Para a diretora, o objetivo é aliviar a cabeça dos 1006 alunos que a instituição
recebeu nesta terça-feira
Foto: Reinaldo Marques/Especial para Terra
Nada de pegar em caderno. A ordem é muita conversa, fazer desenho e brincar na quadra. Segundo a diretora da Escola Municipal Afonso Várzea, localizada próximo à favela de Nova Brasília, no Complexo do Alemão, Eliane Sampaio, o objetivo é aliviar a cabeça dos 1006 alunos que a instituição recebeu nesta terça-feira após os dias de medo e tensão que parecem ter acabado com o sucesso da operação da polícia.
"Imagina o quanto assustador pode ser para uma criança o barulho que um tanque desses faz ao subir o beco de uma favela", afirmou Eliane. Segundo ela, é preciso ter muito cuidado e muito diálogo para que as crianças assimilem tudo o que tem acontecido nos últimos dias. Por isso equipes de psicólogos e educadores estão visitando as casas do complexo para fazer uma avaliação do estado das crianças e fazê-los retornar às aulas.
Eliane conta que apesar de gratificante, o trabalho na comunidade sempre foi muito difícil. Segundo ela, que trabalha há 30 anos na região, o que antes era apenas um bairro pobre foi transformado em um local extremamente violento. "A gente foi ficando só. Os pais perderam os empregos e a região foi abandonada pelo estado", afirmou.
A diretora disse que a escola já conviveu com momentos de guerra. "Quando davam o sinal, a mandávamos os alunos todos para o corredor em busca de abrigo. Eles sabiam o que estava acontecendo", contou. Segundo ela, era preciso muita atenção para que os alunos não deixassem a escola. "Quando a gente percebia que estavam faltando, íamos atrás. Aqui tem uma rede de fofoca muito grande", disse. De acordo com a diretora o apoio das mães para manter as crianças na escola sempre foi essencial. "Não quero nunca um aluno nosso em capa de jornal. A família e a escola, unidos, podem evitar que isso aconteça", afirmou.
O Complexo do Alemão é atendido por 22 escolas como a dirigida por Eliane. Com a ocupação, foram anunciadas a ampliação e a reforma de pelo menos três outras. "Agora, como sempre foi, o mais importante é trabalho. Temos muito o que fazer", disse a diretora.
Violência
Os ataques tiveram início na tarde de domingo, dia 21, quando seis homens armados com fuzis incendiaram três veículos por volta das 13h na Linha Vermelha. Enquanto fugia, o grupo atacou um carro oficial do Comando da Aeronáutica (Comaer). Na terça-feira, todo efetivo policial do Rio foi colocado nas ruas para combater os ataques e foi pedido o apoio da Polícia Rodoviária Federal (PRF) para fiscalizar as estradas. Ao longo da semana, Marinha, Exército e Polícia Federal se juntaram às forças de segurança no combate à onda de violência que resultou em mais de 180 veículos incendiados.
Na quinta-feira, 200 policiais do Batalhão de Operações Especiais (Bope) tomaram a vila Cruzeiro, no Complexo da Penha. Alguns traficantes fugiram para o Complexo do Alemão, que foi cercado no sábado. Na manhã de domingo, as forças efetuaram a ocupação do Complexo do Alemão, praticamente sem resistência dos criminosos, segundo a Polícia Militar. Entre os presos, Zeu, um dos líderes do tráfico, condenado pela morte do jornalista Tim Lopes em 2002.
Desde o início dos ataques, pelo menos 39 pessoas morreram em confrontos no Rio de Janeiro e 181 veículos foram incendiados.
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