sábado, 7 de maio de 2011

Professores relatam esgotamento e frustração

FONTE: RADIS
Sensação frequente de esgotamento, frustração e até vontade de mudar de profissão. Essas são apenas algumas consequências das falhas estruturais da educação e da rotina exaustiva dos professores. “Nosso desafio é enorme, mas quando as relações na escola não estão boas o sentimento é o de nadar contra a maré”, comenta Anne Pimentel dos Santos, professora há 22 anos — atualmente trabalhando na rede pública do município do Rio de Janeiro.
Pesquisa sobre violência nas escolas realizada em 2007 pelo Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo (Apeoesp) com delegados de seu 19º encontro descreve um ambiente de mal-estar, permeado por desencontros, em que as agressões verbais fazem parte do dia a dia. “Comportamentos antes vistos como comuns são, agora, encarados como ameaçadores, provocando medo”, diz o relatório final, que reporta a impressão de que os conflitos da instituição escolar não podem mais ser tratados pedagogicamente — o que “reitera a posição de fragilidade e escassa autoridade dos integrantes do corpo profissional da escola”.
Entre os professores entrevistados, 87% afirmaram ter ciência de casos de violência ocorridos na escola onde trabalhavam em 2006. A violência verbal foi a prática mais citada, seguida por atos de vandalismo, agressão física e furto: 77% já foram xingados por alunos, sendo que em 23% dos casos os insultos são frequentes. Nesse cenário, a saúde do profissional da educação é diretamente afetada. Apesar de investigarem grupos teoricamente distintos, pesquisas sobre as condições de trabalho dos professores no Rio Grande do Sul e em São Paulo indicaram questões semelhantes.
"Quando as relações na escola não estão boas, nosso sentimento é de nadar contra a maré"

Anne Pimentel do Santos, Professora

Encomendado pela Federação dos Trabalhadores em Estabelecimentos de Ensino do Estado do Rio Grande do Sul (Fetee-Sul), o primeiro ouviu professores de escolas particulares do estado, em 2008 e 2009. A jornada semanal de trabalho dos entrevistados variava de 25 a 40 horas, mas havia um contingente que ultrapassava as 51 horas semanais. Era comum que, encerrado o expediente, os professores se dedicassem a tarefas como preparação de aulas e correção de provas: 70% sempre ou frequentemente trabalhavam fora do horário.
O estudo de São Paulo ouviu professores do ensino fundamental e médio da rede pública estadual, pré-delegados do 23º Congresso da Apeoesp, em 2010. Nesse universo, 32,6% tinham carga horária de 36 a 40 horas, 30% trabalhavam em duas ou três escolas e 54% lecionavam para turmas com mais de 35 alunos. O salário bruto concentrava-se entre R$ 1.201 e R$ 2.400 para mais da metade dos entrevistados.
“Quando o professor trabalha em várias escolas ou passa o dia todo dentro da mesma escola, não tem tempo para pensar no seu fazer, quando o magistério exige a reflexão sobre a prática pedagógica”, observa Anne, cuja experiência no magistério contribuiu para a elaboração do livro Impactos da violência na escola — Um diálogo com professores.
Entre os entrevistados no Rio Grande do Sul, 76% sentiram cansaço ou esgotamento frequente nos últimos seis meses. Mais: 71% tiveram dores no corpo após o dia de trabalho, 59% apresentaram dificuldade para dormir, 49% ficaram roucos, 44% sofreram com dores na articulação e 33%, com enxaqueca. Muitos se disseram estressados (35%), ansiosos (32%) e depressivos (11%). Esse quadro é característico da Síndrome de Burnout (do inglês to burn out ou queimar por completo), também chamada de síndrome do esgotamento profissional, comum entre profissionais da educação.
Mais de 40% dos professores ouvidos em São Paulo disseram sentir frequentemente cansaço, sobrecarga, frustração e exaustão emocional em relação ao trabalho, e 77,6% declararam ter vontade de mudar de profissão, frequentemente ou às vezes. Entre as situações que mais lhes causavam sofrimento estavam a dificuldade de aprendizagem dos alunos (75,5%), a superlotação das salas de aula (66,2%), a jornada de trabalho excessiva (60,1%) e a violência na escola (57,5%). Na pesquisa do Rio Grande do Sul, registrou-se alto índice de docentes que se sentiam pressionados, por chefes superiores (35%), chefes imediatos (32%), alunos (27%), colegas (14%) e pais de alunos (14%). Quanto às situações de violência, 17% dos professores vivenciaram ou presenciaram agressões dentro da escola.
Na avaliação da pesquisadora do Claves Simone de Assis, os professores não estão preparados para lidar com esse ambiente opressivo e, por isso, precisam ser capacitados e estimulados. O curso que coordena na Ensp/Fiocruz é uma das iniciativas que visam à criação de energia para a ação: ao final dos três meses de aulas, cada participante desenvolve um projeto estratégico com a finalidade de diminuir a violência na escola em que trabalha. Mas Simone ressalva que “o enfrentamento da violência deve ser relacional mas também estrutural”. n
 

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