º ano de Administração, fizeram o trabalho juntos e
concordam em que não é comum ver na escola casos como os que examinaram. “É
muito difícil acontecer e quando acontece logo é resolvido”, diz Ana.
Thamires Alves, do 2º ano, também relata um ambiente de bem estar.
“Fazemos parte de uma família, somos conhecidos pelo nome”. Na sala da direção,
alunos entram e saem livremente. “Atendo todo mundo sem hora marcada”, conta
Rosana. “É muito importante termos um ambiente como esse”, diz Fabianne
Cristine Bernardes, do 4º ano de Administração. “Quando passo por problemas, é
aqui que me livro deles”. è
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