domingo, 13 de fevereiro de 2011

Escola municipal terá aula digital, com ‘game’ e kit para dever de casa

POR MARIA LUISA BARROS - ODIA
Foto: Alexandre Brum / Agência O Dia
Rio - Nesta segunda-feira, 669.203 alunos voltam às aulas nas 1.063 escolas e creches municipais. No comando da maior rede pública de ensino da América Latina, a secretária de Educação, Claudia Costin, adianta, em entrevista a O DIA, o pacote de novidades que estudantes e professores vão encontrar neste início de ano letivo.

Entre os planos da Prefeitura do Rio para melhorar a qualidade do ensino carioca, estão medidas como o Educopédia, Ginásio Carioca, Escolas de Pais, ampliação de unidades com turno de sete horas, fornecimento de material escolar em kits para estudantes fazerem o dever de casa e construção de 10 Espaços de Desenvolvimento Infantil, com a geração de 30 mil vagas em creches públicas e conveniadas.

ODIA: Que novidades alunos e professores vão encontrar na volta às aulas?


Claudia Costin: – Este ano, vamos introduzir o Ginásio Carioca, que é uma nova estratégia para o segundo segmento do Ensino Fundamental. Em todas as escolas do 6º ao 9º ano, os professores vão ter instrumentos para tornar o ensino mais interessante. Um deles é o Educopédia, um portal de aulas digitais de todas as disciplinas elaborado por 220 professores da rede com base no nosso currículo.
Não será de uso obrigatório, mas será um ‘algo a mais’ para os professores. Além disso, compramos projetores para todas as salas, fizemos revisão na parte elétrica das escolas para que todos os programas possam funcionar.
Teremos apostilas com toda a parte teórica e de exercícios por disciplina. As aulas da Educopédia terão um quiz no final para avaliar o que o aluno de fato aprendeu. Esse teste poderá valer nota. Professores terão aulas completas em PowerPoint, além de games educativos. Um material muito dinâmico.

No ano passado, os alunos revisaram todas as matérias no início do ano. Esse trabalho vai continuar?


Sim. Nos primeiros 30 dias de aula, todos os alunos receberão cadernos de revisão de aprendizagem. Esse trabalho é fundamental. Pesquisas mostram que alunos de famílias com baixa escolaridade perdem durante as férias 30% do que foi ensinado no ano anterior.
Os estudantes da pré-escola ao 9º ano receberão até o fim de março kit escolar, com lápis, cadernos, canetas e outros itens para que possam levar para casa e fazer o dever, que responde por 80% do sucesso escolar.

O projeto Rio Criança Global, que introduziu aulas de inglês para turmas do 1º, 2º e 3º anos do Ensino Fundamental, será expandido?

Temos uma estratégia progressiva de avançar com o inglês em todas as classes. Este ano, a disciplina será oferecida a estudantes do 4º ano. Estamos chamando mais professores de inglês.
Pela primeira vez no concurso, aplicamos prova oral aos candidatos. No ano que vem, vamos incluir o 5º ano. Com isso, nossos alunos vão aprender a se comunicar em inglês para serem bons anfitriões na Olimpíada em 2016. Foi o que a China fez antes dos jogos olímpicos.

A partir deste ano, os estudantes farão provas bimestrais de redação. Qual a importância dessas avaliações?

Atualmente, há uma tendência grande nas escolas brasileiras, entre os jovens, de escrever cada vez menos e com mais dificuldade. Por isso, decidimos incluir na prova bimestral mais uma disciplina. Além das provas de Português, Matemática e Ciências, que são avaliadas no Pisa, vamos ter a prova de redação do 2º ao 9º anos.
Os alunos das séries iniciais, que ainda estão sendo alfabetizados, vão escrever dentro das condições de cada um. A cada bimestre, o aluno vai escrever sobre um livro que tenha sido lido por ele. O objetivo é menos saber se de fato ele leu e mais incentivá-lo à leitura. Fazer com que ele leia mais e escreva sobre isso.

