terça-feira, 18 de outubro de 2011

Políticas públicas e educação sexual são formas para reduzir os índices de gravidez na adolescência

http://portal.aprendiz.uol.com.br/
Políticas públicas e educação sexual são formas para reduzir os índices de gravidez na adolescência:

“(No México), 18% dos nascimentos (…) correspondem a menores de 19 anos, em 2010 foram registrados mais de 700 mil desses nascimentos, dos quais entre 60 e 80% são consequência de gravidez não-planejada”. A afirmação de Brando Flores, membro da organização RDfine, do México, traça um panorama que resulta em uma série de consequência para essas jovens. Gravidez de risco, abandono dos estudos, discriminação, oportunidades de desenvolvimento limitadas são algumas situações que uma gravidez na adolescência pode acarretar.


Em entrevista à ADITAL,Brando Flores fala da Campanha Contra a gravidez adolescente não-planejada, encabeçada pela RDfine, que tem como propósito estimular iniciativas que diminuam o problema no México. A ação foi iniciada em agosto de 2011 e segue por todo o ano de 2012. A Campanha pretende atingir, especialmente, jovens através das redes sociais e de atividades presenciais, que podem ser realizadas a partir dos materiais disponíveis no site da organização (http://www.rdfinemexico.org/).


Flores também destaca formas para reduzir os índices de gravidez não-planejada na adolescência. Ele aponta políticas públicas essenciais a serem adotadas pelo Estado. Dentre elas, melhoria do currículo em matéria de educação sexual, cursos de sensibilização de servidores, aumento do gasto público com distribuição de anticoncepcionais, campanhas em conjunto com a sociedade civil e contra a discriminação de meninas grávidas.


Confira a entrevista:


ADITAL – O que motivou a realização da campanha “Contra a gravidez adolescente não-planejada”? Desde quando a campanha está sendo realizada?



Brando Flores – Ao longo de 2010, realizamos fóruns de saúde e direitos das mulheres em 17 estados da república, nos quais RDfine trabalha; os fóruns foram realizados em universidades e escolas de ensino médio, e observamos que esse problema de saúde pública era muito evidente nesse setor populacional, juntamente com um forte desabastecimento de anticoncepcionais e a ausência de campanhas eficazes do governo para atacar o problema. Nossa campanha teve início em agosto de 2011 e continuará, pelo menos, durante todo o ano de 2012, junto com outras linhas de ação com que RDfine México trabalha.


ADITAL – De que forma a Campanha propõe transformar a realidade de gravidezes não-planejadas no México? Quais são os resultados observados até o momento?



Brando Flores – Através de três eixos principais: fóruns de informação e sensibilização de estudantes, acadêmicos e gestores (políticos), jornadas e oficinas sobre direitos sexuais e reprodutivos para a população em geral, e incidir nas agendas de gestores e dos que pretendem ocupar um cargo público no próximo ano, ou seja, que se comprometam em suas plataformas de campanha a desenvolver iniciativas que busquem diminuir o problema.


Até agora a campanha [realizou]: dez fóruns, seis jornadas e oficinas e várias reuniões com gestores, todas em diferentes estados do país e conseguimos que participassem na mesma mesa, organizações da sociedade civil, universidades e instituições estatais de governo diretamente ligadas ao problema, como institutos estatais e municipais das Mulheres, Institutos estatais da Juventude, órgãos de proteção a mulheres adolescentes em risco, assim como deputadas e deputados locais. A ideia é reconhecer o que foi realizado até agora e unir esforços nas ações seguintes.



ADITAL – Quais são as implicações da gravidez adolescente na vida de uma pessoa, nos âmbitos de saúde, profissional, familiar, dentre outros?


Brando Flores – No México, 6 de cada 10 jovens iniciam sua vida sexual aos 15 anos. E estima-se que 18% dos nascimentos em nosso país correspondem a menores de 19 anos; em 2010 foram registrados mais de 700 mil desses nascimentos, dos quais entre 60 e 80% são consequência de gravidezes não-planejadas, de acordo com o Fundo de Populações das Nações Unidas (UNFPA).


A gravidez não-planejada em adolescentes é uma dificuldade que muda suas vidas: no México e em âmbito mundial considera-se um problema de saúde pública, porque quanto mais jovem uma mulher engravida, corre mais risco de desenvolver doenças, como pré-eclampsia, eclampsia, hipertensão, anemia, infecções de transmissão sexual (ITS) e desproporção cefalopélvica; seus filhos ao nascerem também têm maiores probabilidades de sofrer doenças e acidentes.


No México, um estudo de 2008 revela que 14% das jovens abandonam seus estudos por uma gravidez e somente 9% das que engravidam ficam na escola e tem problemas de reinserção, adaptação escolar, reprovação e, em muitos casos, um novo abandono. Uma gravidez não-planejada limita as possibilidades de um desenvolvimento integral.


