quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

Sobre reprovação, rebaixamento e o fracasso

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Sobre reprovação, rebaixamento e o fracasso:


É comum associar uma derrota ao final de um longo campeonato aos últimos jogos disputados. Não se percebe que a construção da vitória ou da derrota é resultante do cumulativo de treinos, jogos e de toda a dedicação, empenho e trabalho desenvolvidos ao longo do trajeto.


Do mesmo modo, as derrotas são dos outros ou resultantes de erros alheios, nunca dos meus, mesmo que eu de algum modo tenha participado e não tenha correspondido. Existe uma necessidade de transferir, de tirar de mim, de me tornar isento de responsabilidades. Assumir-se responsável exige maturidade, coragem e força. É uma necessidade que demonstra, inclusive, caráter e personalidade.


Em equipes esportivas, por exemplo, os treinadores são bestiais ou bestas, saindo do Olimpo para o Hades, ou do Céu para o Inferno se suas equipes perdem. Vejam que falamos de equipes, em relação as quais estes técnicos têm responsabilidades, mas o sentido coletivo do termo "equipe" ou "time" torna todos responsáveis pelos eventuais sucessos ou fracassos.


O rebaixamento de uma equipe ou uma reprovação escolar, envolve vários atores, passando pelos alunos, pais, professores e gestores no caso das escolas, assim como nos esportes pensamos em atletas, técnicos e dirigentes esportivos. Não é possível apontar o dedo na direção de apenas um elemento constitutivo de todo o processo. Ninguém vence ou perde sozinho!


Apontar o dedo na direção dos demais e não fazer a auto-crítica, examinando a própria responsabilidade em relação aos resultados não resolve os problemas, pelo contrário tende a criar tantos outros, em especial no que se refere aos relacionamentos dentro do grupo.


Encarar o rebaixamento ou a reprovação como o fim do mundo também não ajuda nem um pouco. O fracasso, o erro, as dificuldades e os problemas não são desejados, mas quando ocorrem nos permitem perceber que é preciso corrigir os rumos escolhidos, partir para novas iniciativas, tentar novamente, não esmorecer.


Se uma reprovação ou o qualquer outro tipo de insucesso acontecer em sua vida ou na de alguém que é muito próximo não deixe a emoção tomar conta e ocasionar atos impensados. Defenda seus interesses se considera uma injustiça aquilo que lhe aconteceu, utilize de seus direitos, recorra aos órgãos competentes, mas procure ser justo em sua análise e verifique até que ponto sua defesa está bem fundamentada, com argumentos sólidos, embasada em fatos que justifiquem sua articulação.


Não se faça de vítima das circunstâncias. Afinal de contas quando somos reprovados, rebaixados (no caso de equipes esportivas) ou quando sofremos um revés isso não acontece por conta de conspirações dos outros ou do mundo contra nós, há igualmente falhas nossas a serem consideradas.


Em duas ocasiões em minha graduação fiquei de "segunda época", ou seja, tive que fazer uma prova a mais, depois de encerrado o período letivo, pois não havia atingido a média necessária para fechar o ano. No primeiro ano isso aconteceu na disciplina Geografia Física e, no segundo ano, em História da Filosofia II. Vi situações análogas acontecerem com colegas do curso, que explodiam de raiva do professor e atribuíam a eles toda a responsabilidade, dizendo-se perseguidos e não admitindo sua parcela de responsabilidade, não reconhecendo que poderiam ter estudado mais, se preparado melhor para as provas...


Quando aconteceu comigo, apesar de ainda bem novo (tinha 18-19 anos), entendi que tinha falhado, que poderia ter feito mais. Claro que, do mesmo modo, percebi que os professores também poderiam ter ajudado ou realizado de melhor forma seu trabalho, no entanto, ao invés de culpá-los, assumi meus erros, estudei muito para as provas de "segunda época", realizei as avaliações e, consciente de minha participação e preparo, fiquei tranquilo quanto aos resultados, ou seja, sabia que seria aprovado.


Não desejo o insucesso ou o fracasso, o rebaixamento ou a reprovação para ninguém, mas por vezes temos que viver situações e acontecimentos em nossas vidas que são amargas, indesejadas. O melhor é constatar que não duram para sempre e que, apesar de duras lições, nos trazem amadurecimento e superação para que dias melhores estejam em nosso horizonte. 


Por vezes, diria até, que estes espinhos ou fracassos são necessários. Pode parecer estranho, não é mesmo? Mas há momentos em nossas vidas em que ainda não estamos prontos para vencer e que, por conta disso, faz-se necessário o tropeço para treinar, estudar ou se preparar da melhor maneira possível e, desse modo, estar verdadeiramente apto para chegar lá.


E, creia-me, olhando para história da humanidade, não há no mundo todo, em todos os tempos, um único vitorioso que não tenha, em algum momento, fracassado, passado por alguma reprovação ou vivenciado o dissabor de uma derrota. Levantar-se depois da queda, sacudir a poeira e dar a volta por cima após um insucesso qualquer tem um sentido e repercussão ainda maior... Que o digam tantos gigantes da ciência, esporte, política, letras, artes e tantas áreas de atuação humana que um dia foram rejeitados e que, anos depois, atingiram o sucesso que mereciam...


Por João Luís de Almeida Machado
Membro da Academia Caçapavense de Letras

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