Quais foram os avanços na educação municipal no ano passado?

Começamos uma ação muito forte para realfabetizar estudantes ao mesmo tempo em que alfabetizamos as crianças em um ano, como fazem as escolas particulares. Em 2009 e 2010, nós realfabetizamos 21 mil alunos do 4º ao 6º ano. Esse investimento continua este ano.

A meta é que, a partir de 2012, o analfabetismo seja mínimo, de alunos vindos de outras redes. É inadmissível uma cidade como o Rio de Janeiro ter tido, no começo de 2009, 14% de analfabetismo funcional. É verdade que no Nordeste os índices são muitos maiores, mas não podemos nos consolar com isso. Existem alguns pilares para um ensino de qualidade.

O foco deve ser na aprendizagem do aluno. Não é fazer educação de qualidade para poucos. O currículo é o primeiro pilar; o segundo é o professor, com instrumentos para dar aula prática, que podem ser livros ou apostilas; e o terceiro é o reforço escolar.

Qual será o maior desafio para os próximos anos?


Com certeza, será a enorme quantidade de alunos em defasagem idade-série. Estudantes que estão dois anos ou mais atrasados em relação à série em que deveriam estar de acordo com a idade. São alunos com baixa auto-estima, infelizes, indisciplinados e que se sentem desconfortáveis com os livros muito infantilizados para ele.
Não dá para achar que vai funcionar. São esses jovens que vão largar a escola, contribuindo para uma evasão que é altíssima. No ano passado, desenvolvemos programa de aceleração para oito mil estudantes do 7º e 8º anos e sete mil do 4º e 5º anos.

E, para este ano, qual será o foco do trabalho?

Este ano, estamos olhando para o 6º ano, que concentra 22% da defasagem-idade série. Vamos acelerar todos os defasados e realfabetizar todos dessa série em turmas separadas. Além de reforço escolar para os alunos que não são analfabetos funcionais, mas têm dificuldades de aprendizagem.

Em 2009, os 6.680 alunos com piores notas na Prova Rio foram incluídos no programa Nenhuma Criança a Menos e passaram a receber reforço intensivo três vezes por semana em horário integral. Todos fazem provas mensais e são obrigados a ler mais de 20 livros por ano. Esse programa foi sucesso e também vai continuar.

Como as famílias podem auxiliar o trabalho dos professores?

Vamos distribuir 400 mil cartilhas para orientar os responsáveis pelos estudantes do 1º ano e do 6º ao 9º anos. Mesmo os pais analfabetos podem apoiar seus filhos. Eles não terão condição de ler as cartilhas, mas receberão informações em reuniões nas escolas sobre cuidados com a criança, planejamento familiar, prevenção de doenças, vacinação e outros temas de interesse da família.

Os encontros serão obrigatórios para todos os que receberem o cartão família carioca. Quem tiver interesse poderá participar da Escola de Pais e voltar a estudar na escola do filho, no turno da noite.

Famílias se queixam da falta de vagas em creches? O que está sendo feito para resolver esse problema?

A nossa meta é abrir 30 mil novas vagas em creches públicas ou conveniadas até o fim do ano. A prioridade neste momento será para as mães que estão no cadastro do programa Cartão Família Carioca. Para ter direito à vaga, a criança deve ter, entre outras obrigações, 90% de frequência. Mais 22 escolas e 50 Espaços de Desenvolvimento Infantil vão funcionar em tempo integral até dezembro.

Quais são as novas regras para eleição de diretores?

O mandato termina no fim do ano. Portanto, haverá eleição para todas as escolas em novembro. Com exceção dos atuais diretores, candidatos deverão fazer cursos de gestão escolar. Todos terão que fazer prova e preparar plano de melhorias para a escola.

Eles poderão se candidatar para qualquer unidade da rede. Haverá só uma urna para pais e professores e somente os alunos do 6º ano em diante poderão votar.

A eleição é proteção contra o clientelismo. E os diretores são líderes nas comunidades. São os regentes. Os maestros dessa orquestra-escola.

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