quarta-feira, 13 de abril de 2011

Convite: Missa do 35º aniversário de morte de Zuzu Angel

FONTE: C.M. ZUZU ANGEL

Convite: Missa do 35º aniversário de morte de Zuzu Angel: "

A revolta de uma mãe
Desde que soube da prisão, tortura e morte de Stuart, Zuzu Angel tornou-se uma áspera opositora do regime militar.
Aproveitando-se de seu prestígio como estilista, passou a denunciar a personalidades do mundo político, diplomático, cultural e das comunicações de vários países o desaparecimento de seu filho.
Os órgãos de segurança não sabiam como calar essa mulher, que possuída de tamanha indignação, se lançou em uma campanha de difamação do governo sem tréguas e utilizando formas de denúncia diferentes das usadas por familiares de militantes políticos.
Em 1975, Zuzu Angel recebeu uma carta-denúncia de Alex Polari em que soube com detalhes sobre o calvário de Stuart. Indignada e machucada pela dor de perder um filho em tais circunstâncias, conseguiu que o historiador Hélio Silva publicasse a carta de Alex no último volume da História da República e, logo, as denúncias de Zuzu Angel tiveram grande repercussão internacional.
Constantemente Zuzu Angel clamava pelo direito de receber o corpo do filho para sepultá-lo. Entretanto, seus apelos foram em vão.
Disposta a tudo, teve a oportunidade de furar a segurança do secretário de Estado norte-americano Henry Kissinger e entregar-lhe o 'Dossiê Stuart'. A estilista acreditava que o governo dos Estados Unidos poderia pressionar a ditadura brasileira a dar-lhe maiores esclarecimentos pelo fato de Stuart ter dupla cidadania, uma vez que seu pai era norte-americano.
A repercussão das denúncias de Zuzu Angel incomodaram muito a repressão a ponto de a estilista ser alertada por militares descontentes com o governo de que os órgãos de repressão poderiam usar contra ela o 'Código Doze', ou seja, em outras palavras: atentado simulando acidente ou assalto.

Sem medo de buscar a verdade
As ameaças de morte não abalaram as forças de Zuzu Angel. Embora temesse por sua vida, continuou a incessante busca pelo filho e a divulgação das denúncias contra a ditadura.
Sabendo que o fim de sua história poderia estar próximo, escreveu ao amigo e compositor Chico Buarque de Hollanda uma carta em que dizia ter recebido ameaças de morte por parte dos militares e, que, se algum acidente acontecesse com sua pessoa, certamente teria sido provocado pela repressão.
No início da madrugada do dia 14 de abril de 1976, Zuzu Angel saiu de uma festa guiando seu Karman Guia rumo sua casa. À saída do Túnel 2 Irmãos seu carro perdeu a direção e chegava ao fim sua vida. A ditadura acabava de calar mais um opositor.
Obviamente, o inquérito policial alegou que o acidente ocorrera porque Zuzu Angel dormiu ao volante. Para seus familiares e amigos havia a certeza de que o acidente teria sido provocado pela repressão.
Passaram-se muitos anos, até que em 1996, durante a análise dos casos da Lei 9.140 (Lei dos Desaparecidos) ficou provado que o acidente que culminou na morte de Zuzu Angel foi provocado pelo choque com dois carros que a jogaram fora da pista. A Comissão Especial da lei encontrou testemunhas do acidente na época. Enfim, mais uma das mentiras da ditadura caiu por terra.
Até os dias de hoje, o corpo de Stuart não foi entregue à família, o que sabem sobre sua morte está apenas no relato de Alex Polari.
Zuzu Angel morreu buscando mostrar ao mundo a dor de perder um filho na tortura.

Chico Buaque na música em que fez em homenagem à amiga:

"Quem é essa mulher

Que canta sempre esse estribilho?
Só queria embalar meu filho
Que mora na escuridão do mar

Quem é essa mulher

Que canta sempre esse lamento?
Só queria lembrar o tormento
Que fez meu filho suspirar

Quem é essa mulher

Que canta sempre o mesmo arranjo?
Só queria agasalhar meu anjo
E deixar seu corpo descansar

Quem é essa mulher

Que canta como dobra um sino?
Queria cantar por meu menino
Que ele não pode mais cantar'

(Angélica - Composição: Miltinho/Chico Buarque)

Vanessa Gonçalves da Silva é jornalista formada na Universidade Estadual Paulista "Júlio de Mesquita Filho" (Unesp) e mestranda em História Social na Universidade de São Paulo (USP) onde realiza uma dissertação sobre o papel e a importância das mulheres na luta armada no Brasil (1964-1985).

Contato: vangoncalves@gmail.com




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