sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

Arte para quê? - Ainda atual

Plano de aula publicado na
Edição 3 - Novembro de 2005 - Arte e Cultura

Arte para quê?

Uma atividade teatral para levar jovens a refletir sobre a serventia da arte a partir de texto do poeta Ferreira Gullar
 
Uma vivência artística pode tocar, comover e mobilizar os jovens. É esta a proposta deste plano de aula, trabalhado a partir do texto “A beleza do humano, nada mais”, do poeta Ferreira Gullar. A idéia é propiciar aos jovens uma experiência que possa responder à questão central do texto: para que serve a arte? As atividades sugeridas aliam prazer, resgate de identidade e memória e valorização pessoal num contexto colaborativo e de estímulo à criatividade e à imaginação.

O plano de aula foi preparado pelo ator e professor de teatro Gustavo Arantes, formado em Artes Cênicas pela Unicamp. Desde 1999, ele dá aulas de teatro para crianças e adolescentes em situação de risco social, atuando em diversos projetos sociais da Secretaria da Cultura, Municipal e Estadual de São Paulo, em ONGs e entidades. Atualmente, trabalha com crianças e jovens no Centro Comunitário e Recreativo do Jardim Macedônia, sub-bairro do Campo Limpo, zona sul de São Paulo. Com essa comunidade desenvolveu o projeto "Que cidade é essa?”, que resultou na peça "Coração Macedônia". O projeto foi um dos vencedores do prêmio Rumos Itaú Cultural/Educação Cultural e Arte 2005/06.

Atividade 1

O objetivo é desenvolver habilidades relacionadas à leitura e à argumentação.

Faça uma leitura em roda do texto "A beleza do humano, nada mais", de Ferreira Gullar. Peça para que cada membro do grupo leia um trecho em voz alta. Depois faça uma discussão do texto baseada na pergunta: para que serve a arte? Aproveite para discutir temas transversais que surgirem durante o debate.

Atividade 2

Para estimular o prazer das atividades e resgatar a identidade por meio da reconstrução da memória local.

Saia da sala de aula. Leve os jovens para passear. Dê preferência a locais históricos como praças com monumentos, por exemplo. O passeio quebrará a rotina e deve ser, acima de tudo, prazeroso. Durante o passeio, peça aos jovens que observem os moradores, os nomes das ruas, avenidas, praças etc. Deixe-os à vontade e fique atento aos comentários. Provavelmente eles reconhecerão algum local ou alguma história do bairro. Se isso acontecer, pare o passeio e estimule-os a contar para o resto do grupo. Convide uma pessoa do bairro para acompanhá-los durante o passeio e atuar como guia. Ou, se você mesmo mora no bairro, pode servir de guia. O guia é uma pessoa que conhece histórias sobre a origem dos nomes de ruas, praças e monumentos, lendas do bairro, histórias de moradores, enfim tudo o que remonta à história do surgimento e desenvolvimento da comunidade. Todos poderão surpreender-se com o fato de não conhecerem o próprio bairro.

Estimule os jovens a fazerem perguntas para os passantes, comerciantes e moradores (os mais velhos sempre têm histórias para contar). Escolha um jovem para ser o redator do grupo e anotar todas as histórias que surgirem.


Atividade 3

Para estimular a criatividade e a imaginação por meio do processo colaborativo e da aproximação com a linguagem teatral.

De volta à sala de aula, faça uma roda, converse sobre o passeio e, em seguida, peça para o redator ler suas anotações. Escolham as duas histórias que mais chamaram a atenção do grupo. Fique atento ao que tocou e comoveu o grupo de uma maneira geral.

Divida, aleatoriamente a turma -- desmanchando as "panelinhas" e misturando as meninas com os meninos -- em dois grupos. Peça para cada grupo criar uma cena improvisada sobre as histórias recolhidas. Cada grupo faz uma cena sobre uma história. Neste momento, não se preocupe com a técnica de representar, mas com o prazer de representar.Dê apenas as seguintes coordenadas:

a) as cenas devem ter começo, meio e fim;

b) uma cena de teatro deve conter sempre alguém, em algum lugar, fazendo alguma coisa. Dê um tempo de 15 minutos para os grupos se organizarem, tire um par ou ímpar com dois representantes de cada grupo para definir quem apresenta primeiro.

É imprescindível que cada grupo sirva de platéia um para o outro. Reforce a importância deles se assistirem.

Atividade 4

Realidade ou ficção? O caráter enigmático da arte.

Avalie a atividade anterior pedindo para cada grupo comentar a cena do outro. Deixe claro que os grupos precisam ouvir as pessoas que possuem um "olhar de fora" da cena, porque, no teatro, nem sempre comunicamos aquilo que pensamos estar comunicando. Peça, aos jovens, também, que sejam objetivos e não pessoais nos comentários.

Com o texto de Ferreira Gullar, provoque uma nova discussão sobre os tópicos "para que serve a arte?", "ser tocado pela obra de arte", "capacidade de deslumbrar e comover as pessoas", "na verdade, a arte em si não serve para nada", "para tornar o mundo mais belo, mais comovente e mais humano". Porém, desta vez, peça para os jovens pensarem sobre o texto à luz da experência vivida. A partir das conclusões conduzidas pelo grupo, fale de como também podemos aprender com uma experiência prática e de como a arte dialoga com a vida. Reforce também o conceito de memória, de que tudo tem uma história.

Caso seja possível, ensaie as cenas novamente cuidando das linhas de visão do palco e do volume da voz. Crie um roteiro que registre as falas da peça criadas pelos jovens. Improvise um figurino e uma trilha sonora e apresente-as para outro público. É fundamental não esquecer de convidar as pessoas do bairro que participaram do processo. A experiência com o público pode trazer "o encantamento da mais enigmática produção humana e seu efeito sobre o mundo".

Atividade 5

Uma sugestão de continuidade.

Com o grupo de teatro mais constituído, pode-se voltar aos locais visitados para fazer registros em foto ou em vídeo e fortalecer vínculos com moradores e/ou pessoas da comunidade, caso estes tenham sido representados na peça. Pode-se, também, programar um passeio em algum espaço cultural do centro da cidade que ofereça material complementar à peça.

Bibliografia de apoio ao professor

Spolin, Viola. Improvisação para o Teatro. Tradução Eduardo Amos e Ingrid D. Koudela. São Paulo, Editora Perspectiva, 1979.

Koudela, Ingrid Dormien. Brecht: Um jogo de Aprendizagem. São Paulo, Edusp, Perspectiva, 1991.

Um Vôo Brechtiano. Teoria e prática da Peça Didática. São Paulo, FAPESP/ Perspectiva.

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