terça-feira, 31 de maio de 2011

A Geração Facebook precisa pegar o ônibus...

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A Geração Facebook precisa pegar o ônibus...: "


Outro dia, na hora do almoço, sai da escola, atravessei a avenida e fiquei a esperar o ônibus para chegar em casa. Tenho feito isso com bastante regularidade. Chego rapidamente em casa. Como vamos para o serviço em apenas um carro, que fica com minha esposa e filhos, rumo a outra escola, onde ela trabalha e eles estudam, acabo ficando a pé. As vezes pego alguma carona, em outras oportunidades caminho e, em algumas ocasiões opto pelo ônibus.


Brinco com os colegas que vou para casa de Mercedes com motorista, o que não deixa de ser verdade e é um luxo real. Os ônibus da frota local são novos e bastante regulares, não é preciso esperar muito para conseguir transporte.


O que chama a atenção de alguns que trabalham ou convivem comigo é que para eles é estranho ver o coordenador da escola no ponto de ônibus. Não me importo, acho que vai muito na direção do que penso para a vida há algum tempo, ou seja, de que devemos simplificar, tornar mais tranquila, buscar a riqueza que há nos fatos do cotidiano sem nos importar com preços, dinheiro, grifes ou ostentação.


No dia mencionado percebi, no entanto, que alunos da escola olhavam pela grade com um ar de curiosidade, talvez um pouco de indignação (onde já se viu, o coordenador de nossa escola não tem carro?), até achando engraçado. Muitos já se acostumaram, porque não apenas já me viram tantas vezes a esperar o ônibus como também por serem usuários do sistema de transporte público. Considero muito necessário que isto aconteça, por razões que vão desde a logística do trânsito até a emissão de poluentes no ar que poderia diminuir muito se mais pessoas optassem por veículos coletivos.


Penso, no entanto, que é deveras importante também por conta das questões relacionadas a socialização e inserção no mundo em que vivemos. Há muita insegurança por conta da violência urbana, tantas vezes noticiada pela TV e demais meios de comunicação. É claro que precisamos ficar atentos a isto, mas não podemos nos fechar em conchas, nos isolar, proteger nossos filhos em bolhas, como está acontecendo. Eles precisam sair para o mundo e experimentar oportunidades diversas, que passam, por exemplo, por situações simples do cotidiano, como andar de ônibus ou metrô, ir a feira, visitar o mercado municipal com alguma regularidade...


A nova geração passa muito tempo trancada em seus espaços de convivência pré-estabelecidos, como suas casas ou apartamentos, muitas vezes em condomínios fechados, que se popularizam cada vez mais. Não faço críticas a este modelo de moradia, creio que é tendência consolidada e certamente traz muitas vantagens, entre as quais, certamente a segurança com grande destaque. O que se nota é que, as casa, os condomínios, o carro de suas famílias, as escolas e os shopping centers estão se tornando os espaços ou áreas por onde estes meninos e meninas, adolescentes e jovens circulam, com poucas variações...


Não estou dizendo que devem se arriscar por tudo quanto é canto de suas cidades, não me entendam mal. Creio apenas que é preciso apenas ampliar o raio de vivências e convivências, é claro que sempre que possível acompanhados pelo olhar cuidadoso e atento dos pais, para que quando saiam para o mundo saibam como encarar as diferentes situações que se apresentam e não caiam nas armadilhas do cotidiano.


Se não bastasse esta proteção relacionada aos locais de circulação, há ainda a internet e as redes sociais, que acabam muitas vezes substituindo as relações do mundo real. As amizades virtuais, nos Facebooks da vida, tomam uma parcela considerável do tempo de nossos filhos, sobrinhos, netos e seus amigos...


Há de se convir, ainda, que para completar o quadro, vivemos numa época em que o celular, onipresente, faz com que toda esta galera esteja sempre de algum modo ligada com seu mundo e desligada do que é alheio a esta realidade pessoal, própria, familiar...


São certamente mecanismos e mecanismos de proteção que vamos criando e que podem acabar alijando nossas crianças, adolescentes e jovens do necessário e essencial convívio com as diferenças, com a heterogeneidade, com a diversidade, fatores que nos enriquecem enquanto humanidade e que precisam constar do conjunto de experiências várias a serem vividas por cada um de nós!


Quando menciono o transporte coletivo, por exemplo, me refiro a própria dinâmica da cidade grande, a começar pela escolha do ônibus ou da linha de metrô certa, sabendo aonde parar, qual a estação para fazer baldeação... Outro caso relacionado aos coletivos é a questão do dinheiro, não ficar com carteiras cheias, chamando a atenção ou ostentando correntinhas, anéis, pulseiras e outros badulaques de ouro e similares... Ter cuidado com relação aos celulares é igualmente uma preocupação que pode (e deve) ser ensinada somente a partir desta experiência!


Viver é uma grande aventura e passa por todas estas experiências. Quanto mais vivermos, melhor preparados estaremos para as intempéries da vida. Funcionou muito bem assim para todas as gerações que precederam a atual e as próximas e, certamente, esta história anterior não pode ser desprezada...


Por João Luís de Almeida Machado
Membro da Academia Caçapavense de Letras

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