segunda-feira, 6 de maio de 2013

O papel do gestor escolar no combate à evasão

 http://www.blogeducacao.org.br/
 
Um de cada quatro alunos que inicia o ensino fundamental no Brasil abandona a escola antes de completar a última série da educação básica. É o que indica o último Relatório de Desenvolvimento do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento – Pnud, realizado em 2012. O problema da evasão escolar, segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios – Pnad, de 2009, e o Censo Escolar 2010, ainda faz parte da realidade de 3,7 milhões de crianças e adolescentes brasileiros, entre 4 e 17 anos de idade. Desse total, 1,4 milhão têm 4 e 5 anos; 375 mil, 6 a 10 anos; 355 mil, 11 a 14 anos; e mais de 1,5 milhão de adolescentes têm entre 15 e 17 anos.
De acordo com a pedagoga e coordenadora da Linha de Formação de Professores e Tecnologias Educacionais da ONG Avante, Mônica Samia, existem diversos motivos que levam o aluno a deixar de estudar. “A necessidade de entrar no mercado de trabalho, a falta de interesse pela escola, dificuldades de aprendizado que podem acontecer no percurso escolar, falta de incentivo dos pais, entre outros, são os motivos mais comuns de abandono. Mas a problemática varia em muitos aspectos, dentre eles, a faixa etária e a etapa de ensino”, explicou.
Para Samia, as questões pedagógicas devem ser o foco de atuação do gestor escolar no combate à evasão. “Oferecer aulas mais atrativas, inserir novas tecnologias, criar espaços de debate. Isso significa ter um olhar mais focado no aluno de hoje e fomentar nele a vontade de aprender e permanecer na escola. Essas questões pedagógicas, às vezes, são pouco observadas pelo gestor. Se ele tem uma visão muito administrativa, automaticamente não consegue perceber a necessidade de seus alunos”, disse.
O primeiro passo na solução da problemática, segundo a pedagoga, é identificar quais são os fatores que levam o aluno a evadir. “Fazendo isso, o gestor passa a saber se a evasão acontece porque o currículo não atende os alunos ou por questões paralelas à escola. Depois disso, ele tem como buscar soluções para tornar a escola um ambiente acolhedor”, explicou.
Família dentro da escola
Na Escola Municipal São Bento, em Paulista (PE), a evasão está relacionada à falta de estímulo ao estudo por parte dos pais. Para conseguir mobilizar a família, a diretora da instituição Rosilda Gonçalves dos Santos criou o projeto Café com poesia. “A proposta tem dois objetivos: incentivar a leitura e trazer a família para o ambiente escolar”, disse. “As professoras selecionam alunos para recitarem poesias ou contarem histórias. Eles ensaiam durante as aulas e, uma vez por mês, os pais vêm assistir a apresentação de seus filhos. Aproveitamos para, durante o encontro, falar com eles sobre o desempenho do aluno, mostrando que a escola é um ambiente importante para a formação da criança”, explicou.
A gestora contou que o trabalho é realizado com crianças da educação infantil ao ensino fundamental 1. “Na educação infantil, a taxa de evasão tende a ser muito alta, porque os pais ainda não entendem a importância do filho frequentar a escola sendo tão pequeno”, ressaltou. Com o projeto, Santos conseguiu que os pais valorizassem o ensino. “Tive casos em que os pais preferiam deixar as crianças em casa com seus irmãos mais velhos do que levá-las à escola. Depois que implantamos o Café com poesia, eles passaram a querer que os filhos ficassem mais dentro da escola do que fora dela”, contou.
Atividades paralelas
Em 2009, no município de Salesópolis (SP), um grupo de profissionais de Educação criou o projeto Caminhando Juntos pela Educação, por meio da ONG Associação de Assistência e Orientação à Criança e ao Adolescente. Em parceria com a secretaria municipal de Educação, o projeto durou três anos e conseguiu reduzir, em cerca de 70%, os casos de evasão escolar. A iniciativa oferecia aulas de reforço, oficinas de dança, informática e ginástica aos alunos evadidos em um ambiente fora do contexto escolar.
A coordenadora pedagógica do projeto, Inês Aparecida, destaca que o maior ganho foi identificar e conhecer a realidade dos alunos evadidos. “Os alunos que desistem de estudar são aqueles que não têm estímulo para ir à escola, seja por parte da família, da própria escola ou da sociedade”, disse. Para ela, o problema está focado, sobretudo, entre alunos de 12 a 17 anos que foram reprovados muitas vezes. “Normalmente, esses jovens têm a autoestima baixa e não conseguem evoluir no ensino. Identificamos que, para uma mudança efetiva, precisamos fazer um trabalho que reúna a família, o aluno e a escola.”
Beatriz de Campos, diretora da Escola Estadual Professora Rosa Maria de Souza, viu a atuação do Caminhando Juntos pela Educação de perto. “Em nossa escola, a taxa de evasão escolar era alta, especialmente entre os alunos mais velhos. O projeto ajudou a analisar caso a caso, o que, muitas vezes, a escola não consegue fazer sozinha”, afirmou.
A gestora acredita que o trabalho da associação foi fundamental, mas a escola também deve criar estratégias para envolver os alunos em sala de aula. “A princípio, o aluno chega na escola gostando de estudar. Ele só desiste do ensino depois que se depara com práticas pedagógicas que não conseguem acompanhar o seu ritmo. Por isso, procuro incentivar os professores a criarem aulas mais práticas e dinâmicas. O aluno do século 21 pede isso”, declarou.
Apoio da gestão pública
Em União da Vitória (PR), a secretaria municipal de Educação criou o projeto Combate à Evasão Escolar. “Depois que a professora observa que o aluno está faltando muito às aulas, ela preenche um cadastro com os dados daquele estudante. Esse cadastro é encaminhado ao diretor, que, dependendo do caso, encaminha para a secretaria”, explicou Irene Cristina Porn, membro da equipe pedagógica da secretaria.
Por meio do projeto, Sirlei Vasconcelos de Lima, gestora da Escola Municipal Professora Maridalva de Fátima Palamar, solucionou um caso de evasão de um aluno do quinto ano. “Nós entramos em contato com a família do aluno que, depois de algumas conversas, entendeu a importância de incentivar a criança a voltar a frequentar as aulas. O apoio da secretaria, nesse caso, foi fundamental, porque eles sabiam como se reportar à família, como motivá-los a acreditar na educação”, contou.
A gestão pública também deu o apoio para a escola desenvolver atividades em tempo integral. “Estamos localizados em uma comunidade carente, por isso quanto mais tempo os alunos permanecerem na escola, melhor. No contraturno, oferecemos atividades atrativas que estimulam o aluno a gostar de frequentar a escola, como dança, capoeira e, até mesmo, aulas de reforço escolar”, contou.
Para a gestora, conhecer o ambiente onde a escola está inserida é fundamental para o combate à evasão. “Gerir a escola é também conviver com seu meio social, com a comunidade. A escola deve participar ativamente da sociedade. O diretor, na minha opinião, deve conhecer as famílias, a realidade dos alunos, isso é fundamental para incentivar o aluno a querer estudar”, declarou.
Por Luana Costa / Blog Educação

Nenhum comentário:

Postar um comentário