quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

Livros do ano? Me vê meia dúzia

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Livros do ano? Me vê meia dúzia:

“Habitante irreal”, de Paulo Scott – Atolada num ambiente besta que se assemelha a uma guerrinha entre fiéis e infiéis (existe ou não existe, é divina ou é uma fraude, vamos à missa ou não vamos?), a literatura brasileira contemporânea corre o risco de nem se dar conta de que acaba de ganhar um livraço. Acerto de contas com os sonhos e desilusões de uma geração, o romance de Scott revela-se um cruel espelho político-social de impasses coletivos e, no caminho oposto, um objeto que se quer tão xamânico quanto a bizarra máscara construída pelo personagem Donato, o “índio mais não índio do qual já se teve notícia”, com o propósito de dar voz aos mortos. (Leia mais..)


“Diário da queda”, de Michel Laub – Sem grandiloquência e acomodadas confortavelmente no arco da narrativa, ideias grandiosas tornam notável o novo romance de Laub. Cobrindo três gerações, desde a história do avô do narrador em Auschwitz, e apontando com comedida esperança para uma quarta, “Diário da queda” é uma pequena joia ficcional que, ao tratar sem temor ou reverência a pesada herança da literatura pós-Holocausto, adiciona uma dimensão histórica universal à costumeira obsessão do autor com o passado e esmiúça de forma emocionante a lógica da vitimização e sua capacidade de perpetuar iniquidades. (Leia mais.)


“o remorso de baltazar serapião”, de Valter Hugo Mãe – O primeiro livro do autor português de origem angolana a ser lançado no Brasil tem tiradas próximas do realismo mágico e linguagem de sabor regionalista. Isso prova não haver no mundo da literatura nada que se possa excluir de antemão do campo da novidade artística. Estranho e memorável, o romance tira sua força do fato de trilhar caminhos perigosos. Está menos para Guimarães Rosa do que para Raduan Nassar em sua fusão de linguagem e história num magma violento de pulsões quase pré-humanas, no marco zero do humano. O xodó da Flip 2011 pode ser bom de marketing, mas tem algo a dizer. (Leia mais.)


“Como funciona a ficção”, de James Wood – Egresso da crítica literária jornalística, Wood corre o risco de ser considerado um fabricante de “papel de bala”, na já célebre definição da acadêmica Flora Sussekind. Afinal, o cara não apenas ama a literatura, mas também, pecado supremo no catecismo universitário, sabe escrever e deseja ser compreendido pelo leitor comum. O que dificulta situá-lo no quadro dessa guerrinha cansada é que Wood também figura no quadro de professores de Harvard. Quando ele declara na introdução o desejo de que seu livro “faça as perguntas do crítico e dê as respostas do escritor”, sem romper com o “instinto criativo”, entende-se a ambição de um projeto que tem tanto a ensinar a jornalistas quanto a acadêmicos. (Leia mais.)


“O senhor do lado esquerdo”, de Alberto Mussa – Ao abraçar de forma gulosa e programática a dimensão histórico-mítica da narrativa, Mussa se firma como o antípoda por excelência do nosso escritor típico, habitante de um eterno presente esvaziado. Que outros discutam se essa postura é conservadora ou progressista, retrógrada ou libertadora, como se tais coisas fossem incompatíveis. É a postura responsável pelo sucesso artístico de um dos bons livros do ano, uma saborosa novela policial que surge numa conjuntura de reerguimento anímico do Rio de Janeiro, para o qual deseja contribuir de modo ostensivo e, nos melhores momentos, comovente. (Leia mais.)


“Liberdade”, de Jonathan Franzen – Se quiséssemos lançar mão de categorias romanescamente tão rasas quanto aquelas que ajudam a estruturar sua visão de mundo, poderíamos dizer que “Liberdade”, o superaclamado livro de Franzen, é um romance democrata no conteúdo e republicano na forma. Isso seria um pouco injusto, mas só um pouco – na medida exata em que, políticas ou não, todas as metáforas que buscam dar conta do atacado passam por cima do que as contraria no varejo. Como ocorre o tempo todo no livro, aliás. (Leia mais.)


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