Acrescente-se que a cada nova família não-planejada é uma nova família em situação de pobreza e contra isso não existe seguro popular ou programa assistencial que o resolva por completo. No México, é oferecida uma bolsa de 650 pesos (55 dólares por mês), para que mães adolescentes e jovens grávidas terminem seus estudos em 10 meses, o problema é que esse programa só cobre 30% das solicitantes e o resto deve continuar com sua situação.


Quando as/os jovens chegam a níveis mais altos de educação e sua inserção no mercado de trabalho é crescente, em especial as mulheres, suas expectativas reprodutivas mudam: atrasam a idade de união, o início da vida sexual e almejam formar uma família cujas necessidade possam ser cobertas adequadamente.


ADITAL – Quando a gravidez adolescente já é uma realidade, o que poderia ser aconselhado a jovens, para desenvolver sua vida da melhor maneira possível?



Brando Flores – Na RDfine acreditamos que existem duas opções: por um lado tem a opção de interromper a gravidez antes das 12 semanas, a qual somente no Distrito Federal (México) é legal e permite às mulheres de qualquer estado do país acessar, estima-se que 5% das 70 mil interrupções até hoje, são realizadas em adolescentes e 48% das solicitantes tem entre 18 e 24 anos, as quais são consideradas jovens. Por último, é importante esclarecer que 80% das interrupções são realizadas com medicamentos.


Por outro lado, caso decida-se continuar com a gravidez, o mais importante é que terminem seus estudos, que vão a centros de saúde para ter um pré-natal adequado e que busquem assessoramento para prevenir gravidez não-desejada no futuro. Um estudo da CEPAL revela que aquelas jovens que engravidaram antes dos 18 e tinham um baixo nível de escolaridade e econômico, ao completar 25 anos, já tinham pelo menos outro filho. Razão pela qual se tornam fundamentais as recomendações acima mencionadas.


ADITAL – Como a juventude pode fazer parte da Campanha “Contra a gravidez adolescente não-planejada”?



Brando Flores –
Acreditamos que a juventude encontrou nas novas tecnologias múltiplas formas de comunicação, de modo que as redes se tornam um canal importante para espalhar a mensagem a respeito da informação e prevenção, ao mesmo tempo. É importante que a juventude saia às ruas e realize atividades que possam chegar a outros círculos da população que não precisamente se encontram online, através de oficinas, obras, fóruns, qualquer ação que permita sensibilizar e gerar uma reflexão em sua comunidade.


Em nossa página, colocamos a campanha visual e a mensagem para que possam fazer download e replicar em qualquer lugar. As novas mobilizações sociais que buscam ampliar ou conquistar novos direitos são espontâneas e livres, de modo que depende do entusiasmo e da imaginação de cada pessoa fazer com que a mensagem seja difundida.



ADITAL – Que políticas o Estado poderia realizar em relação às gestações na adolescência?


Brando Flores – Melhorar o currículo de educação sexual nas escolas desde nível básico, de maneira tal, que a informação seja científica, laica, verdadeira, objetiva e, sobretudo, livre de mitos. Por sua vez, promover o acesso a métodos anticoncepcionais gratuitos em ambulatórios das escolas de nível médio superior e superior, e não só nas enfermarias destas.


Dar cursos de sensibilização a servidores públicos e funcionários do setor da saúde e educação pública para evitar opositores de consciência. Um professor não pode omitir informação por considerar que não concorda com seus valores morais ou religiosos.


Impulsionar campanhas conjuntas, entre a sociedade civil e o governo, para romper com papeis e estereótipos que coíbem as práticas sexuais seguras, e erradicar a discriminação nas escolas contra as jovens grávidas.


Aumentar o gasto público em matéria de abastecimento de anticoncepcionais e gerar mecanismos que sejam transparentes na distribuição dos mesmos aos estados do país. Em Tamaulipas, as organizações em luta contra o HIV denunciam um desabastecimento de nove meses em todo o estado; em Colima, somente se cobre 6% das solicitações de anticoncepcionais nos centros de saúde do Estado. O Estado mexicano pretende recortar para 2012 63% do recurso anual para programas de saúde sexual e reprodutiva. É urgente uma ação nesse sentido.


ADITAL – Qual a importância da educação sexual, tanto para a prevenção quanto para evitar a discriminação das adolescentes grávidas? Na avaliação de RDfine, quais são os fatores que impedem a apresentação desse assunto nas escolas?



Brando Flores – É fundamental que o Estado garanta uma educação sexual de qualidade, a qual deve ser laica, científica e objetiva. Em RDfine acreditamos que um Estado que se diz laico deve respeitar a vida privada das pessoas, mas deve resolver os problemas, neste caso, de saúde pública.


É urgente criar novos esquemas de educação sexual desde o nível básico que inclua não somente as e os jovens, mas também a sociedade em seu conjunto. Quem discrimina não só o aprendeu na escola, mas também no interior de um lar, pelo que é prioritário integrar a diversidade de famílias que existem para resolver esta situação.


Para mais informações sobre a campanha, acesse: www.rdfinemexico.org, http://rdfinemexico.org/index.php?option=com_content&view=article&id=5&Itemid=57


(Adital)

Nenhum comentário:

Postar um comentário