A atual ofensiva das forças de segurança contra o tráfico no Rio de Janeiro certamente trará consequências para o universo dos usuários e dependentes das drogas, segundo o psiquiatra Jairo Werner, professor das universidades Federal Fluminense (UFF) e do Estado do Rio de Janeiro (Uerj). Pelas leis do mercado, a droga tende a ficar mais cara, com a apreensão de toneladas de cocaína e maconha em centrais do tráfico, como as que funcionavam no Complexo do Alemão e na Vila Cruzeiro, desmanteladas no último fim de semana.
Com base na experiência no tratamento de jovens envolvidos com a droga, através de um serviço que mantém na UFF, Jairo Werner espera que haja uma procura maior pelo tratamento e mesmo uma inibição do consumo. "Acho que vamos ter um efeito positivo, principalmente naqueles que ainda não são dependentes, que consomem a droga 'só de onda' e que a gente espera que larguem o uso. Já para os dependentes, que têm síndrome de abstinência, eu recomendo que procurem uma ajuda terapêutica, porque essa é uma oportunidade para trabalhar isso", diz.
Werner acredita que prostituição e pequenos furtos venham a ser os crimes mais praticados pelos dependentes que se recusarem a buscar tratamento e não tiverem mais condição financeira de adquirir a droga. "Realmente, existe esse risco e, por isso, a gente apela para que eles busquem ajuda e alerta o Poder Público para a necessidade de criar meios para atender a essa clientela", adverte o psiquiatra.
"Não basta só invadir o morro. É preciso dar assistência a todos os que gravitam em torno do tráfico, o que vai desde as pessoas que estão na dependência química, como também nos que, direta ou indiretamente, vivem da droga", ressalta.
Autor de várias publicações sobre saúde e educação, no Brasil e no exterior, Jairo Werner diz temer que a sociedade veja a questão da droga apenas como uma luta contra os bandidos. "Quem alimenta o traficante é o usuário, por mais que as pessoas neguem esse argumento. É claro que não vamos condenar à prisão os consumidores de drogas, mas sem dúvida elas precisam tomar consciência e buscar tratamento".
Violência
Os ataques tiveram início na tarde de domingo, dia 21, quando seis homens armados com fuzis incendiaram três veículos por volta das 13h na Linha Vermelha. Enquanto fugia, o grupo atacou um carro oficial do Comando da Aeronáutica (Comaer). Na terça-feira, todo efetivo policial do Rio foi colocado nas ruas para combater os ataques e foi pedido o apoio da Polícia Rodoviária Federal (PRF) para fiscalizar as estradas. Ao longo da semana, Marinha, Exército e Polícia Federal se juntaram às forças de segurança no combate à onda de violência que resultou em mais de 180 veículos incendiados.
Na quinta-feira, 200 policiais do Batalhão de Operações Especiais (Bope) tomaram a vila Cruzeiro, no Complexo da Penha. Alguns traficantes fugiram para o Complexo do Alemão, que foi cercado no sábado. Na manhã de domingo, as forças efetuaram a ocupação do Complexo do Alemão, praticamente sem resistência dos criminosos, segundo a Polícia Militar. Entre os presos, Zeu, um dos líderes do tráfico, condenado pela morte do jornalista Tim Lopes em 2002.
Desde o início dos ataques, pelo menos 39 pessoas morreram em confrontos no Rio de Janeiro e 181 veículos foram incendiados.
O contato com o serviço de assistência terapêutica a dependentes de droga, mantido pela UFF, pode ser feito pelo telefone (21) 2629-9605.
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