Conheça boas práticas de combate ao trabalho infantil:
Por Yuri Kiddo, da Pró-Menino, da Fundação Telefônica-Vivo

“Uma criança que trabalha cedo, abandona a escola mais cedo, e vai ter déficit de atenção e ser mais dispersa, isso atrapalha no desenvolvimento”, explica Renato Mendes.
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Os números assustam e a mudança nos últimos anos não foi tão significativa. Atualmente 215 milhões de crianças e adolescentes entre cinco e 14 anos trabalham no mundo. Dessas, 115 milhões atuam em atividades perigosas e consideradas piores formas de trabalho infantil – como tráfico de drogas, carvoarias, lixões, pesca, exploração sexual, luta armada e trabalho doméstico. Os dados são do último Relatório Global sobre Trabalho Infantil da Organização Internacional do Trabalho (OIT), de 2011. Do total, o Brasil representa com cerca de 3,7 milhões de crianças e adolescentes entre cinco e 17 anos trabalhando no país em 2011, segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad).
Desde 2004, a redução foi de apenas sete milhões de crianças e adolescentes ao redor do planeta. O documento aponta que o número diminuiu apenas três por cento nos últimos anos, representando uma desaceleração no ritmo de redução mundial, enquanto no período de 2000 a 2004 a redução foi de 10%. Vale destacar que, na última década, o capitalismo está preocupado com o impacto decrescente da economia e da crise mundial, e consequentemente, reduz os avanços propostos pela OIT de eliminar as piores formas de trabalho infantil até 2016.
Segundo especialistas, as principais causas do trabalho infantil estão relacionadas à cultura, pobreza e baixa escolaridade. “Não é somente uma questão de pobreza, mas de perda de um dos progenitores e também uma questão de cultura”, afirma o coordenador do Programa Internacional para Eliminação do Trabalho Infantil, da OIT, Renato Mendes. “Uma criança que trabalha cedo, abandona a escola mais cedo, e vai ter déficit de atenção e ser mais dispersa, isso atrapalha no desenvolvimento”, explica.
Brasil
Assim como outros mais de 90 países que fazem parte do programa internacional da OIT, o Brasil tem até 2020 para erradicar de vez o trabalho infantil, compromisso firmado no Plano nacional de prevenção e erradicação do trabalho infantil e proteção ao adolescente trabalhador, elaborado em 2010 pela Comissão Nacional de Erradicação do Trabalho Infantil (CONAETI) junto à OIT.
Uma das formas de contribuir com esta meta será a discussão durante a 3ª Conferência Global sobre Trabalho Infantil que acontece em outubro de 2013, em Brasília. O evento é um dos principais espaços de debates sobre o tema com a participação de vários países, cujo o documento final vai apontar os rumos que devem ser adotados pelos governos, organizações internacionais regionais, parceiros sociais e ONGs. As conferências globais sobre Trabalho Infantil não têm periodicidade, a primeira foi realizada em Oslo, na Noruega, em 1997, e a segunda em Haia, na Holanda, em 2010. O Brasil será o primeiro país fora da Europa a receber o encontro.
Boas práticas
Servindo de exemplo para o Brasil e o resto do mundo, a pequena República de Fiji, localizada na Oceania, iniciou um programa nacional de combate ao trabalho infantil nas escolas. O acordo de enfrentamento foi assinado, em 2008, pela União Europeia, OIT e Ministérios de Educação e Trabalho de Fiji. Com foco concentrado em formações para professores e profissionais da educação, além de líderes comunitários de todo o país, o objetivo do programa é conscientizar a população a fim de garantir que crianças e adolescentes não sejam explorados e tenham educação apropriada para a idade, aumentando o bem estar no futuro próximo e diminuindo a pobreza, consequentemente.
Entre 2005 e 2009, o Paraguai também desenvolveu diversas ações de mobilização e conscientização em torno da temática nas escolas. Primeiramente foi elaborado um ambiente educativo para os estudantes, com realização de reuniões e palestras de sensibilização, e a participação de diretores de diversas instituições de ensino do país. Os alunos puderam aprender sobre trabalho infantil e replicar o conhecimento com pesquisas junto às comunidades próximas das escolas. O assunto teve grande repercussão, aumento do interesse da mídia sobre o assunto e de denúncias de violação dos direitos infanto-juvenis. Outro resultado importante foi o estabelecimento de uma equipe permanente no Ministério da Educação do Paraguai.
Outro exemplo é o projeto de cooperação da OIT com o governo do Brasil para o combate ao trabalho infantil nos Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa (Palops), que incluem Cabo Verde, Angola, Moçambique, São Tomé e Príncipe e Guiné-Bissau. Desde junho, os países de língua portuguesa fazem parte da Caravana Palops, que saiu do nordeste brasileiro em junho e percorrerá a África até outubro de 2013, quando retornará ao Brasil para a 3ª Conferência Global.
O Brasil é um dos países que mais avançam no combate ao trabalho infantil e um dos casos reconhecidos internacionalmente como boa prática foi no setor de saúde. Uma das experiências foi a desenvolvida pelo Ministério da Saúde, a OIT e o Núcleo de Estudos da Saúde do Adolescente da Universidade Federal do Rio de Janeiro (Nesa/UFRJ). De 2004 e 2008 foi feita uma grande ação de capacitação para profissionais do setor da saúde, assistência social e educação, além de inspetores do trabalho e integrantes de ONGs, para fortalecer a rede em relação à erradicação do trabalho infantil e à proteção das crianças e adolescentes que trabalham no país.
Concurso
A Rede Latino-americana contra o Trabalho Infantil, iniciativa da Fundação Telefônica em parceria com a OIT, fomenta a disseminação de conteúdo, a mobilização, a articulação e a formulação de propostas de ações e de políticas que combatam a exploração do trabalho precoce. “O objetivo é que a temática e as experiências ganhem maior divulgação e amplitude para que cheguem às organizações e governos”, afirma o coordenador da Rede, Fu Kei Lin.
Para isso, a Rede também promove o concurso de Boas Práticas, com inscrições abertas até 16 de dezembro pelo site. A iniciativa pretende “trazer metodologias e experiências positivas que provoquem as organizações, para que elas possam utilizar dessas práticas, de acordo com a realidade de cada país”, explica o coordenador.
O que fazer? Identificou alguma situação de trabalho infantil? Comunique ao Conselho Tutelar de sua cidade, ao Ministério Público ou a um Juiz de Infância. Há a opção também de denunciar pelo telefone ou site do Disque 100 – Disque Denúncia Nacional: www.disque100.gov.br
Como compartilhar? Fique de olho nas notícias e dados no site e redes sociais da Rede Promenino, converse sobre o tema com as pessoas ao seu redor e compartilhe opiniões e informações a respeito nas redes com a hashtag #semtrabalhoinfantil.
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