Dados recentes divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) revelam que cerca de 15% dos adolescentes de 15 a 17 anos estavam fora da escola em 2009. Para agravar a situação, pouco mais da metade (50,9%) dos que frequentavam a escola estava no nível adequado à sua idade – chamado escolarização líquida. Entre crianças e adolescentes de 6 a 14 anos, a frequencia escolar é maior. Em 1999, 94,2% iam à escola. Em 2009, a taxa subiu para 97,6%.
Os motivos que levam à evasão escolar são diversos. Fabio Ribas, diretor-executivo da Prattein Consultoria em Educação e Desenvolvimento Social, destaca dois fatores importantes: a degradação e a falta de atratividade da escola, o que gera desinteresse, e a necessidade de ajudar na subsistência da família – que leva crianças e adolescentes a abandonarem a escola em busca de trabalho.
Para Ribas, as famílias precisam compreender que crianças e adolescentes com maior escolaridade no futuro terão melhores empregos e melhor condição de renda. “Instala-se essa contradição: porque é necessário buscar trabalho e renda, a escola é desprezada”, diz. “Isso imediatamente funciona, mas na frente vai ser contraditório com a busca dessa sobrevivência mais sustentável”.
O município de Paulistânia – que recebe o apoio do Programa VIA – conseguiu reduzir a evasão em escolas municipais e estaduais por meio de conversas com os pais em reuniões escolares e da Assistência Social. “Informamos sobre a importância da frequencia, não só pela questão financeira, já que muitos recebem bolsa família e renda cidadã”, conta Maria Aparecida Lescova Fernandes, presidente do Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente (CMDCA).
No município de Salesópolis, em São Paulo, o projeto “Caminhando Juntos pela Educação” conseguiu reduzir cerca de 70% os casos de evasão escolar em três escolas. Em entrevista ao VIA blog, José Gastão Cursino dos Santos fala sobre o trabalho realizado pelo projeto. O coordenador conta que muitos pais na área rural não estudaram e acreditam que os filhos também não precisam de estudo. “É feito um trabalho com os pais. Passamos para eles a importância e a necessidade de a criança voltar à escola”.
Além de conscientizar a família sobre a importância da educação, outro grande desafio é melhorar a qualidade do ensino e tornar a escola mais atrativa. “Essa é uma discussão ampla e que envolveria repensar a política da educação básica quase que integralmente”, afirma Fabio Ribas.
A evasão escolar também pode esconder outras violações, como fragilidades familiares, consumo de drogas e envolvimento com práticas criminosas, por exemplo. “Por isso a área da segurança, da justiça, da assistência, da saúde e da educação teriam que interagir mais, para que ações mais orgânicas e mais sistêmicas conseguissem impactar na vida escolar consistente da criança”, diz Ribas.
O primeiro passo do projeto de Salesópolis, segundo Santos, é identificar os motivos pelos quais a criança ou adolescente não está frequentando a escola. Uma vez detectado o problema, é feito um trabalho direcionado. “Nosso maior índice [de evasão] é por negligência familiar”, conta.
O projeto observa também o tempo em que a criança ou adolescente ficou fora das salas de aula e procura corrigir a defasagem. “Não basta trazê-la para a escola, o ano já correu, a matéria já correu e muitas vezes ela tem já uma deficiência”, diz Santos. Para compensar as aulas perdidas e para reduzir as deficiências dos alunos, o projeto oferece oficinas de português, matemática e informática.
Na semana passada ganhou destaque na mídia a decisão de um juiz de Fernandópolis. Ele determinou que uma mãe deveria frequentar as aulas junto com sua filha, já que a menina não ia à escola. Para Fabio Ribas, o mérito do caso foi ter levantado a questão de uma forma mais radical. A medida, porém, não é eficaz. “Se a escola não se transforma, ficar dentro dela, para essa menina ou para qualquer criança que está desmotivada, vai ser insustentável a médio ou até a curto prazo”, diz Ribas.
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