VIDELICET > Guignard nos territórios do desejo: "
Alberto da Veiga Guignard, (Paisagem imaginante), 1961, óleo sobre tela, 61,0 x46,0 cm. Coleção particular.
A poética de Alberto da Veiga Guignard (1896-1962), o maior pintor modernista brasileiro, professor de desenho, ilustrador e gravador está monumentalmente expressa em sua vasta produção, mas em especial nas suas paisagens intemporais. Frequentador das montanhas cariocas e mineiras pode apreciar de seus altos – os ângulos de visão dilatados – o despojamento daqueles planos estendidos livre do açodamento urbano. E pela ordenação artística e para além das obrigações formais, transfigurou o que avistara compondo territórios plenos ainda que um tanto evanescentes. Diante das superfícies rasas de Guignard, perpassadas pela luz misturada à névoa e elementos instáveis em cores translúcidas de camadas mínimas, sente-se um breve estranhamento. Como se o vento, num devaneio, lá soprasse propositadamente com delicadeza para não desmanchar as formas naturais já quase rarefeitas. Difícil fixar o olhar neste universo em suspensão, um espaço de pouca profundidade e inúmeros acontecimentos. Balões e igrejas setecentistas flutuam acima das nuvens e das pontes que se liquefazem. As figuras humanas são apenas sugestões, o dia misturado à noite, os foguetórios detidos no silêncio. Os gestos fluidos de Guignard compondo o impalpável nos oferecem um mundo no qual a realidade permanece dissipada nas “cores do desejo”.
Fernanda Carvalho
"
Nenhum comentário:
Postar um comentário