R7 - publicado em 13/02/2011 às 17h56:
Dengue cresce quase 400% no Sul e Sudeste em 2010
Brasil teve quase 1 milhão de infectados no ano passado, o triplo de 2009
Camila Neumam, do R7
Neste montante, as regiões Sul e Sudeste se destacam porque, juntas, apresentam um crescimento de 375% no número de casos de um ano para o outro. Em 2010, 473.994 pessoas foram infectadas no Sudeste, frente aos 106.942 casos confirmados na região em 2009. Apesar de o Sul ser a região com a menor incidência de dengue, o número de pessoas infectadas de um ano para o outro aumentou mais de 40 vezes no território, de 1.653 em 2009 para 42.707 em 2010.
Esse grande salto tem o Paraná como “vilão”, já que os 38.769 casos de dengue confirmados em 2010 no Estado correspondem a mais de 90% de todos registrados na região Sul. Em 2009, a dengue foi bem mais branda no Estado, em um total de 1.527 pessoas infectadas.
Faltou prevenção no Sul
De acordo com Sezifredo Paz, superintendente da Vigilância em Saúde da Secretaria Estadual de Saúde do Paraná, a principal causa desse fenômeno é a falta de prevenção.
Segundo ele, vários municípios do Estado reduziram o número dos serviços de combate à dengue ao longo de 2009. Ao chegar o verão de 2010, estação mais propensa aos surtos, o Estado desprotegido virou palco da epidemia. As cidades mais afetadas foram as do Norte, sobretudo Londrina, Oeste e Noroeste do Estado.
- Muitos municípios desestruturaram seus serviços de prevenção, e isso fez com que o combate ao mosquito fosse mal feito, principalmente pela falta de agentes de controle de endemia. Não houve bloqueio e o número de casos explodiu.
Paz admite que o problema permanece em 2011. Já foram notificados mais de 5.000 casos, sendo 582 confirmados até 4 de fevereiro, segundo a Secretaria Estadual de Saúde do Paraná. A criação de um novo plano emergencial de combate a dengue, implementado no começo desse ano pelo governo, tem o objetivo de melhorar a prevenção e o tratamento dos doentes, em especial nas regiões onde já foram apontados surtos.
Para isso, um gabinete estratégico foi criado para acompanhar a evolução da dengue no Estado e selecionar quais medidas terão de ser feitas em cada município.
O clima quente e chuvoso, assim como a reintrodução de dois diferentes tipos de dengue no Estado, os sorotipos 1 e 2, a que a população não tinha mais imunidade, também contribuíram para a epidemia no Estado, diz Paz.
No caso da dengue, quando uma pessoa é infectada com um dos quatro tipos de vírus da doença, ela se torna imune a esse sorotipo, mas continua vulnerável aos outros três. Com a volta de um tipo de vírus, as pessoas que não entraram em contato com ele correm mais risco de se infectar.
A última epidemia de dengue no Paraná ocorreu em 2007 em decorrência da dengue tipo 3. Em 2008 e 2009 esse sorotipo se manteve no Estado, tempo que levou parte da população a ficar imune à dengue, o que se refletiu na diminuição do número de pessoas infectadas.
No Rio Grande do Sul também houve uma grande variação de casos de dengue de um ano para o outro. Enquanto em 2009 foram registrados 72 casos no Estado, em 2010 o número saltou para 3.718.
Para Jair Ferreira, professor de epidemiologia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, 2010 foi o ano da primeira epidemia de dengue no Estado.
- Até então só tínhamos casos de pessoas que vinham de outros lugares com a doença incubada ou doentes. O clima quente e chuvoso de 2010 fez com que começasse o ciclo de transmissão interna.
Já para Marilina Bercini, coordenadora de divisão de vigilância epidemiológica da Secretaria Estadual de Saúde do Rio Grande do Sul, foi o verão gaúcho de 2010, muito quente e chuvoso, que impulsionou a proliferação do mosquito Aedes aegypti, vetor da doença. Além disso, a falta de imunidade da população a outros tipos de dengue que chegaram ao Estado fez com que ocorressem os surtos.
- Essa situação sinalizou a importância de implementar cada vez mais as atividades preventivas.
Sudeste: aglomeração favorece surtos e epidemia
É compreensível que na região mais populosa do país haja muitos casos de dengue. Mas, assim como São Paulo, onde de um ano para o outro o grau da epidemia foi muito maior, Minas Gerais também teve um salto no número de casos. Em 2010, o Estado mineiro registrou 212.276 pessoas com a doença, muito acima dos 55.505 casos de 2009. São Paulo registrou 208.097 casos em 2010, frente a 12.154 um ano antes.
Assim como nos Estados do Sul, fatores climáticos e a circulação de outros sorotipos da dengue ajudaram a causar a epidemia em Minas, segundo Francisco Lemos, Superintendente de Vigilância Epidemiológica, da Secretaria Estadual de Saúde.
- O ano de 2010 se caracterizou pela recirculação do vírus 1 no Estado de Minas Gerais e em outros da federação. Esse vírus não predominava em Minas desde o ano 2000. Isto levou ao acúmulo de pessoas suscetíveis ao vírus 1, o que explica não só o aumento da circulação, como também ao aumento do número de casos graves.
Lemos lembra ainda que a transmissão ocorrida na região metropolitana de Belo Horizonte, onde se concentra 25% da população do Estado, pode explicar a epidemia.
- A aglomeração da população favorece a disseminação da doença, uma vez que o vetor é bastante ativo e tem capacidade de picar várias pessoas em um curto espaço de tempo.
São Paulo também culpa o clima pela infestação de dengue no Estado em 2010, mas afirma que vem reforçando ações de prevenção diminuir a possibilidade de uma nova epidemia em 2011.
Em nota enviada por e-mail ao R7, a secretaria ressalta que “50 dos 645 municípios paulistas responderam por cerca de 80% dos casos de dengue no Estado de São Paulo”, reforçando a ideia de que não há uma epidemia no Estado.
Para evitar que haja explosão de casos como no verão de 2010, a secretaria investe em prevenção.
- Ao longo do segundo semestre de 2010 a Secretaria de Estado da Saúde desenvolveu trabalho de capacitação de 6.000 agentes em todo o Estado de São Paulo para aprimorar o trabalho de controle de vetores e atendimento aos cidadãos com suspeita de dengue. Foram realizadas, no total, 51 oficinas, envolvendo 330 municípios considerados prioritários.
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